O jornalismo brasileiro despediu-se nesta Sexta-Feira Santa, 29 de março, de um de seus mestres. Roberto Godoy, 75 anos, morreu em Campinas, deixando uma legião de fãs, amigos e admiradores. O jornalista tratava um câncer. Mesmo nas difíceis etapas do tratamento, jamais perdeu o otimismo e o bom humor, duas marcas incontestes de sua personalidade.
O sepultamento do jornalista acontece neste sábado, às 11h30, no Cemitério Flamboyant, em Campinas.
Prêmio Esso de Jornalismo em 1971, após reportagem investigativa que desvendou o projeto de construção de um computador na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Godoy ou Betão para os mais íntimos, era um parceiro de histórias, conversas longevas e conhecimento profundo sobre armamento de guerra. É devido a essa sua especialidade, raríssima na mídia, que o jornalista era considerado um dos maiores especialistas em Defesa e Armamento do Brasil.
Quem acompanhou a primeira guerra da história coberta pela imprensa em tempo real, nos anos 90, lembra de suas aparições na TV. Roberto Godoy era comentarista da Rede Globo e entrava ao vivo, nos telejornais da noite, principalmente, para comentar sobre o conflito no Golfo. O profissional voltaria, com assiduidade, a fazer intervenções sobre assuntos bélicos também nas outras guerras que vieram, sempre utilizando seu conhecimento sobre armas e estratégias.
Ex-diretor de redação do jornal O Estado de S.Paulo, onde, ultimamente ocupava a função de repórter especial, Godoy teve atuação marcante na imprensa de Campinas.
Ele assumiu a direção de jornalismo do jornal Correio Popular em 1993, imprimindo uma marca de modernidade e inovação junto à redação. É neste período que o jornal impresso campineiro viveu uma de suas fases mais exitosas, com grandes coberturas regionais e nacionais. Prêmios e reconhecimento foram o resultado desse investimento capitaneado por Betão.
Profissionais que trabalharam com ele relatam sua ambição por textos impecáveis e reportagens humanizadas. Contar histórias, ele sempre falava aos mais jovens, era um ofício que exigia empenho, mas sempre com simplicidade e sem firulas. Não eram incomuns suas broncas aos menos experientes, quando suas matérias traziam trechos rebuscados e excesso de adjetivos, este jornalista, inclusive.
Roberto Godoy era, por essência, um repórter. Sua visão 360 graus favorecia a que tivesse contato direto com os repórteres. Envolvia-se nas hitórias e sempre tinha um relato pessoal ou uma ideia para acrescentar.
Nos últimos anos, por conta da doença, Roberto Godoy manteve-se mais recluso. Mas, mesmo assim, encontrava com amigos e amigas, jornalistas que fizeram parte de sua história.
Um de seus últimos encontros registrados nas redes sociais ocorreu com profissionais que trabalharam com ele no Estadão e no Correio. O almoço foi, carinhosamente, registrado dessa forma pelo amigo José Francisco Pacóla: Dia de reencontrar velhos amigos e relembrar os bons tempos da sucursal Campinas do Estadão. Com Roberto Godoy, Fernanda, Marilena Furlanetto, Pedrinho Fávaro e o anfitrião Celso Falaschi.
Sua morte entristeceu amigos e colegas. Durante programa da Globonews, na noite deste sexta-feira, jornalistas como Eliane Catanhêde e Gerson Camarotti, expressaram solidariedade e sentimentos pela perda.
Dário Saadi
O prefeito de Campinas, Dário Saadi, lamentou a morte do jornalista campineiro Roberto Godoy. “Godoy era um amigo de longa data. À família, meus profundos sentimentos de pesar. Perde a imprensa brasileira com a morte desse brilhante profissional”.
Conheça a sua biografia
O jornalista Roberto Godoy foi um dos mais premiados jornalistas de sua geração. Nasceu em Campinas 1949 e começou a trabalhar cedo no Correio Popular. Ganhou em sequência prêmios jornalísticos do Centro das Indústrias (Ciesp Campinas), e também principal prêmio do jornalismo brasileiro, o Esso, com a reportagem “Nasce o primeiro computador da América Latina”, publicada no Correio e no Estadão.
Godoy chefiou a sucursal do Estadão em Campinas e escreveu dezenas de reportagens de destaque.
Muitas tratavam de avanços tecnológicos em diversas áreas: medicina, agricultura, energia, comunicação. Um texto claro, bem construído e cheio de informações convidava à leitura.
Um faro aguçado para encontrar notícias verdadeiramente importantes, sempre procurou se atualizar sobre os assuntos que escrevia e tinha muitas boas fontes. No final da década de 70 começava a despontar como um dos maiores repórteres de segurança, armas e guerras do Brasil e do mundo.
Na década de 90, deixa o Grupo Estado para dirigir o Correio Popular de Campinas.
Torna a colaborar com o Estadão em 1999 e em 2000 estava de volta ao corpo da redação do jornal da Capital.
Participou das coberturas, de modo remoto, de todas as guerras pelo mundo a partir dos anos 80: revoluções na América Central, Guerra das Malvinas, Guerra no Golfo, conflitos no Oriente Médio, na antiga União Soviética, etc. O último texto dele para o Estadão foi uma análise da ameaça do ditador Nicolás Maduro de entrar em guerra com a Guiana pelo Vale do Essequibo.
Na era digital, quando os jornais precisaram se adaptar, Godoy não se intimidou com a necessidade de buscar outros meios de divulgar informações.
Foi um dos primeiros a sentar-se na frente das câmeras da TV Estadão. Atualmente, fazia uma participação semanal, no “Estado de Alerta com Roberto Godoy”, que estreou em outubro de 2021. (com informações do Estadão)
Última entrevista ao Hora
O jornalista Roberto Godoy deu a sua última entrevista ao Hora Campinas no início do conflito Rússia-Ucrânia. O profissional foi entrevistado para avaliar o conflito, o poderio bélico de ambos os lados e o contexto geopolítico da guerra. Veja abaixo a reportagem:
Análise: Conflito longo abre espaço para guerrilhas, aponta especialista