Revitalizado com nova pintura da fachada histórica e dos muros que o cercam, o estádio Moisés Lucarelli completa 75 anos de sua inauguração nesta terça-feira (12). As melhorias externas, que também contaram com a urbanização da praça Francisco Ursaia e aplicação de nova massa asfáltica nas vias do entorno, em ação conjunta com a Prefeitura de Campinas, foram realizadas para a ocasião do Jubileu de Diamante. As obras fazem parte de uma série de reformas, incluindo a parte interna, que vem sendo feitas desde o ano passado, sob a gestão do presidente Marco Antônio Eberlin.
O Majestoso, como é carinhosamente conhecido, é a segunda casa dos torcedores pontepretanos desde o dia 12 de setembro de 1948, quando houve o jogo inaugural do estádio, com derrota da Macaca por 3 a 0 para o XV de Piracicaba. Curiosamente, esse adversário viria a se tornar a maior vítima da Ponte Preta dentro do Moisés Lucarelli: 32 vezes em 57 jogos. Na atual temporada, inclusive, as duas equipes disputaram uma vaga de acesso à elite estadual e a equipe alvinegra de Campinas levou a melhor, vencendo por 2 a 0 o jogo decisivo no Majestoso. A Macaca terminaria se sagrando campeã.
Ao todo, a Ponte Preta disputou 1.902 partidas no estádio Moisés Lucarelli, entre jogos oficiais e amistosos, com 1.014 vitórias, 507 empates e 381 derrotas, o que corresponde a um aproveitamento de 62,1%. Ao todo, foram 3.223 gols marcados (média de 1,6 por partida) e 1.806 sofridos (média de 0,94 por jogo).
A milésima vitória da Ponte no Majestoso foi conquistada no ano passado: 2 a 0 sobre o Bahia, com gols de Wallisson e Lucca, no dia 31 de agosto de 2022, pela Série B do Campeonato Brasileiro.
Jogador que mais vezes vestiu a camisa pontepretana e maior artilheiro do clube, com 155 gols em 581 jogos, o ex-meia Dicá também é o atleta que mais vezes atuou no Majestoso, com 248 partidas, e seu maior goleador, com 82 gols.
A história do estádio construído pelas mãos dos torcedores
Apesar da inauguração ter sido quase na virada para a década de 1950, a história do estádio Moisés Lucarelli começou ainda no fim dos anos 1930, quando os amigos pontepretanos Olímpio Dias Porto, José Cantúsio e Moysés Lucarelli se juntaram para uma vaquinha com o objetivo de comprar um terreno para o time do coração.
Com 50 contos de réis, eles adquiriram a antiga chácara Maranhão, no bairro Ponte Preta. Na época, havia apenas uma casinha simples no terreno, e ela ficava exatamente onde foi determinado que seria o centro do campo.
Negócio fechado em abril de 1944, foram necessários quase dois anos com serviços de terraplanagem só para nivelar o terreno, que tinha grandes desníveis e até pequenos córregos transpondo a área. O serviço foi executado com máquinas emprestadas pelo governo do Estado.
Com a terra arrumada, mas sem recursos para começar o sonho, o trio teve a ideia de convocar a nação pontepretana. Surgia, então, a famosa “Campanha do Tijolo”, que movimentou a cidade por quatro anos com doação de material de construção.
A Pedra Fundamental foi lançada em 13 de agosto de 1944. Os engenheiros responsáveis pelo projeto foram Alberto Jordano Ribeiro, Eduardo Badaró e Mário Ferraris.
Durante a semana, caminhões da Companhia Vieira ficavam parados na Rua Barão de Jaguara à espera de doações de material. Aos finais de semana, eram feitos mutirões. Torcedores e até jogadores trabalhavam na construção do estádio em uma saga que se tornaria marca registrada do clube.
O apelido “Majestoso” foi dado pelo jornalista Fernando Panattoni, que mantinha a coluna “Campinas Esportiva” no jornal “A Gazeta Esportiva”. A cidade de Campinas possuía apenas 140 mil habitantes na década de 40 e, como o estádio previa capacidade para 35 mil pessoas, Panattoni classificou o empreendimento como algo “majestoso”.
A inauguração oficial do estádio Moisés Lucarelli aconteceu no dia 12 de setembro de 1948, em partida que terminou com vitória do XV de Piracicaba por 3 a 0, pelo Campeonato Paulista.
A primeira vitória da Ponte Preta em seu estádio veio somente no dia 24 de outubro de 1948, e com autoridade: 5 a 1 sobre o Taubaté. Foram três gols de Gaspar, um de Armandinho e outro de Vicente.
Na época de sua inauguração, ainda sem as torres de iluminação e toda a parte frontal, o Majestoso era o estádio de futebol com a terceira maior capacidade de público do Brasil, perdendo apenas para o Pacaembu, em São Paulo, e o São Januário, no Rio de Janeiro.
Recordes de público
O recorde oficial de público do estádio Moisés Lucarelli foi registrado no dia 1º de fevereiro de 1978, quando 37.274 torcedores – dos quais 34.958 pagantes – assistiram à partida entre Ponte Preta e São Paulo, que terminou com vitória do time da capital paulista por 3 a 1, pelo Campeonato Brasileiro.
No entanto, é consenso que o estádio nunca recebeu tanta gente quanto no dia 16 de agosto de 1970, apenas cinco dias depois do aniversário de 70 anos da Ponte Preta.
Na ocasião, o Majestoso ficou pequeno para histórico duelo contra o Santos do Rei Pelé. Dois meses antes, o camisa 10 havia se sagrado tricampeão mundial pela Seleção Brasileira, no México.
“A Macaca disputava a liderança do Campeonato Paulista e cerca de 40 mil pessoas superlotaram o estádio. Havia gente sobre todas as coberturas e até mesmo no gramado. O público não foi divulgado porque as catracas foram arrombadas em meio ao tumulto para acesso ao estádio”, explica o jornalista e escritor pontepretano Stephan Campineiro, no livro “Majestoso 70 – O estádio construído pela torcida que tem um time”, lançado em 2018.
O histórico confronto terminou com vitória santista por 1 a 0, com gol do atacante Douglas, após jogada individual de Pelé.
(Com informações do site oficial da Ponte Preta e do livro “Majestoso 70 – O estádio construído pela torcida que tem um time”)