Outubro é um mês de recordações especiais para o médico e ex-jogador de basquete campineiro Marcel Ramon Ponikwar de Souza, de 65 anos. Com uma história importante e vitoriosa dentro das quadras, o ex-ala é o responsável pela cesta que garantiu a última medalha da Seleção Brasileira em uma competição internacional de grande expressão da modalidade na categoria masculina.
Há 44 anos, com apenas 21 anos de idade, Marcel de Souza anotou o ponto decisivo que definiu a apertada vitória do Brasil por 86 a 85 sobre a Itália, pela disputa do terceiro lugar do Campeonato Mundial de Basquete de 1978, realizado nas Filipinas, competição que terminou com a Iugoslávia se sagrando campeã após triunfo sobre a União Soviética na grande decisão.
Faltavam apenas três segundos para o estouro do cronômetro, e os italianos haviam acabado de marcar e assumir a liderança do placar, quando Marcel recebeu a bola na reposição pela linha de fundo e percorreu a quadra, saindo do garrafão de defesa até poucos passos à frente do círculo central, antes de saltar e arremessar de longa distância de maneira letal, garantindo a medalha de bronze para a equipe brasileira.
O jogo contra a Itália foi realizado no dia 14 de outubro de 1978, no Araneta Coliseum, em Quezon City. Marcel de Souza foi o cestinha daquela partida, com 22 pontos. Em outubro do ano seguinte, ainda bastante jovem, com 22 anos, Marcel atingiu o topo do mundo, não com a camisa verde e amarela da Seleção Brasileira, mas com o uniforme vermelho e branco do Esporte Clube Sírio, de São Paulo, em uma espetacular vitória na prorrogação por 100 a 98 sobre o Bosna Sarajevo, da antiga Iugoslávia, pela decisão do Campeonato Mundial Interclubes de Basquete de 1979, sediado no Brasil.
O histórico duelo aconteceu no dia 6 de outubro de 1979, em pleno Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Na ocasião, graças à união entre torcidas de basquete e futebol, as arquibancadas estavam lotadas e, ao apito final, houve uma monumental invasão de quadra para a comemoração do título junto com os jogadores. O Sírio é o único time brasileiro que detém o troféu conhecido como Copa William Jones, em alusão ao então secretário-geral da FIBA, Renato William Jones.
“A gente ficava alojado lá no Ibirapuera, então eu acordava às sete horas da manhã, pegava o carro e vinha para Jundiaí porque era época de prova na faculdade. Depois, voltava para São Paulo para jogar”, lembra Marcel, que conciliava treinos e jogos com a rotina de estudos e obrigações na Faculdade de Medicina de Jundiaí.
“Atrapalhou um pouco o desempenho, tive uma média de 23 pontos naquele campeonato, mas na época tínhamos que estudar e se formar porque o basquete ainda era semiprofissional. Se fosse hoje em dia, acredito que dificilmente eu faria Medicina”, conjectura Marcel.
O Dia do Médico é comemorado no Brasil nesta terça-feira (18), em homenagem a São Lucas, padroeiro dos médicos. O Dia do Basquete, por sua vez, foi comemorado no feriado nacional da última quarta-feira (12), data em que se celebra o Dia de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil.
“O Marcel escolheu talvez o pior curso que um atleta poderia escolher. Se ele tivesse tido dedicação exclusiva ao basquete, teria sido um jogador absolutamente indefinível, brilhante sob todos os aspectos, apesar de ter sido fora de série mesmo naquelas condições”, acredita o técnico Cláudio Mortari, que comandou Marcel tanto no Sírio quanto na Seleção Brasileira.
“Eu fico muito feliz pela vida profissional dele, mas lamento que não tenha jogado dentro de sua real capacidade, que poderia ter sido ainda muito mais ampla do que foi. Ele poderia ter alcançado degraus bem mais importantes”, acrescenta Mortari.
Todos os depoimentos presentes nesta reportagem foram concedidos ao documentário “Sírio Campeão – Carnaval no Ibirapuera”, disponível no YouTube.
Medicina e esporte andaram literalmente lado a lado na vida do campineiro Marcel de Souza, ex-jogador de basquete da Seleção Brasileira, que atualmente trabalha como radiologista e clínico-geral em Jundiaí.
O fim da década de 70, época em que eram companheiros de Sírio e Seleção Brasileira, marcou o início da parceria de sucesso de Marcel de Souza com o ícone Oscar Schmidt, considerado o maior jogador brasileiro de basquete de todos os tempos, maior cestinha da história dos Jogos Olímpicos, com 1.093 pontos – ao todo, foram 7.693 pontos com a camisa amarela. Marcel é o segundo maior cestinha da história da Seleção Brasileira, com 5.297 pontos em 392 jogos.
A dupla alcançaria uma das maiores glórias do basquete brasileiro no dia 23 de agosto de 1987, data em que o Brasil conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, com uma histórica vitória por 120 a 115 sobre o anfitrião Estados Unidos, naquela que representou a primeira derrota da história dos norte-americanos dentro de seus domínios. A façanha completou 35 anos em 2022.
Na época, a Seleção Brasileira era comandada pelo treinador Ary Vidal e a equipe também contava com o campineiro Maury de Souza, irmão mais novo de Marcel de Souza, com seis anos de diferença. Emoção em dobro!
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Ao todo, entre 1978 e 1994, Marcel de Souza disputou cinco edições de Mundial e quatro de Jogos Olímpicos, das quais seis ao lado do irmão caçula Maury de Souza, que é formado em Odontologia, assim como seus pais. Com história nas quadras de Campinas nos anos 40 e 50, Ramon de Souza, o Romão, e Circê Loreto Ponikwar de Souza, conhecida como “Loira”, integraram a primeira turma do curso de Odontologia da PUC-Campinas, em 1949.
Nascido no dia 4 de dezembro de 1956, Marcel de Souza defendeu a Seleção Brasileira de Basquete durante quase 20 anos. Ele estreou em 1973 e se aposentou das quadras em 1994. Desde então, passou a exercer a profissão de médico, trabalhando atualmente como radiologista e clínico-geral em Jundiaí, cidade onde reside com a família.
Com a chegada da pandemia de Covid-19, no início de 2020, Marcel não atuou na linha de frente do combate ao coronavírus, mas realizou atendimentos virtuais gratuitos para tirar dúvidas de pacientes com sintomas da doença.