Realizado desde 1912, o Dérbi entre Guarani e Ponte Preta é recheado de histórias memoráveis e personagens que marcaram época nas duas equipes. Neste século, os dois clubes se enfrentaram em 28 oportunidades e, em duas dessas partidas, os meias Medina e Caíque se tornaram heróis do Bugre.
Autor de dois gols na vitória por 3 a 1 do Alviverde sobre a Macaca, no dia 29 de abril de 2012, Luiz Carlos Medina, popularmente conhecido apenas como Medina, saiu do banco de reservas para substituir o ídolo Fumagalli, lesionado, e levou o time na época comandado por Vadão até a final do Campeonato Paulista.
Nove anos depois, o jogador conta em detalhes as dificuldades do início da passagem pelo futebol campineiro, o momento que foi relacionado para o Dérbi e não cansa de lembrar a emoção que viveu naquela noite no Brinco de Ouro da Princesa.
“Nos jogos anteriores ao Dérbi eu não tinha nem sido relacionado. Eu fui um dos últimos a chegar no elenco e, quando eu cheguei, pude atuar apenas em uma partida na Copa do Brasil e depois no jogo contra o Mirassol como titular. Só que nessa partida, acabei lesionado e voltei só nas finais (do Paulistão)”, relembra Medina.
“Nas quartas de final contra o Palmeiras, eu fui relacionado, mas naquela época ainda tinha o corte e acabei cortado no vestiário. Aí na semifinal (diante da Ponte Preta), fui relacionado de novo, mas também não tinha expectativa de poder jogar. Só que nesse jogo eu fui para o banco de reservas e, com a lesão do Fumagalli, o Vadão pediu para eu aquecer junto com outro jogador chamado Thiaguinho. Acabou que eu entrei e pude ajudar a fazer os dois gols que deram a classificação para a final do Campeonato Paulista”, completa o jogador.
Experiente no futebol, atualmente com 31 anos, Medina considera que essa atuação foi a mais importante da sua carreira e relembra o momento de fé antes de entrar em campo aos 28 minutos do primeiro tempo.
“Eu acho que essa, por ser uma semifinal, foi a mais importante pois pude ser protagonista. Em Campinas o clássico tem uma rivalidade muito grande e fazer dois gols com a camisa do Guarani foi muito importante. No momento que o Vadão me chamou para entrar, eu até tinha uma oração. Aí eu falei, ‘Deus é hoje? É hoje ou não?’ Não era fácil substituir o Fumagalli e, se desse tudo errado, a culpa seria de quem entrou no lugar do Fumagalli. Então, eu lembro que fiz o primeiro gol e acabei até chorando na comemoração”, destaca.
Reverenciado pelos torcedores alviverdes, Medina garante que sua vida mudou após esse Dérbi e conta que não esperava tanta idolatria. O jogador, na época com 22 anos, lembra que antes de chegar a Campinas não tinha noção do representava o clássico local e agradece com carinho o reconhecimento que recebe até hoje dos torcedores bugrinos dentro e fora da cidade.
“Moro em Campinas e sou reconhecido até hoje pelos torcedores quando estou na rua. Torcedores lembram, fazem brincadeiras e com certeza mudou a minha vida. O Guarani é uma equipe grande e depois desse jogo, eu pude ser conhecido não só aqui em São Paulo, mas também no Brasil inteiro. Abriu portas para mim no futebol brasileiro”, enfatiza.
Vitória fora de casa e acesso para a Série A
Autor do gol da vitória do Guarani por 1 a 0 sobre a Ponte Preta, no dia 20 de junho de 2009, o meia Caíque também entrou para a história do Dérbi e é o responsável pelo último triunfo alviverde fora de casa até o momento. Atualmente com 34 anos, o atleta relembra os momentos que viveu há 12 anos no triunfo fora de casa.
“Aquele dia foi muito bom e eu guardo várias lembranças. O gol eu fui comemorar com a torcida, fui no alambrado e parecia até que aquele lado da arquibancada ia cair. Eu falo e é emocionante até hoje. Quando estávamos voltando para o Brinco, a galera estava em cima do ônibus. Foi uma festa que parecia que a gente tinha subido para a Série A. Foi muito bom e a torcida do Guarani é muito fanática”, elogia Caíque.
Caíque destaca que a equipe estava confiante em sair vitoriosa mesmo fora do Brinco de Ouro. O jogador também detalha o que passou pela cabeça no momento que arriscou chute de fora da área para balançar as redes e garantir a vitória.
“O time tinha cinco vitórias e um empate nos seis primeiros jogos e estávamos muito tranquilos e confiantes. Eu tinha feito três gols em cinco jogos e Deus me abençoou com aquele chute. Quando peguei na bola, eu vi que era gol e já saí para comemorar. Ficou marcado na história e todo Dérbi que vai acontecer lá no Moisés (Lucarelli) o pessoal lembra de mim” ressalta Caíque.
O meia enfatiza que a vitória no Dérbi foi fundamental na arrancada que levou o Guarani de volta a Série A do Campeonato Brasileiro e agradece a torcida pelo apoio durante toda a campanha. “Com certeza ganhando um Dérbi você fica mais empolgado. A torcida veio com a gente e foi uma arrancada muito boa. Ficamos 38 rodadas no G-4 e só perdemos o título para o Vasco. Então para a gente foi como um título. Aquele jogo foi a arrancada para conseguir o acesso”, garante.
Caíque conta que a passagem pelo Guarani representa uma das melhores sensações da vida, considera que esse foi seu momento mais feliz no futebol brasileiro, não esquece do torcedor e relembra até a música cantada pelos apaixonados pelo Alviverde.
“Em relação a números de gols e assistências, vivi um momento melhor fora do país, mas no Guarani foi uma das sensações mais incríveis da minha vida. Sempre que entrava em campo, a torcida cantava o olê-lê, olá-lá, o Caíque vem aí e o bicho vai pegar. Para mim tudo isso foi muito feliz e no Brasil não se compara”, finaliza o jogador com passagem pelo Gyeongnam e Ulsan Hyundai da Coréia do Sul, além do Chengdu Blades, da China.