As restrições de circulação e de funcionamento do comércio em todo o País por conta da pandemia no novo coronavírus têm assolado a economia, aumentado o desemprego e afetado a renda de grande parte da população. As pessoas das camadas mais pobres são justamente as mais afetadas. Pesquisa realizada pela Acordo Certo, empresa de renegociação de dívidas, revela que 70% dos consumidores no País têm preocupação com os gastos fixos mensais e se vão conseguir o sustento da família. O cenário se repete em Campinas.
O levantamento revela ainda que as preocupações se dividem entre o medo de não conseguir prover o básico (35%), não conseguir pagar as dívidas (34%) e ficar com o nome negativado (34%). As dívidas também têm impactado diretamente a saúde mental e emocional dos brasileiros. Sete em cada 10 pessoas relatam que tiveram ou ainda têm alterações de humor (72%) ou sono (71%), além de ansiedade (67%) e baixa produtividade nas tarefas do dia a dia (62%).
Uma das pessoas que têm passado por isso é a auxiliar de limpeza Maria do Carmo Mendes da Silva, de 38 anos, de Campinas. Ela atuava em uma empresa de limpeza terceirizada que prestava serviços para um instituto educacional. “Perdi o emprego porque reduziu o quadro por causa da pandemia. De 18 ficaram só 11. Está muito difícil”, diz.
Desde então, ela tem mantido a casa com as parcelas do seguro-desemprego. “Fiquei no seguro. Falta ainda mais uma parcela que eu vou receber nesse mês, mas é a última. Não sei o que vou fazer”, admite.
Maria chegou a fazer bico de limpeza em bar, mas com o aumento das restrições, nem isso é possível mais. “Todo lugar que eu mando currículo só falam que não vão fichar (contratar) por causa da pandemia, que não tem vaga. Tenho muito medo de não arrumar emprego, de não conseguir sustentar minha casa”, afirma.
“Tenho muito medo de ficar com o nome sujo, de não conseguir pagar as contas e conheço muita gente que está assim”, diz a auxiliar de limpeza desempregada Maria do Carmo Mendes da Silva
Ela vive com uma filha de 22 anos, que trabalha como atendente de call-center e recebe um salário mínimo, outra de 15 anos e a caçula de um ano e meio. Também acolheu a mãe, que perdeu a renda e por isso não tem mais como pagar aluguel. “Minhas contas fixas são água, luz, internet, cartão de crédito e fraldas. Tenho muito medo de ficar com o nome sujo, de não conseguir pagar as contas e conheço muita gente que está assim. Não sabe o que vão fazer da vida. Ao menos eu não pago aluguel, mas tenho uma amiga que paga e ela não sabe o que vai fazer”, conta.
Uma das reclamações frequentes é o aumento dos preços. “Tudo muito caro, gás, arroz, feijão, carne, tudo. Água e luz também subiram muito. No mês que vem eu não tenho tábua de salvação. Depois da última parcela não sei o que vou fazer da vida porque não tem proposta, não tem emprego e as contas chegam, e aí? É uma incerteza”, finaliza.
Ainda de acordo com o levantamento, contas de luz (71%), compras de mercado (65%), gás (62%), água (56%) e despesas médicas (42%) foram os gastos que mais tiveram aumento para os consumidores durante quase um ano de pandemia. Somado ao aumento das despesas está o endividamento das contas, liderado pelo cartão de crédito (43%), negociação de dívidas (29%) e parcelamento de loja (26%). Além disso, empréstimo (23%), luz (19%), telefone (15%) e água (14%) aparecem no ranking.
Silvia Pereira, de 44 anos, moradora de Campinas, também sente o peso da atual situação. Ela mora com o filho de 13 anos e está desempregada. “Eu fazia trabalhos em eventos, como aniversários e festas de casamentos. Fritava salgados, ajudava a servir, fazia tudo. Mas com a pandemia tudo ficou parado. Fiquei sem trabalho e sem renda. Fui trabalhar na cozinha de um hotel meses atrás, mas com a piora da pandemia, faz quase dois meses que fiquei sem emprego de novo. O medo é o dinheiro acabar e não conseguir pagar as contas do dia a dia e voltar a me endividar”, diz.
Situação
A Acordo Certo, por meio de facilitação na renegociação de dívidas com mais de 30 empresas parceiras, encerrou 2020 com mais de 4 milhões de novos acordos, um crescimento de 240% em relação a 2019. Justamente por conta do cenário atual de incertezas e queda na renda, a fintech aponta que é importante ter empatia e acolhimento no tratamento das pessoas, além de conceder descontos nas negociações. “Sabemos que diante do momento é ainda mais difícil falar sobre o assunto, mas acreditamos que com empatia e conhecimento, as vidas de muitas pessoas serão transformadas”, afirma Thales Becker, CMO (Chief Marketing Officer) da Acordo Certo.
“O ideal é manter a calma, anotar todos os débitos e negociar os melhores descontos e condições”, diz Thales Becker
Segundo ele, diante da atual situação é primordial manter a calma e negociar. “Entendemos que o primeiro passo para sair do vermelho é organizar as finanças domésticas e se planejar para zerar as dívidas, nem que seja aos poucos. O ideal é manter a calma, anotar todos os débitos e negociar os melhores descontos e condições de pagamento. Com isso é possível brecar o endividamento, realizar acordos com um bom desconto, de uma forma que caiba dentro do orçamento mensal”, explica Thales.