“E Campinas leva um balaio de gols…”. A segunda página do caderno de Esportes da Folha de S. Paulo, em sua edição do dia 9 de fevereiro de 1995, trazia em destaque matéria sobre aquela que talvez seja até hoje a pior noite da história do futebol campineiro.
“Os cinco que o Guarani tomou, mais os seis da Ponte Preta, fazem da cidade a capital da goleada. Contra!”, rotulava a linha-fina, em referência às acachapantes derrotas do Bugre para o Palmeiras, por 5 a 0, e da Macaca para o XV de Piracicaba, por 6 a 0, pela terceira rodada do Campeonato Paulista.
Até hoje, aquela é a maior derrota sofrida pela Ponte Preta dentro do Majestoso, ao lado de outra goleada por 6 a 0, essa para o Corinthians, em um amistoso disputado no dia 8 de dezembro de 1948, apenas três meses depois do jogo de inauguração do estádio Moisés Lucarelli, que terminou com vitória por 3 a 0 do XV de Piracicaba, mesmo placar necessário agora para levar a decisão do acesso aos pênaltis.
“E o glorioso XV de Piracicaba, hein? Enfiou meia dúzia na Ponte Preta, sem medo de ser feliz. Se, além dos três pontos por vitória, um triunfo por mais de três gols de diferença rendesse mais um pontinho de bonificação, o Paulistão, desde ontem à noite, estaria mais emocionante, não é mesmo?”, brincava o autor do texto, o jornalista Matinas Suzuki Jr., então editor-executivo da Folha.
No fim das contas, apesar da “generosa” companhia de seu maior rival em passar vergonha, a Ponte Preta conseguiu se sair pior na fita, já que levou uma goleada superior de uma equipe do interior recém-promovida e, para piorar, diante de sua própria torcida, enquanto o Guarani havia sido atropelado pelo então atual campeão paulista, jogando na capital. Aí estava a grande diferença. A título de curiosidade, o XV de Piracicaba havia conquistado o acesso à elite estadual em 1994, sob o comando do técnico Hélio dos Anjos, atual treinador da Ponte Preta.
“Desde o final dos anos 50, quando enfrentava o Santos de Pelé, a Ponte Preta não sofria uma goleada tão grande. Bem arrumado taticamente, o time de Piracicaba explorou bem os contra-ataques, com Júlio César organizando bem as jogadas no meio-de-campo e Cláudio Moura atuando bem no ataque. No fim do primeiro tempo, o XV já vencia por 4 a 0. No segundo tempo, fez mais dois gols e depois procurou se poupar”, relatou a reportagem do Estado de S. Paulo.
Aquele histórico jogo terminou com hat-trick do atacante Cláudio Moura, além de dois gols do meia Júlio César e outro de Carlos Alberto. O elástico e surpreendente resultado levou o XV de Piracicaba à liderança do campeonato, que terminaria vencido pelo Corinthians.
“Após a partida, o técnico Jair Picerni procurou a diretoria da Ponte Preta para pedir a contratação urgente de reforços e evitar o risco de rebaixamento”, informou o Estadão, ao fim da matéria. Mas não adiantou de nada. Logo no jogo seguinte, Picerni não resistiu no cargo e caiu após mais uma goleada sofrida pela equipe alvinegra, desta vez por 5 a 0 para o Corinthians, no Parque São Jorge.
Naquele mesmo campeonato, a Macaca ainda levou 4 a 1 do Santos e do São Paulo, em duelos disputados na Vila Belmiro e no Morumbi, respectivamente, além de tomar 3 a 0 do Rio Branco e do Palmeiras, em jogos realizados no Majestoso. Uma campanha terrível que só poderia terminar como terminou: rebaixamento à Série A2, curiosamente ao lado do próprio XV de Piracicaba e também do Bragantino, campeão paulista em 1990.
28 anos depois…
Para sair de campo com o acesso à Série A1 de 2024, o XV de Piracicaba precisará fazer pelo menos metade do serviço de 28 anos atrás, naquela fatídica noite de 8 de fevereiro de 1995, quando enfiou 6 a 0 na Ponte Preta em pleno estádio Moisés Lucarelli, mesmo palco do duelo deste sábado (1º), às 18h30, valendo o retorno à elite estadual, pelo jogo de volta das semifinais da Série A2 do Campeonato Paulista. A primeira partida, disputada no último sábado (25), no estádio Barão de Serra Negra, em Piracicaba, terminou com vitória pontepretana por 3 a 0.
FICHA TÉCNICA:
Ponte Preta (0): André Dias; Gringo, César, Marcão, Paulo César; Júlio César, Dionísio, Claudinho e Ricardo Miranda (Everaldo); Tomy e Barrinha. Técnico: Jair Picerni.
XV de Piracicaba (6): Anselmo (Marcos); Vagner, Biluca (Alberto), Andrei e Zinho; Doriva, Alex, Carlos Alberto e Júlio César (Alexandre); Celinho e Cláudio Moura (Marcos Nange). Técnico: Rubens Minelli.
Data: 8 de fevereiro de 1995 (quarta-feira).
Gols: Cláudio Moura, aos 19′ e aos 38′ do 1º tempo, e aos 27′ do 2º tempo; Júlio César, aos 21′ e 36′ do 1º tempo; e Carlos Alberto, aos 8′ do 2º tempo.
Local: Estádio Moisés Lucarelli, Campinas.
Público: 1.497 torcedores.
Renda: R$ 8.739,00.
Juiz: Silas Santana.