A negligência e o abandono são as principais formas de violência sofridas pelos idosos que vivem em Campinas, segundo conclusão de uma pesquisa de doutorado que acaba de ser desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp.
A pesquisa avaliou 1.217 casos registrados ao longo de 11 anos pelo Sisnov – o Sistema de Notificação de Violência da Prefeitura de Campinas – entre 2009 a 2019. Concluiu que 33% dos idosos agredidos foram vítimas de negligência e abandono.
A violência psicológica, segundo a pesquisa, atingiu 24,9% dos idosos e 20,2% deles reportaram casos de agressão física. Por fim, 12,8% foram vítimas de violência financeira, segundo os dados do Sisnov compilados na pesquisa.
As maiores vítimas dessa violência são mulheres, que repesentam 69,5% do total. Em grande parte das vezes, viúvas e com pouca escolaridade, aponta o doutor em gerantologia, Emmanuel Lopes, autor da pesquisa.
O levantamento concluiu ainda que o lar é um ambiente pouco seguro para os idosos, já que em 92,9% dos casos, os episódios de violência foram registrados em casa. Em cerca de 56% dos casos, os autores das agressões são os filhos.
A professora Maria José D’Elboux – orientadora do trabalho – avalia que os dados são ainda mais preocupantes, por conta da subnotificação dos casos. “Muitas vezes, as mulheres evitam denunciar, temendo que isso possa acarretar a prisão dos seus filhos, por exemplo”, avalia a professora.
Um dos fatores que contribuem de forma significativa para essa violência, segundo Emmanuel Lopes, é o fato de a função de cuidador de idosos no Brasil ser feito, em grande parte, por pessoas que não têm qualquer qualificação para isso e não conhecem as implicações do envelhecimento.
“Esse processo de violência contra o idoso é muito complexo e multifatorial”, diz Lopes. “A gente tem as próprias alterações, que são provocadas pelo envelhecimento e vai levar esse idoso a exigir uma demanda maior de cuidados”, continua ele.
“A gente sabe que no Brasil a maioria dos cuidados são cuidadores informais em muitas vezes são os próprios familiares que cuidam desses idosos. E a maioria desses cuidadores têm outras tarefas, já trabalham também. Além disso, a maioria não tem conhecimento do processo de envelhecimento, das alterações físicas e psicológicas que são acarretadas ao longo dos anos”, diz ele. (Com informações da Assessoria de Imprensa da Unicamp)