Áudios divulgados pelo Ministério Público (MP), aos quais o Hora Campinas teve acesso, revelam pedidos de propina por parte do presidente da Câmara de Campinas, Zé Carlos (PSB), a prestador de serviço. O MP investiga denúncia de corrupção passiva na Casa.
Em posse dos áudios, vereadores reforçam o pedido de afastamento de Zé Carlos e a instauração de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI). A situação de Zé Carlos no comando da Casa está sob risco.
Os áudios divulgados pelo MP têm quase quatro horas de duração e revelam negociação de Zé Carlos e do advogado Rafael Creato, subsecretário de Relações Institucionais da Câmara, com prestadores. As conversas foram gravadas em 2021.
Em um dos áudios, a conversa é com o empresário responsável pelo serviço da TV Câmara de Campinas a respeito de renovação de contrato. “Feche a porta que a conversa vai ser dura”, diz Zé Carlos em um dos trechos. “O contrato da TV Câmara está muito caro. Cinco milhões….Temos quatro meses para fazer a nova licitação. Não vou fazer se você me ajudar. O que podemos melhorar? Temos que dar uma enxugada”, continua o vereador.
Em outro trecho, Zé Carlos cobra o empresário “…Estou dependendo da tua resposta para ver o que a gente faz. Você esqueceu da última conversa?…Se quiser deixar o dinheiro…Estou aguardando você pra gente definir…não tem nada gravando aí, né?”.
Rafael Creato também aparece nos áudios. Na conversa com o mesmo prestador, a negociação segue assim: “então tá na mão do presidente, o que ele precisa decidir é isso. Se ele vai fazer uma nova licitação ou vai decidir pela prorrogação…maio, né? Então, ele queria saber qual seria a contraprestação para manter, o que a empresa pode fazer para ajudar”.
‘QUANTO SE ESTÁ PAGANDO PELO CIMENTO?’
A Câmara de Campinas reagiu com indignação aos áudios. Um grupo defende o afastamento imediato de Zé Carlos e a instauração de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) para investigar se há indícios de corrupção em contratos com outras empresas.
“É estranho, por exemplo, a reforma pela qual passa a sede da Câmara”, questiona Nelson Hossri (PSD), mostrando interesse em saber detalhes das negociações envolvendo a prestação do serviço. “Há um bom tempo que a reforma acontece e não vemos uma movimentação de pedreiros. Quanto se está pagando pelo cimento? É importante verificarmos esse e outros contratos para darmos uma satisfação à sociedade.”, diz Hossri.
A reforma no prédio no bairro Ponte Preta teve início no final de abril e a previsão é de que o trabalho seja concluído entre outubro e novembro desse ano. Durante as obras, as sessões estão acontecendo no Teatro Bento Quirino, no Centro.
ARTICULAÇÕES
Hossri e Marcelo Silva (PSD), autor das denúncias ao MP, são os principais articuladores da CEI. Cinco dias depois da investigação ser revelada, com a realização de busca e apreensão na Câmara e em endereços ligados a Zé Carlos por parte do Gaeco no dia 17 de agosto, Silva fez um ostensivo pronunciamento na tribuna. Ele defendeu de forma veemente o engajamento de seus colegas na investigação e pediu o imediato afastamento de Zé Carlos da presidência. Sem sucesso na ocasião, Silva se vê agora fortalecido com a divulgação dos áudios.
“Há um pedido explícito de propina”, diz o vereador. “Se não obtivermos 11 assinaturas, a Casa estará compactuando com o crime”, acredita, indicando o número de assinaturas necessárias para a instauração de uma CEI. “Agora não existe esquerda ou direita”, completa Hossri. “O que existe é escândalo grave”, classifica. “Se a Câmara não se posicionar a favor de uma investigação, pode fechar as portas.”
A defesa de Zé Carlos e Creato afirma que eles só irão se manifestar nos autos da investigação.
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