Além de ser representado pela cor vermelha como forma de incentivar as doações de sangue, o mês de junho também é colorido de laranja no calendário da Saúde, a fim de reforçar a importância do diagnóstico precoce da leucemia, essa doença maligna e implacável que tirou a vida de mais de 7 mil pessoas no Brasil somente no ano passado, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Até 2022, a tendência é que pelo menos 10 mil novos casos de câncer hematológico devem ser registrados no país, sendo a maior incidência no público masculino, com quantidade estimada de 5.920 homens e 4.890 mulheres.
Conforme explica a médica hematologista e gestora do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, Maria do Carmo Favarin, a leucemia é provocada a partir de uma mutação genética que transforma a célula sanguínea em uma célula cancerígena, que passa então a se multiplicar rapidamente, destruindo e ocupando o lugar das células saudáveis. “A leucemia é uma doença que começa na medula óssea, onde são produzidas as células sanguíneas e onde acontece a produção dos glóbulos vermelhos e brancos, além das plaquetas. O aumento de células defeituosas na medula é responsável pela redução de glóbulos vermelhos, provocando anemia e sintomas comuns como cansaço, falta de ar, dor de cabeça e batimentos cardíacos acelerados. Com a queda na produção de glóbulos brancos, a imunidade baixa e expõe o organismo às infecções, enquanto a redução das plaquetas causa sangramentos e manchas roxas na pele”, detalha.
Ao todo, existem quatro tipos de leucemias: a mieloide aguda (LMA), a mieloide crônica (LMC), a linfoide aguda (LLA) e a linfoide crônica (LLC). Sem causas específicas comprovadas, a doença impossibilita uma orientação sobre possíveis métodos de prevenção.
Para a detecção precoce do câncer, é primordial a realização de exames clínicos e laboratoriais regulares, conforme estimula a campanha Junho Laranja, aumentando as chances de diagnosticar o tumor ainda em fase inicial.
“A leucemia não escolhe sexo nem idade, por isso é tão importante priorizar uma rotina de cuidados contínuos com a saúde. Quanto antes diagnosticados os casos, maiores as chances de sucesso do tratamento”, alerta Favarin.
Embora acometa todas as faixas etárias, a leucemia linfoide aguda, em específico, tem maior incidência na infância e juventude, atingindo 33 a cada 100 pacientes até 18 anos, segundo dados do Inca. Entre milhares de jovens que sofrem de leucemia linfoide aguda está a paciente Fernanda Manzutti, de 11 anos, que mora em Jundiaí e está internada no hospital Oncologia D’Or, em São Paulo. Diagnosticada com a doença em fevereiro do ano passado, ela precisou se afastar da escola, das atividades físicas e do convívio social para iniciar o tratamento. Durante a quimioterapia, em novembro, surgiu a necessidade de transplante de medula óssea, mas não foi possível localizar um doador compatível no Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome).
Para se candidatar como doador voluntário de medula óssea, é preciso ter entre 18 e 55 anos, apresentar bom estado geral de saúde e realizar cadastro em um dos 106 hemocentros existentes no Brasil. Desse total, 14 pertencem ao estado de São Paulo, entre eles o Centro de Hematologia e Hemoterapia da Unicamp, o Hemocentro da Unicamp, em Campinas.
“Após preencher uma ficha com informações pessoais, são retirados apenas 10 ml do sangue do candidato a doador a fim de fazer o exame de HLA (histocompatibilidade), que cruza com os dados de pacientes à espera do transplante. A doação de medula óssea só acontece efetivamente quando é localizado um paciente que apresente compatibilidade, o que pode demorar meses e até anos para acontecer devido à dificuldade em encontrar perfis que se encaixem devidamente”, afirma o onco-hematologista Jacques Tabacof, do Grupo Oncoclínicas.
“Quando esse cruzamento de dados é positivo, o doador precisa passar por um procedimento de baixo risco. Dependendo de alguns fatores, essa doação pode ser realizada pelo sangue periférico através de um processo chamado de citaférese ou pela coleta da medula óssea nas cristas dos ossos ilíacos, sob anestesia geral. É um processo feito em centro cirúrgico que requer internação de 24 horas”, descreve Tabacof.
Salve Fernandinha
Neste momento, com o estado da leucemia agravado, Fernanda Manzutti não está mais apta a receber o transplante de medula óssea, restando como única alternativa um tratamento revolucionário de terapia genética conhecido como Car-T Cell, realizado somente nos Estados Unidos e na Europa. “Houve uma piora nos exames clínicos que são feitos diariamente. A doença está progredindo muito rápido. Os médicos iam tentar segurar com uma quimioterapia oral, mais amena, normalmente usada na fase de manutenção até a terapia Car-T Cell. No entanto, fomos comunicados que eles vão adotar outro protocolo com o intuito de diminuir a carga tumoral para controlar a doença até que a gente consiga os recursos e o centro definitivo que vai atender a Fernanda”, relata a mãe da paciente, Melissa Manzutti.
Segundo Jacques Tabacof, do Grupo Oncoclínicas, essa nova opção de tratamento utiliza células do próprio paciente, geneticamente modificadas em laboratório, para combater o câncer. “No caso dos tumores hematológicos, a terapia celular CAR-T Cell vem conquistando grande espaço, um avanço que se mostra animador quando nos referimos a leucemias e linfomas, em especial. A estratégia consiste em habilitar células de defesa do corpo (linfócitos T) com receptores capazes de reconhecer o tumor e atacá-lo de forma contínua e específica. O CAR-T cell é uma combinação de várias tecnologias, envolvendo a terapia gênica, imunoterapia e terapia celular”, define.
“Nos Estados Unidos e na Europa, já existem produtos comercialmente disponíveis para leucemia linfoide aguda, enquanto o Brasil ainda estuda uma autorização que regulamenta o uso desse tipo de medicação”, acrescenta Tabacof.
Há cerca de duas semanas, a família de Fernanda Manzutti criou uma vaquinha virtual com o objetivo de arrecadar R$ 8 milhões para cobrir as despesas do tratamento Car-T Cell e da viagem para os Estados Unidos, onde será realizado o procedimento. A campanha, que recebeu o nome “Salve a Fernandinha”, já contou com mais de 8 mil apoiadores e arrecadou cerca de R$ 800 mil. Somando outras formas de contribuição, a campanha já acumulou quase R$ 4 milhões, valor que corresponde à metade da meta. Além disso, o perfil criado no Instagram, com atualizações diárias, soma mais de 30 mil seguidores.
Os expressivos números obtidos em tão pouco tempo se devem em grande parte ao apoio de personalidades como as atrizes Carolina Dieckmann, Deborah Secco e Ingrid Guimarães, além dos cantores Daniel, Fabio Júnior e Zezé Di Camargo. Também se manifestaram nas redes sociais a apresentadora Xuxa, o ex-jogador de futebol Kaká, o treinador de vôlei Bernardinho e a grande vencedora do último Big Brother Brasil, a maquiadora Juliette Freire. Com a comoção na internet, a expectativa é que a campanha alcance rapidamente mais celebridades e influenciadores digitais.
Afinal, além de uma batalha pela vida, trata-se de uma luta contra o tempo.
“O intuito da campanha é fazer com que a história chegue ao maior número possível de pessoas. Se cada um doar, mesmo que pouco, teremos uma chance maior de conseguir o valor em menos tempo. Meu medo é que minha filha, apesar de ser muito forte, não aguente mais a toxicidade da quimioterapia. Percebo que o corpo dela está começando a fraquejar, então a gente tem muita urgência. Peço muito a ajuda de todos para que a Fernanda tenha uma última chance”, convoca Melissa Manzutti.
Para doar qualquer quantia, seguem abaixo os dados bancários:
Caixa Econômica Federal
Agência: 0316
Poupança: 0846775452-2
Nome: Fernanda Manzutti da Rocha
Bradesco
Agência: 3642
Conta Corrente: 4736-8
Nome: Melissa Manzutti de Freitas
Caixa Econômica Federal
Pix: 11 97540-9718
Nome: Melissa Manzutti de Freitas