O ponto de convergência entre a Rua Conceição e a Avenida Irmã Serafina, na Praça Carlos Gomes, é uma área histórica em Campinas. Foi nesse local que um grupo de jovens operários e estudantes se reuniu para a fundação do Guarani Futebol Clube.
Nesta terça-feira, dia 2 de abril, data em que o clube completa 113 anos de existência, a celebração acontece exatamente naquele espaço, onde o chamado “Marco Zero” será reinaugurado, com a presença de torcedores e do prefeito de Campinas, Dário Saadi, a partir do meio-dia. O símbolo substitui o antigo, que foi depredado.
A marco anterior havia sido inaugurado no dia 2 de abril de 1982, ainda com as presenças dos saudosos fundadores Vicente Matallo e Pompeu de Vito, além de dirigentes, torcedores e autoridades da cidade. “Neste local, a 02/04/1911 nasceu o Guarani FC. Aos seus fundadores a homenagem da Taba. Campinas 02/02/1982” era o texto da placa que permaneceu na área por 42 anos até ser alvo de vandalismo. O material foi localizado destruído no dia 17 de novembro de 2023.
A instalação do símbolo aconteceu exatamente no local apontado por Matallo e De Vito onde foi realizada a reunião que definiu o nome, cores e a primeira diretoria do clube.
Já o atual totem foi confeccionado pelo popular “Zezinho da Lagoa”, funcionário do Departamento de Parques e Jardins, e segue o padrão dos utilizados nas praças públicas de Campinas. O símbolo recebeu ainda uma “estrela dourada”, que representa a glória máxima do clube: o título de campeão brasileiro de 1978.
Assim nasceu o Guarani FC
O encontro ocorrido há 113 anos foi narrado por De Vito e seus detalhes estão publicados na página 46 do livro “À Sombra das Palmeiras Imperiais – A História do Guarani FC – Parte 1”. No relato, ele diz que a primeira pauta da reunião foi escolher o nome do clube e várias sugestões foram levantadas, como Paulistano e Internacional.
Mas uma ideia de José Trani fez a diferença e a nova agremiação foi chamada de Guarani Futebol Clube em homenagem ao ilustre maestro campineiro Carlos Gomes, já que “O Guarany” era sua ópera mais famosa e a reunião acontecia na praça que tinha seu nome.
Ainda segundo De Vito, a sugestão das cores partiu de seu irmão Romeu Antonio de Vito, que propôs o verde e branco em referência à presença das árvores e à luz do sol na praça. O primeiro presidente foi Vicente Matallo.
O grupo que se reuniu para fundar o novo clube era formado em sua maioria por operários e havia ainda entre eles alguns estudantes, segundo historiadores do Guarani. O encontro aconteceu no dia 1º de abril, um sábado, mas, por decisão dos presentes, a data de fundação foi registrada no dia 2. A intenção do grupo foi escapar do chamado “Dia da Mentira”, o que poderia levar o clube a ser alvo de gozações no futuro.
A obra que relata a história do Guarani ainda cita que um espaço da Praça Carlos Gomes foi usado como campo improvisado para recreação nos primeiros anos do clube, assim como a Praça Corrêa de Mello, onde hoje existe o Terminal Mercado.
Os primeiros treinos, no entanto, aconteceram na Vila Industrial, em um terreno cedido pela Prefeitura que, segundo os historiadores, ficava em frente onde hoje é o asilo da Sociedade São Vicente de Paulo, na Rua Salles de Oliveira.
Assim o livro relata a atividade dos associados na área: “….de enxadas nas mãos, se encarregavam de deixar o campo em boas condições de uso. As traves foram montadas com bambus, disponíveis na região, onde hoje se localiza o quartel do 8º Batalhão da Polícia Militar, mas isso acabaria trazendo aborrecimentos já que, volta e meia, moradores das redondezas as “surrupiavam” para utilizá-las como lenha. A única solução acabou sendo desmontá-las após cada treino”.