Tão logo foi anunciado como novo reforço, em meados do último mês de abril, o experiente meia Renatinho suscitou saborosas memórias que estavam guardadas com carinho há uma década na mente do torcedor da Ponte Preta.
As saudosas lembranças remetem ao acesso conquistado à elite nacional 10 anos atrás, quando Renatinho era um dos principais destaques da Macaca e foi um dos protagonistas da dobradinha no Dérbi contra o Guarani. A façanha nunca mais se repetiu para nenhum dos dois lados dentro de uma mesma competição.
No dia 16 de julho de 2011, o estádio Moisés Lucarelli ficou pequeno para o Dérbi do primeiro turno da Série B. “Tinham 17 ou 18 mil torcedores da Ponte. Quando a gente estava chegando ao estádio, um mar de gente estava nos esperando, então aquilo foi a nossa maior motivação. Tudo o que foi dito dentro do vestiário e na preleção um pouco antes de subir ao campo não conseguiu nos motivar tanto quanto a torcida nos esperando do lado de fora”, revelou ao Hora Campinas o ex-atacante Ricardo Jesus, goleador da Ponte Preta naquela Série B, com 19 gols. Desse total, duas bolas na rede foram contra o Guarani.
“Quando a gente estava chegando ao estádio, um mar de gente estava nos esperando”, lembra Ricardo Jesus
No duelo do Majestoso, Ricardo Jesus participou diretamente dos dois gols da vitória por 2 a 0. No primeiro, cruzou na medida para Ricardinho desviar no canto esquerdo e abrir o placar, com ajuda da trave. Na segunda etapa, só teve o trabalho de empurrar para o gol vazio após Renatinho costurar a defesa bugrina em linda jogada individual. “O Dérbi é um jogo muito importante para a cidade e toda a região. Isso nos mantinha concentrados para poder fazer o nosso melhor. Como morei toda a minha infância em Cosmópolis, consegui viver de perto alguns clássicos quando criança e sabia o quanto era importante e como as torcidas se movimentavam para fazer uma festa bonita. Depois, poder viver isso como profissional foi muito especial para mim e todos que participaram”, aponta Ricardo Jesus, que à época tinha 26 anos e disputava o primeiro Dérbi de sua carreira.
Perto do apito final, com a vitória garantida, o técnico Gilson Kleina colocou a cereja no bolo da festa, ao sacar Ricardo Jesus e mandar a campo o atacante argentino Darío Gigena. A substituição proporcionou uma instantânea e deliciosa viagem no tempo até o dia 11 de outubro de 2003, quando o estádio Brinco de Ouro assistiu a um show à parte de Gigena, que comandou a vitória da Ponte Preta por 3 a 1 sobre o Guarani. Ele marcou três gols e ainda tirou onda ao comemorar vestindo máscara de gorila. Além da provocação de Gigena, o então preparador de goleiros João Brigatti já havia elevado a temperatura do confronto ao abrir uma bandeira da Ponte Preta na subida ao gramado antes do pontapé inicial. O jogo, válido pela Série A, teve fundamental importância para a fuga do rebaixamento da Macaca, que era comandada pelo técnico Abel Braga.
“Para a minha vida, foi muito marcante marcar aqueles três gols porque fiquei na história da Ponte Preta. Com o passar do tempo, me dei conta de que foi algo muito importante. Dérbis se ganham com muita raça, coração e sangue. É uma partida diferente e especial. Ponte Preta é um sentimento muito forte”, declarou Gigena, em contato com a reportagem do Hora Campinas. O ex-atacante argentino acompanhou treinamento da Ponte Preta realizado terça-feira (4), às vésperas do Dérbi desta quarta-feira (5).
De acordo com Ricardo Jesus, o feito histórico de Gigena representou uma inspiração para o Dérbi de 2011. “O Gigena serviu de exemplo, principalmente para os atacantes, porque a gente viu como ele continuava sendo lembrado pelos gols no Dérbi mesmo depois de vários anos, algo que eu tenho vivido hoje em dia. A Ponte Preta é um grande clube e todo mundo que passa quer fazer parte da sua história”, afirma Ricardo Jesus, que, assim como Gigena, também sentiu o sabor de triunfar na casa do rival, inclusive deixando a sua marca no segundo turno da Série B de 2011, quando fechou o caixão da vitória por 3 a 0 sobre o Guarani, em pleno Brinco de Ouro, com nova assistência de Renatinho. Os outros dois gols foram de Renato Cajá.
“Quem saía do time tinha dificuldade para voltar porque aquele que entrava jogava igual ou melhor que o titular”, recorda Ricardo Jesus
“O nosso time tinha uma conectividade muito forte e o elenco era bem capacitado, de bastante qualidade, tanto que a gente manteve uma constância durante todo o campeonato. Quem saía do time tinha dificuldade para voltar porque aquele que entrava jogava igual ou melhor que o titular. O Dérbi do segundo turno teve quatro jogadores diferentes do primeiro. O Renatinho era um pouco tímido e calado, mas dentro de campo não precisávamos conversar muito, a gente se olhava e já sabia como o outro iria se movimentar. O Renato Cajá chegou um pouco depois do início do campeonato, mas desde os primeiros jogos já nos demos muito bem também”, destaca Ricardo Jesus.