Parece infindável a quantidade de histórias que cercaram a vida e carreira de Pelé, o maior jogador de futebol do século passado, para não dizer de todos os tempos, além de maior ícone do esporte brasileiro, senão mundial.
Nas mais de 20 vezes que pisou em gramados campineiros ao longo de quase duas décadas, entre o fim dos anos 50 e meados de 70, o Rei do Futebol viveu diferentes emoções e despertou as mais variadas sensações nas arquibancadas, não apenas de encantamento e euforia com seus golaços, jogadas incríveis e dribles desconcertantes.
Há pouco mais de 55 anos, numa tarde de domingo, dia 3 de dezembro de 1967, Pelé provocou um enorme susto em todos aqueles que estavam presentes no estádio Brinco de Ouro da Princesa, para assistir ao duelo entre Guarani e Santos, válido pela antepenúltima rodada do segundo turno do Campeonato Paulista. O momento de grande preocupação aconteceu logo no início da partida, mais precisamente aos 14 minutos do primeiro tempo.
“Edu, então ponta-esquerda, cruzou à meia altura para a área, com um chute fortíssimo que passou por todo mundo, menos por Pelé, que mergulhou de cabeça e entrou com bola e tudo para dentro do gol. E lá ficou, desmaiado. Silêncio total no estádio, a torcida do Santos nem comemorou”, relembra o jornalista e torcedor bugrino Edmilson Siqueira, sobre os primeiros segundos de preocupação após o lance que abriu o placar a favor do Peixe.
“Médico e massagista entraram correndo em campo, atenderam Pelé por alguns minutos, até que ele se recuperou e voltou para o meio de campo. No trajeto, o estádio inteiro o aplaudiu, inclusive eu”, conta o jornalista bugrino Edmilson Siqueira, à época um garoto de apenas 16 anos.
Também presente no Brinco de Ouro naquela tarde de domingo, no primeiro fim de semana de dezembro de 1967, o jornalista Ariovaldo Izac lembra com precisão do episódio envolvendo o apagão de Pelé.
“Após a testada, a cabeça do ‘Rei’ continuou ‘voando’ e colidiu violentamente contra a antiga trave de madeira do lado esquerdo, sentido cabeceira norte. Desacordado, silêncio generalizado no estádio. Quase cinco minutos depois, ainda estático no gramado, alguém nas dependências vitalícias do Guarani gritou: ‘Pelé morreu’. Pior é que o dito cujo estava com radinho de pilha colado ao ouvido, aumentando a suspeita de informação possivelmente colhida por repórter, no gramado. Pronto. Lágrimas começaram a brotar de quem já imaginava o pior, pela proporção do choque. E quando Pelé ‘ressuscitou’, aqueles, como eu, já precipitadamente ‘enlutados’, o aplaudimos de pé”, recorda-se Izac, aliviado.
“Como gostaríamos que aquele grito de ‘Pelé morreu’ fosse mais um igual ao de três de dezembro de 1967, mas quis o destino que não fosse. Aos 82 anos de idade, Pelé partiu para outro destino, na certeza que jamais será superado enquanto mundo for mundo”, lamenta Ariovaldo Izac, sobre a morte de Pelé, ocorrida na última quinta-feira (29), em São Paulo.
“Num frangaço do goleiro Gylmar, Milton empatou para o Guarani”, acrescenta Ariovaldo Izac, a respeito do lance que decretou o empate em 1 a 1 no placar, com falha do lendário goleiro santista Gylmar dos Santos Neves, bicampeão mundial com a Seleção Brasileira, em 1958 e 1962, ao lado de Pelé.
Em 1970, Pelé se tornaria tricampeão mundial, o primeiro e único até hoje, além do atleta mais jovem a marcar gol e conquistar a taça mais importante do futebol, recorde que persistirá pelo menos até 2026.
Menos de 20 dias depois do embate diante do Guarani em Campinas, com gol e desmaio de Pelé, o Santos se sagrou campeão paulista, ao derrotar o São Paulo por 2 a 1, em jogo desempate decisivo, no dia 21 de dezembro de 1967, no Pacaembu, na capital paulista.
Confira abaixo a ficha técnica da partida entre Guarani e Santos, em 1967, no Brinco de Ouro:
Guarani (1): Dimas; Miranda, Paulo, Tarciso e Diogo; Tonhé e Milton; Carlinhos, Osvaldo, Parada e Wagner. Técnico: Alfredinho Sampaio.
Santos (1): Gylmar; Lima, Ramos Delgado, Joel e Rildo; Clodoaldo e Buglê; Edu, Toninho, Pelé e Abel. Técnico: Antoninho.
Gols: Pelé, aos 14′, e Milton, aos 28′ do 1º tempo.
Data: 03 de dezembro de 1967 (domingo, às 15h45).
Local: Estádio Brinco de Ouro da Princesa, Campinas (SP).
Público: 13.500 torcedores (calculado de acordo com o valor médio dos ingressos).
Renda: NCr$ 41,734,00.
Competição: Campeonato Paulista (segundo turno, antepenúltima rodada)
Árbitro: Etelvino Rodrigues (SP).