Dona de um rico e saudoso passado, porém imersa em um preocupante e dramático presente, com um ponto de interrogação sobre o futuro, a Ponte Preta comemora 121 anos de história nesta quarta-feira (11). Atravessando um momento de muitas dificuldades dentro e fora de campo, agravadas pela pandemia de Covid-19, o clube tenta contornar problemas de ordem financeira e evitar o trágico rebaixamento para a Série C, numa realidade bem distante dos grandes momentos de sua trajetória mais do que centenária.
Fundada no dia 11 de agosto de 1900, data em homenagem à chegada da ferrovia em Campinas, em 1872, a Ponte Preta nasceu por iniciativa de um grupo de jovens estudantes do colégio Culto à Ciência.
A história da Ponte Preta começou com as fortes marcas do pioneirismo e da inclusão racial, graças a presença do negro Miguel do Carmo na formação da equipe, dentre outros que se seguiram desde as décadas iniciais. A primeira metade do século XX terminou com a construção e inauguração do estádio Moisés Lucarelli, em 1948. O local é um dos símbolos de maior orgulho do clube, assim como a torcida fanática e o apelido de Macaca, acolhido e popularizado a partir dos anos 70.
Com a identidade formada, a Ponte Preta escreveu capítulos memoráveis dentro dos gramados e até mesmo nas quadras. Foram disputas de finais estaduais, campanhas nacionais de destaque, dobradinha de títulos da Copinha, conquistas de acessos inesquecíveis, vitórias históricas em Dérbis e chegada em decisão continental, além do lendário bicampeonato mundial de basquete.
Oscar e Polozzi: retaguarda de Seleção
Berço e rota de craques durante o passado, a Ponte Preta olha para trás e enxerga meias encantadores como Dicá e Marco Aurélio, centroavantes goleadores como Chicão, Luís Fabiano e Washington, além dos também folclóricos Dadá Maravilha, Monga e Gigena. No entanto, nenhum outro setor do campo elevou tanto o nome do clube quanto a defesa.
Equipe do interior paulista que mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira em edições de Copa do Mundo, a Ponte Preta foi representada pelo goleiro Carlos e os zagueiros Oscar e Polozzi no Mundial de 1978, na Argentina. Com três atletas convocados, a Macaca foi o time com mais jogadores na lista de 22 nomes do técnico Claudinho Coutinho, ao lado de São Paulo e Vasco.
A presença do trio pontepretano na Copa do Mundo refletiu a excelente campanha que culminou no vice-campeonato paulista de 1977.
“Foram três jogos contra o Corinthians disputados em São Paulo e televisionados para o Brasil inteiro. Isso deu bastante visibilidade e me projetou para disputar as Eliminatórias. Logo em seguida, veio a Copa e continuei sendo escalado”, relembra Oscar Bernardi, que defendeu a Ponte Preta entre 1973 e 1979.
Assim como Carlos e Polozzi, com quem formou icônica dupla de zaga de 1975 a 1978, Oscar foi uma aposta convicta e certeira do treinador da base Mário Juliatto. Quando comandou a Ponte Preta durante um breve período em 1973, Juliatto foi o responsável por dar a primeira chance na equipe profissional ao então jovem promissor de 19 anos. A partir disso, Oscar nunca mais saiu da equipe titular e ainda se tornou um dos principais ídolos da história do clube.
“A Ponte Preta teve uma importância muito grande na minha carreira porque foi o clube onde iniciei e também dei sequência no profissional. Ainda como amador, disputei o Sul-Americano pela Seleção Brasileira e depois tive a oportunidade de jogar a Copa do Mundo. O meu começo passou pelo clube, então sou muito grato à Ponte Preta pela oportunidade que me deu. Tenho um carinho especial pelos torcedores, que me tratam muito bem até hoje. Isso é uma coisa que não tem preço”, declara-se Oscar Bernardi.
Oscar também destaca o apoio que o clube lhe deu para conciliar a vida de atleta com a rotina de estudos. “Na época em que eu fazia faculdade de Fisioterapia na PUC, a Ponte me liberava pela manhã e eu treinava apenas em um período”, revela.
“Eu continuo sendo pontepretano e acompanho todos os passos da Ponte Preta. Torço para que o clube tenha sucesso e siga crescendo o seu número de torcedores. Quando cheguei em Campinas, a cidade tinha entre 400 e 500 mil habitantes, enquanto hoje tem mais do que o dobro, virou uma metrópole. Eu faço votos que a Ponte se encontre”, deseja Oscar Bernardi, que é sócio remido da Ponte Preta.
Juninho na Copa e André Cruz nas Olimpíadas
Após deixar a Ponte Preta no fim dos anos 70, Oscar Bernardi ainda disputou as Copas do Mundo de 1982 e 1986, durante o período em que atuava pelo São Paulo. Entre os jogadores que defendiam a Macaca, o goleiro Carlos e o zagueiro Juninho foram levados pelo técnico Telê Santana para o Mundial da Espanha. Outro defensor pontepretano de destaque à época, Nenê Santana acabou ficando de fora da lista, mesmo tendo disputando alguns amistosos pela Seleção Brasileira. Quatro anos depois, no México, Carlos seria novamente convocado por Telê, mas na ocasião o arqueiro já havia se transferido para o Corinthians.
Se nenhum pontepretano ganhou convocação para a Copa de 1986, o zagueiro André Cruz representou a Macaca na disputa dos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul. De quebra, ainda voltou com medalha de prata no peito.
Revelado no Majestoso, André Cruz acumulava experiência nas seleções de base e havia sido campeão dos Jogos Pan-Americanos de Indianapolis, em 1987, antes de ser convocado pelo técnico Carlos Alberto Silva para as Olimpíadas de Seul, em 1988, aos 19 anos. Uma década mais tarde, no ápice da carreira, defendendo o Milan, André apareceu na lista de Zagallo para a disputa da Copa do Mundo de 1998, na França, onde o Brasil terminou como vice-campeão mundial.
“A Ponte Preta foi o clube que me colocou no mundo do futebol e no mais alto nível. É claro que para uma equipe dar oportunidade, o atleta tem que ser muito bom. Para vestir a camisa da Seleção Brasileira, precisa ser melhor ainda. A Ponte me ajudou bastante e tive pessoas que acreditaram em mim, mas quem me conhece e trabalhou comigo sabe do empenho que tive no meu início de carreira”, destaca André Cruz, que defendeu a Ponte Preta entre 1987 e 1989.
No entanto, a relação de André Cruz com a Macaca começara em 1982, quando ele chegou às categorias de base do clube após deixar sua cidade natal Piracicaba.
“Na época, a Ponte Preta foi uma escolha minha. Havia outras duas opções, o Santos e o Juventus da Mooca, mas optei pela Ponte porque era mais perto de casa, mas principalmente porque era um clube que dava oportunidades aos jovens. Eu sabia que o clube tinha a filosofia de trabalho de formação e revelação de atletas naquele período dos anos 80, tanto que eu joguei numa equipe em que a grande maioria eram jogadores formados e revelados pela Ponte Preta. Era um trabalho realmente bacana, então foi uma escolha muito feliz”, destaca André Cruz.