Campinas é referência em saúde para uma região metropolitana com mais de 3,2 milhões de habitantes, que engloba 20 municípios. Ainda assim, levantamento realizado pela Unicamp mostra que a RMC conta com o menor número de leitos hospitalares em comparação ao Brasil e ao estado de São Paulo.
As informações embasam a necessidade da criação de um Hospital Metropolitano e justificam a pressão em torno da maior participação do estado e do governo na saúde da região.
De acordo com os dados apresentados pelo Diretor da Área de Saúde da Unicamp, Oswaldo Grassiotto, a média de leitos por mil habitantes é de 2,5 no Brasil, chega a 2,0 no estado de São Paulo e atinge o índice de apenas 1,0 na RMC.
A análise da evolução do número de leitos hospitalares SUS no período de 2008 a 2021 indica uma queda progressiva nos leitos da Rede Regional de Atenção à Saúde (RRAS) 15 — que engloba o Departamento de Saúde de Campinas e de São João da Boa Vista – de cerca de 19% até 2017. Houve um leve crescimento nos anos de 2020 e 2021, mas insuficiente para repor os números.
O déficit de leitos resulta no aumento progressivo nas filas de espera por cirurgias eletivas.
Em dezembro de 2022, segundo registros da Central de Regulação de Serviços e Saúde para a RRAS 15, as demandas ainda reprimidas eram de 20.814 pacientes aguardando tratamento em oftalmologia, mais de 10.8 mil em ortopedia e quase 6,5 mil para dermatologia. No total, 56 mil pessoas aguardam hoje, na região, por uma cirurgia eletiva.
O levantamento mostrou ainda que mais de 80% das internações nos hospitais da rede de saúde ocorrem em caráter de urgência. Na RMC, esse índice é 81%.
O diagnóstico mostrou, também, que 90% da demanda da rede hospitalar da RRAS15 tem origem nos municípios da região de saúde da RMC; cerca de 5% vem de outros municípios do estado de São Paulo, e 2,5% de municípios de outros estados.
Segundo o presidente do Conselho de Desenvolvimento da RMC e prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), o estudo irá subsidiar os municípios com vistas à construção do futuro Hospital Metropolitano, que criará cerca de 300 novas vagas e deverá desafogar a fila da Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (Cross), do Governo do Estado de São Paulo.
“É um estudo que dará as diretrizes para a saúde regional e se alinha à nossa luta pela construção do Hospital Regional Metropolitano, uma bandeira de todos os prefeitos que integram o Conselho de Desenvolvimento da RMC”, explica Gustavo Reis.
O projeto de construção do Hospital Metropolitano está pronto, segundo o diretor da área de Saúde da Unicamp, Oswaldo Grassiotto. De acordo com ele, a Universidade já reservou uma área de aproximadamente 40 mil m² na região onde está sendo instalado o HIDS (Hub Internacional de Desenvolvimento Sustentável) — um distrito inteligente, que irá reunir o setor acadêmico, de pesquisa e empresas de tecnologia e inovação.
O equipamento terá capacidade para cerca de 300 leitos — 50 de UCI (Unidade de Cuidados Intermediários) e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Conforme o estudo, o custo de construção do hospital é estimado em R$ 320 milhões, e o custeio exigirá R$ 250 milhões por ano. O financiamento deverá ser feito pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Pela proposta, a gestão técnica será feita pela Unicamp, através de contrato de gestão, com atendimento eletivo e de urgência referenciados.
De acordo com Grassiotto, uma estrutura como essa é construída em cerca de dois anos. As estruturas de Saúde administradas pela Unicamp na região de Campinas e adjacências somam 13 hospitais e unidades de saúde, que, juntas, oferecem perto de mil leitos.
Além do HC, do Caism (Hospital da Mulher), do Gastrocentro e do Hemocentro, a estrutura conta com o Hospital Estadual de Sumaré e o Hospital Regional de Piracicaba, além das AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) em Amparo, Limeira, Mogi Guaçu, Piracicaba, Rio Claro, Santa Bárbara D’Oeste e São João da Boa Vista. No total, os atendimentos da Universidade nesse setor abrangem 125 municípios.
Mais investimentos do governo
O prefeito de Campinas, Dario Saadi, lembrou que a região vive uma crise pela falta de leitos pediátricos e materno-fetal. Ele pediu mais investimentos do governo do estado e reforçou a necessidade de um novo hospital público na região.
“Estamos vivendo uma crise no setor de pediatria na RMC, principalmente o atendimento materno-fetal. Faço coro, aqui, com o prefeito Gustavo Reis e com todos os outros prefeitos presentes, não apenas por mais investimentos do governo do estado na assistência e na abertura de novos leitos, mas também para que possamos deixar o Hospital das Clínicas da Unicamp para atendimentos mais complexos”, afirmou ele.
Esforço maior
O reitor da Unicamp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, disse que o maior objetivo da Universidade é fazer com que o conhecimento gerado na academia sirva à região, ao estado e ao país.
“Queremos contribuir para reduzir as desigualdades, para garantir sustentabilidade e inclusão social. Essa é nossa disposição como instituição, mas não é possível fazer isso sem uma relação estreita com os municípios, com o governo estadual e com a União”, avalia.
O reitor diz que a proposta da Unicamp, de ceder uma área para a construção de um hospital regional, faz parte de um esforço maior. “Queremos pensar a saúde em toda a região. E a proposta do hospital regional vem nessa direção. Esse projeto permitirá não só dar um salto de qualidade no atendimento e na assistência à saúde, mas também ampliar as áreas oncológicas, o que é hoje um grande desafio para nós”, diz.
Para Meirelles, o projeto permitirá avanços em outras áreas. “No entorno da assistência à saúde, podemos ampliar a industrialização da nossa região, fazendo com que a inovação, ciência e tecnologia sirvam para trazer novas empresas da área de saúde, que construam equipamentos, que fabriquem fármacos, que atuem na logística assistencial e hospitalar ou na tecnologia da informação aplicada ao atendimento à saúde”, lembra o reitor.
(Com informações da Unicamp)