O combate ao suicídio passa pela quebra do silêncio. O argumento de especialistas virou alerta do Setembro Amarelo. “Se precisar peça ajuda!” é o lema que simboliza este dia 10, no qual o problema é lembrado e enfatizado na busca de prevenção.
O psicólogo e psicanalista Marcelo Bruniera, coordenador da Saúde Mental da Prefeitura de Campinas, acredita que a comunicação é um desafio, em função do estigma ligado ao suicídio. E aponta que a quebra do tabu só será possível se a consciência atingir todos os lados envolvidos.
“A pessoa que sofre e pensa em tirar a própria vida não quer ser taxada de louca e, por isso, se cala. Mas a pessoa precisa se abrir com alguém da sua confiança e, quem ouve, precisa se despir dos julgamentos”, diz.
Ele argumenta que essa abertura é fator fundamental para atacar o problema, inclusive na busca por ações estruturais dos órgãos públicos. O psicólogo classifica o panorama que aponta o quadro dimensional das vítimas de suicídio no Brasil de difícil compreensão, até em função dos diversos níveis de transtorno mental que atingem a população e as inúmeras variantes das causas.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios ao ano globalmente, sem contar os casos subnotificados, que elevam as estimativas para um milhão. No Brasil, ocorrem 14 mil a cada ano, uma média de 38 por dia.
Em Campinas, segundo dados da secretaria de Saúde, foram 87 casos em 2022, oito a mais do que em 2021. Em 2020, foram registrados 66 e em 2019, antes da pandemia, 89, dois a mais do que no ano passado.
A complexidade do problema é refletida no número de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) existentes em Campinas. São 14 no total, com três subdivisões (seis para adultos, quatro voltados a jovens até 18 anos e outros quatro adaptados para atender vítimas de álcool e drogas).
Segundo a Prefeitura, as ações são complementadas nos acompanhamentos dos casos menos graves nos centros de saúde. Já o trabalho de prevenção com estímulo ao diálogo acontece nas rodas de conversas dentro das unidades e nas visitas às residências por parte dos agentes comunitários.
A psiquiatra Karina Barbi, do Vera Cruz Hospital diz que as doenças mentais, principalmente aquelas não identificadas ou tratadas incorretamente, representam o maior risco para casos de suicídio. E destaca a importância do diálogo.
“É muito importante ressaltar que o desejo de cometer suicídio representa uma necessidade de acabar com um sofrimento intenso, praticamente insuportável, em que a única solução seria não estar mais vivo. Por este motivo, é fundamental que a pessoa que ajuda não minimize essa dor, mas, sim, que compreenda e possa auxiliar de forma adequada. Praticar a escuta ativa, demonstrar empatia e auxiliar a pessoa para que tenha tratamentos psicológico e psiquiátrico adequados são ações que podem salvar uma vida”, diz a especialista.
CASOS EM CAMPINAS
Suicídios
2019 – 89 (66 homens)
2020 – 66 (43 homens)
2021 – 79 (57 homens)
2022 – 87 (70 homens)
Tentativas
2019 – 313 (87 homens)
2020 – 303 (82 homens)
2021 – 447 (135 homens)
2022 – 638 (198 homens)
Fonte: Secretaria de Saúdev