A vida ensina muitas coisas, inclusive a ser pai. Quem pode dizer isso com propriedade é o administrador Renato José Barbati, de 43 anos. Morador de Valinhos, ele hoje celebra ter nos braços a filha Luiza, de 3 anos, e encara com naturalidade os desafios e responsabilidades do papel que lhe cabe. A chegada da criança foi uma espécie de símbolo da vitória, após uma trajetória marcada por “estágios”, como ele mesmo define. E o duro aprendizado bate forte na memória e no coração, principalmente na data em que é celebrado o Dia dos Pais.
A chegada e a partida de duas meninas fizeram parte do “treinamento”.
A primeira chegou em sua casa em 2016 com 2 meses e meio de idade e foi embora um pouco antes de completar um ano ao lado de Renato e sua esposa Camila. A garota, afastada por decisão judicial da família de origem, foi recebida pelo casal, que integra o programa Família Acolhedora da Prefeitura de Valinhos desde então. O desafio foi saber que a permanência seria temporária, como determina as regras do serviço.
“Não queria entrar no programa, justamente porque sabia que chegaria o tempo da separação, mas encaramos a situação”, conta Renato.
A menina se tornou “filha” e impôs ao “papai” duros golpes já na “primeira viagem”. “Ela chegou muito abaixo do peso e foi internada na UTI de um hospital de Valinhos”, lembra. Aos poucos, a garota foi se desenvolvendo, mas, quando a saúde estava normalizada, uma nova preocupação surgiu.
“A Justiça iniciou os trâmites para encaminha-la para um tio-avô dela e começamos a entrar em estado de ansiedade, pois não sabíamos quanto tempo mais ela permaneceria conosco.”
A frustração do momento da partida, no entanto, foi amenizada. “Conhecemos a nova família dela e até hoje mantemos o vínculo”, conta Renato.
Já a segunda menina, acolhida em 2017 com 1 ano e 3 meses, permaneceu junto da família por 2 anos. Os primeiros meses foram difíceis. “Ela quebrava os objetos dentro de casa, parecia não aceitar a situação”, conta Renato, lembrando que a mãe da menina tinha 14 anos e não oferecia um ambiente adequado para a criação, fatores determinantes para o afastamento e o encaminhamento ao acolhimento temporário.
“Com o tempo, fomos criando elo, que foi se fortalecendo”, diz. A adoção, no entanto, determinou o afastamento. “Ela foi embora em dezembro de 2019 e em março de 2020 a Luiza nasceu”, relata.
O nascimento de Luiza é definido pelo pai como resultado de milagre. “Antes de entrarmos no programa Família Acolhedora, minha esposa teve três abortos espontâneos (interrupção involuntária de gestação) em um período de dois anos”, explica. “E mesmo sem nenhum tipo de tratamento médico, a Luiza veio.” Ele se apega à espiritualidade para explicar tudo que passou.
“Se uma das três gravidez tivessem vingado, muito provavelmente não entraríamos no Família Acolhedora e as meninas, que tanto nos ensinaram e foram cuidadas por nós, não passariam pelas nossas vidas.”
Hoje, Renato, Luiza e Camila viajam pelo menos duas vezes por ano à Cafelândia-SP, onde mora a primeira menina acolhida, que está com 7 anos de idade. “É muito bonito nosso relacionamento. Ela tem ciência que cuidamos dela e nos trata com muito carinho e amor.”
Em relação à segunda menina que passou pela vida do casal, o contato é apenas on-line com a família adotiva. “Eles nos contam como ela está, passam detalhes, fotos, mas evitam nosso contato diretamente com ela.”
E nesse Dia dos Pais, Renato vai curtir a data com Luiza, sem deixar de lembrar e agradecer pelas outras “duas filhas do coração.”
“São as amigas-irmãs da Luiza, como ela mesma diz”, celebra o pai.