Disputado pela primeira vez no dia 24 de março de 1912, o Dérbi entre Guarani e Ponte Preta carrega 109 anos de histórias memoráveis e chega à edição 200 neste sábado (19), a partir das 18h30, no estádio Brinco de Ouro da Princesa. Entre tantos confrontos entre os dois clubes de Campinas, momentos marcantes estão registrados na memória de bugrinos de diferentes gerações.
Apaixonado pelo clube desde a infância, Lucas Pézão acompanhou seu primeiro Dérbi na casa alviverde no dia 21 de março de 1993. Na época com nove anos, ele viu o time do seu coração derrotar a Macaca por 1 a 0, com gol de Tiba. Assistindo ao jogo ao lado do avô Antônio Araújo Filho, também conhecido como Ninau, atacante do Guarani entre 1939 e 1943, o torcedor considera este clássico o mais marcante da sua vida.
“Foi o único Dérbi que eu assisti com ele (avô) nas sociais. Meu pai estava nas Vitalícias e depois nós nos encontramos para ir embora. Eu morava, na época, perto do Brinco e nós três voltamos a pé para casa depois do jogo”, relembra o apaixonado torcedor.
Pézão também destaca outros dois dérbis que acompanhou de perto e jamais serão esquecidos. O primeiro aconteceu em 2003, quando o Guarani derrotou a Ponte Preta por 3 a 1, no Moisés Lucarelli. O outro ocorreu nove anos depois pela semifinal do Paulistão, Medina brilhou, o Alviverde venceu por 3 a 1 novamente e se classificou para a final do Estadual no jogo que ficou conhecido como Dérbi do Século.
“O segundo que eu acho mais marcante foi o Dérbi que aconteceu pela manhã no Paulista de 2003. Nós ganhamos de 3 a 1 e fomos para o mata-mata. Acho que o legal ali é que foi algo importante para validar uma classificação e foi uma baita festa. Então, acabou o jogo uma hora da tarde e a festa rolou o dia inteiro. Foi diferente de quando o Dérbi é a noite ou no final da tarde, quando já está mais perto do final do dia. Deu para comemorar o dia inteiro”, destaca.
“O terceiro é o Dérbi do século que foi a semifinal em jogo único do Campeonato Paulista de 2012 e acho que isso torna esse Dérbi ainda mais especial. Não teve ida e volta, um jogo só. Foi interessante pois eu estava tenso acompanhando o jogo, já que se tratava de uma semifinal, mas depois, olhando os melhores momentos, foi um massacre do Guarani. Então acho que foi marcante pela tensão, mas depois que você vê, o Guarani foi muito melhor”, comemora.
O torcedor conta que desde 1993 esteve presente em 24 Dérbis, 16 no Brinco de Ouro e oito no Moisés Lucarelli. Ele também garante ter acompanhado no estádio entre 800 e 850 partidas nos seus 37 anos de vida.
“Eu comecei a ir no estádio em 1988 quando eu tinha entre quatro e cinco anos. Em 1993 comecei a ir no Dérbis e, desde então, eu perdi dois Dérbis. Em 2000, perdi um pois estava em Porto Alegre e perdi outro em 2013, quando estava morando nos Estados Unidos. Fora de casa, o primeiro que eu fui foi o que eu falei que aconteceu pela manhã, em 2003. Depois de 2003, eu fui em todos até não poder mais ter torcida visitante, a partir da Série B de 2018”, pontua.
Clube do Coração
Assim como Lucas Pézão, Sueli Santiago é mais uma torcedora apaixonada pelo Guarani que não abandona o clube do coração. Atualmente com 59 anos, ela acompanhou de perto o Dérbi pela primeira vez em 1978, quando o Bugre venceu por 2 a 1 no Brinco de Ouro. Desde então, nunca deixou de lado a paixão pelo Alviverde. “Meu primeiro Dérbi foi em 1978 e naquela época meu pai não deixava mulher ir sozinha no campo. Dérbi, então, era ainda mais difícil”, relembra.
A torcedora destaca três clássicos que não saem da sua memória. O primeiro aconteceu no dia 4 de fevereiro de 2001, quando o Guarani derrotou a Ponte Preta por 2 a 1, no Brinco de Ouro, no jogo que ficou conhecido como o Dérbi da Valsa. Ao final da partida, o sistema de som do estádio alviverde tocou a “Valsa dos Debutantes”, em alusão ao tabu de 15 anos sem derrota para a Macaca. Só que os 15 anos só foram atingidos em 2002, já que a Alvinegra venceu um Dérbi em 1987.
“Meu ex-marido era pontepretano, teve a valsa e ele ficou muito bravo na época”, relembra bem humorada.
A torcedora lembra também do Dérbi pela Série B do Campeonato Brasileiro de 2009, no Brinco de Ouro, partida que o Guarani venceu por 2 a 1 e deu a arrancada final para voltar à primeira divisão. “2009 também foi um ano marcante que saímos da B e reunimos na faixa de 60 amigos para fazer churrasco na rua do Brinco. Foi muito bom”, relembra.
O jogo que ficou conhecido como Dérbi do Século, quando o Guarani derrotou a Ponte Preta por 3 a 1, pelo Paulistão de 2012, também não sai da memória de Sueli. A torcedora esteve ao lado do time antes da partida e comemorou a classificação para a final do Estadual.
“Em 2012 fomos assistir ao treino em Jaguariúna e conversei com o Vadão depois da atividade. Falei que não sabia como, mas tínhamos que vencer. Depois ele me disse que passou a noite pensando em quem colocaria no banco para fazer a diferença e aconteceu a entrada do Medina”, destaca.
História e vantagem de 105 anos
Na história dos 199 Dérbis já realizados, o Guarani venceu em 67 oportunidades, a Ponte Preta triunfou 66 vezes, o placar ficou empatado em 65 partidas e o resultado do primeiro clássico é desconhecido. Com uma vitória a mais do que a rival, o Bugre lidera o retrospecto há 105 anos, desde o dia 13 de fevereiro de 1916, e essa história pode mudar hoje caso o Alviverde seja derrotado.
Após perder os dois primeiros confrontos com resultados conhecidos, no Hipódromo e depois no Campo do London, o Bugre venceu quatro clássicos de forma consecutiva e conseguiu abrir vantagem no retrospecto. Entretanto, o resultado das primeiras partidas entre os clubes campineiros já gerou muita discussão décadas atrás.
“A primeira vez que foi publicado um retrospecto de Dérbi foi nos anos 1950 pelo jornalista João Caetano Monteiro Filho, o mesmo que sugeriu o nome de Brinco de Ouro para o estádio do Guarani. Depois surgiram outros retrospectos com dados diferentes a favor da Ponte. Pegando jornais antigos para conferir, não batia uma coisa com a outra, principalmente em relação aos primeiros dérbis”, conta o historiador bugrino Fernando Pereira.
Quando começaram a avançar descobertas em relação aos números, o pesquisador Celso Franco de Oliveira Filho teve participação e conseguiu acesso a arquivos de jornais da época dos primeiros jogos. Ele não se contentou em copiar o que os jornais colocavam, algo que foi feito na divulgação dos primeiros números, e foi em busca da ficha técnica de cada jogo.
“No início dos anos 1980 surgiu no Guarani um grupo chamado Taba e o Celso procurou esse grupo levando a pesquisa dele e também a outra que dava vantagem para a Ponte. O pessoal viu aquilo, conferimos o que o Celso fez, estava correto e avisamos aos jornais. Denunciamos que tinha jogos com datas erradas, os resultados não batiam, a Taba fez até um jornal e distribuiu na cidade”, relembra Fernando.
Após alguns anos, a divergência continuou com o Guarani defendendo que tinha mais vitórias e a Ponte Preta afirmando ter mais triunfos na história, até que foi bancada uma pesquisa com pessoas responsáveis por levantar as fichas de todos os jogos.
“Eu e o Celso fomos aos arquivos de jornais de São Paulo, Rio de Janeiro, Mogi Mirim, Bragança Paulista, Amparo e várias outras cidades. Através disso, levantamos as fichas de todos os Dérbis a partir de 1912 e aí chegamos ao retrospecto atual. Somente o primeiro jogo que ainda não sabemos o resultado. Sabemos que o Guarani não venceu, mas não temos certeza se ficou empatado ou a Ponte Preta venceu”, finaliza Fernando Pereira.