Exatamente três anos atrás, no dia 25 de maio de 2020, o futebol se despedia de Oswaldo Alvarez, o Vadão, treinador com passagens marcantes por Guarani, Ponte Preta, Seleção Brasileira de Futebol Feminino e diversos outros clubes tradicionais do Brasil. Vítima de um câncer no fígado, o técnico faleceu aos 63 anos e deixa enorme saudade principalmente nos torcedores do futebol campineiro.
Nascido em Monte Azul Paulista, no interior do estado, Vadão teve cinco passagens pelo Guarani durante a carreira de técnico. O primeiro sucesso veio durante o Campeonato Brasileiro de 1997, quando assumiu a equipe em situação delicada na reta final da competição, na luta contra o rebaixamento. O comandante foi peça fundamental em uma arrancada histórica nas cinco últimas rodadas da competição, com três vitórias e dois empates, que garantiram 11 pontos para o clube campineiro e a permanência na elite do futebol nacional.
Se a passagem de 1997 foi para lutar contra o rebaixamento, o retorno em 2009 foi marcado pela glória de garantir o retorno do Guarani à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro.
Em 2009, Vadão reestreou pelo Bugre na segunda fase da Copa do Brasil, mas acabou eliminado pelo Internacional. Com a equipe desacreditada, iniciou a Série B com o objetivo de fazer um torneio sem sustos, mas rapidamente o time deu liga e acabou garantindo o acesso para a Série A, com 69 pontos e o vice-campeonato do torneio nacional. Em 38 jogos sob comando do treinador na competição, foram 21 vitórias, seis empates e 11 derrotas.
Naquela Série B, o Alviverde comandado por Vadão engatou uma sequência de seis vitórias atuando no Brinco de Ouro da Princesa, enfrentando Ceará, Bahia, Fortaleza, Campinense, Figueirense e a maior rival Ponte Preta, já na metade final da campanha que terminou com o acesso. A equipe também venceu a Macaca no Moisés Lucarelli por 1 a 0, com gol marcado pelo meia Caíque.
O trabalho de Vadão no Guarani em 2009 foi marcante, mas a história não parou por aí. Em 2012, o treinador retornou ao Brinco de Ouro para comandar o clube no Campeonato Paulista e brilhou na campanha que garantiu o vice-campeonato ao Bugre, derrotado na final pelo Santos, que contava com os craques Neymar e Paulo Henrique Ganso em grande fase.
Em 2012, o time que tinha o meia Fumagalli como referência dentro de campo, além do atacante Bruno Mendes despontando para o futebol, venceu 13 partidas, empatou três vezes e foi derrotado em sete oportunidades no Campeonato Estadual.
Naquela competição, nenhuma equipe da Capital foi capaz de vencer o Guarani. Além disso, o Bugre derrotou o Palmeiras em duas oportunidades, tanto na primeira fase quanto nas quartas de final. Na semifinal, o Alviverde contou com o brilho do então jovem Medina para vencer a Ponte Preta por 3 a 1, no Brinco de Ouro, garantindo vaga na final e eliminando a grande rival no jogo que ficou conhecido como o “Dérbi do Século”.
Vadão também trabalhou no Guarani em 1995 e em 2017, com menor destaque. Na última passagem pelo clube, teve uma sequência positiva no início da Série B, engatando quatro vitórias consecutivas no Brinco de Ouro, mas depois a equipe caiu de produção e o treinador acabou demitido.
Neste ano de 2023, o time comandado pelo técnico Bruno Pivetti tentou repetir o mesmo feito no início da Série B, mas chegou a apenas três triunfos consecutivos atuando em casa diante de Avaí (4 a 1), Ituano (1 a 0) e Sampaio Corrêa (2 a 0), antes de ceder empate em 3 a 3 à Chapecoense, após abrir 3 a 1 no primeiro tempo, na noite da última quarta-feira (24). O tropeço também quebrou uma sequência positiva de 10 vitórias seguidas da equipe dentro do Brinco de Ouro, contando apenas jogos de Série B.
Em toda a história, Vadão é o quarto treinador com mais jogos no comando do Guarani. Foram 204 partidas no total, com 88 vitórias, 45 empates e 71 derrotas.
História do outro lado da avenida
Pelo lado da Ponte Preta, Oswaldo Alvarez teve maior destaque na primeira passagem pelo clube, quando venceu um Dérbi Campineiro que até hoje não sai da memória da apaixonada torcida da Macaca.
Sem derrotar o maior rival Guarani por 15 anos, a Macaca de Vadão foi ao Brinco de Ouro pelo Campeonato Brasileiro de 2002, começou perdendo por 2 a 0 nos primeiros minutos de jogo, mas virou a partida de forma épica e goleou por 4 a 2, com gols marcados por Marinho, Lucas, Basílio e Elivélton. A vitória ponto final no longo tabu do Dérbi.
Em 2014, em sua última passagem pelo Majestoso, Vadão comandou a Macaca no Paulistão, mas deixou a equipe depois de 13 jogos para trabalhar na Seleção Brasileira de Futebol Feminino.
Em 2005, o técnico voltou ao clube alvinegro, mas teve menor brilho, assim como em 2006, quando passou pelo Moisés Lucarelli após treinar o Athletico Paranaense.
Ao todo, Vadão disputou nove Dérbis somando todas as passagens como técnico de Ponte Preta e Guarani. Ele conquistou cinco vitórias, empatou quatro clássicos e nunca foi derrotado.
Seleção Brasileira de Futebol Feminino
Na década passada, Vadão teve duas passagens pela Seleção Brasileira Feminina, a primeira entre 2014 e 2016 e a segunda de 2017 a 2019. Foi o último trabalho da sua carreira.
Em 2016, Vadão foi o técnico da Seleção nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, levando a equipe ao quarto lugar na competição, em uma campanha que ficou marcada por jogos emocionantes e estádios lotados em território nacional.
Posteriormente, aceitando novo convite da CBF, Vadão também foi o comandante na Copa do Mundo de 2019, realizada na França. Classificada na terceira posição do Grupo C, empatada com seis pontos ao lado de Itália e Austrália, a Seleção Brasileira teve a França como adversária nas oitavas de final, empatou por 1 a 1 durante os 90 minutos, mas sofreu um gol na prorrogação e amargou a eliminação no último jogo de Vadão como técnico de futebol.
Além dos trabalhos marcantes nos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo, Vadão foi bicampeão da Copa América e do Torneio Internacional Cidade de São Paulo, além de medalhista de ouro nos Jogos Pan-Americanos e vencedor da Yongchuan International Tournament no comando da Seleção Brasileira de Futebol Feminino.
Além das passagens por Guarani e Ponte Preta, antes de chegar à Seleção Brasileira, Vadão treinou outros clubes tradicionais do futebol brasileiro, como Mogi Mirim, Araçatuba, XV de Piracicaba, Matonense, Athletico Paranaense, Corinthians, São Paulo, Bahia, Vitória, Goiás, São Caetano, Portuguesa, Sport e Criciúma. Fora do país, o treinador trabalhou no Tokyo Verdy, do Japão.
No Mogi Mirim, durante o primeiro trabalho da carreira, Vadão comandou o “Carrossel Caipira”, como ficou conhecida a equipe que fez campanha de destaque no Paulistão. O time tinha variações táticas durante as partidas e contava com o craque Rivaldo, à época no início de sua carreira, como o maior destaque. Depois daquele Estadual que o projetou, o camisa 10 chegou ao topo do futebol, conquistando o prêmio de melhor jogador do mundo, atuando pela Seleção Brasileira e também brilhando no futebol europeu.
Já no comando do São Paulo, em 2001, Vadão trabalhou ao lado de mais um jovem meia que se tornou estrela do futebol brasileiro: Kaká. O treinador foi o primeiro a escalar o menino formado nas categorias de base do Morumbi no time profissional do Tricolor. Posteriormente, assim como aconteceu com Rivaldo, Kaká brilhou na Seleção Brasileira e também em equipes da Europa, além de conquistar a Bola de Ouro.