O drama da dona de casa Josiara Araujo Leopoldino se repetia ano após ano. A chuva nem precisava ser muito forte para que seu barraco de madeira de um cômodo inundasse. Perder os poucos pertences que tinha era comum. Moradora do Jardim São Marcos, ela trabalhava e orava na expectativa de dias melhores. E esse dia chegou, curiosamente, em meio ao caos.
Na última segunda-feira (5), sete casas no fundo da Rua Roberto Bueno Teixeira, conhecida no São Marcos como Caminho Dois, foram inundadas pela água em função das fortes chuvas. O córrego do Ribeirão Quilombo transbordou e famílias perderem alimentos, colchões, roupas e eletrodomésticos. Josiara se assustou, o nível da água chegou no limite, mas sua casa foi uma das que escaparam do alagamento na vizinhança. Para ela, o transbordamento foi de gratidão.
No terreno onde havia o barraco de madeira, hoje é uma construção de tijolos, concluída em agosto deste ano. Portanto, as fortes chuvas deste início de dezembro estão servindo de teste para a nova casa de Josiara.
“Na segunda-feira, a água chegou perto da porta da minha cozinha. Caso a chuva não parasse, acho que teria alagamento, mas graças a Deus estamos todos bem”, celebra a moradora de 28 anos, que reside ao lado do marido e dos filhos Gabriella, de 4 anos, e Pedro, de 8.
Josiara conta que o alagamento não atingia a região há cerca de cinco anos, mas o seu barraco era uma exceção em épocas de chuvas em função da estrutura precária.
“Perdíamos tudo. Tínhamos apenas uma cama e o restante guardávamos em caixas. Os alimentos se perdiam”, conta. “Precisávamos colocar nossos pertences em lugares altos no barraco para não serem atingidos. Vivíamos nas alturas”, brinca.
A situação difícil começou a mudar a partir de setembro de 2021, quando a família conseguiu iniciar a construção com poucos recursos, fruto de algumas economias.
“No período de um mês, deixamos a casa no ponto de laje. Depois, acabou o dinheiro e fomos atrás de ajuda.”
O auxílio para a conclusão da casa veio por meio de recursos do Fundo de Apoio à População de Sub-Habitação Urbana (Fundap), um programa de financiamento para construção voltado às famílias em situação de vulnerabilidade habitacional. O imóvel tem hoje três cômodos e um banheiro.
“Como eu ainda não tenho móveis para montar uma sala, por enquanto ficou só um quarto para as crianças, outro para eu e meu esposo e uma cozinha. As prioridades agora são levantar um muro e comprar um portão. Depois, pensamos nos móveis”, diz a dona de casa, cujo marido trabalha como conferente.
Com relação às chuvas, Josiara acredita que sua casa, apesar de nova, ainda está sujeita aos alagamentos. No entanto, reconhece que a situação atual é incomparavelmente melhor do que a de antes.
“No meu caso é só gratidão”, repete, apesar de lamentar o drama da vizinhança.
A moradora acredita que o descarte de lixo nas proximidades do córrego foi determinante para os transtornos da última segunda-feira. “São pessoas de fora do bairro que vêm aqui e jogam o lixo na margem. A Prefeitura vem, limpa, mas não adianta. Estamos cansados disso.”
No dia seguinte ao alagamento, a Secretaria de Serviços Públicos iniciou a limpeza nas margens do córrego, a retirada de descarte irregular (lixo e entulho jogados no chão e no córrego) e o desassoreamento do ribeirão. Máquinas e caminhões estão sendo utilizados.
Já a Secretaria de Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos e a Cohab prestaram atendimento às famílias atingidas, que receberam colchões, cobertores e o cartão Nutrir. Segundo a Defesa Civil, que também atua no local, não houve danos às moradias que justificasse a remoção das pessoas.
“Os moradores, com a ajuda de todos nós, estão limpando as casas e alguns tentando recomeçar. A Prefeitura também está na área, ajudando. Agora, o nível do córrego baixou e esperamos que continue assim”, diz Josiara, preocupada, mas também amparada agora por um sentimento maior de cidadania.