O agravamento da crise humanitária e o aumento da demanda contribuíram para que a Unicamp lançasse uma iniciativa inédita entre as universidades brasileiras. Trata-se do programa “Refúgio Acadêmico”, direcionado ao acolhimento humanitário de professores, pesquisadores e estudantes que vivem em regiões de conflito.
O programa de internacionalização da Unicamp conta hoje com 480 alunos estrangeiros na graduação e 908 na pós-graduação, provenientes de 71 países, 15 deles refugiados de diversas nacionalidades. O programa Refúgio Acadêmico, que vem sendo elaborado desde o ano passado, poderá ser viabilizado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa), que lançou um edital no valor de R$ 20 milhões para pesquisadores em situação de risco.
A professora Ana Carolina Maciel, presidente da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM/ACNUR), explica que a ideia é promover o acolhimento por meio de bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e de professor visitante.
“Tão logo implementarmos as bolsas, poderemos receber os pesquisadores. Eles irão contar com toda a estrutura do Programa Refúgio Acadêmico para desenvolver aqui suas atividades”, afirmou ela.
O Plano de Ação do Programa, apresentado nesta na última quarta-feira (27), prevê sete etapas, entre as quais a mobilização da rede de contatos internacionais da Unicamp para cadastro de interessados e a articulação de redes locais de suporte para a integração do refugiado.
“Quando iniciamos esse processo, em agosto de 2021, tratava-se de algo inédito no Brasil. Desde então, fomos procurados por colegas de várias instituições e estamos reunindo forças para que o Refúgio Acadêmico se dissemine no país”, concluiu Ana Carolina.
Refugiado
No Brasil desde 2013, o sírio Nour Koeder, de 30 anos, ingressou em 2020 em Artes Cênicas na condição de refugiado. Ele relata dificuldades com a língua, a regularização de documentos e com a própria sobrevivência no país.
“A Unicamp foi fundamental para mim. Minha vida melhorou muito depois que consegui uma vaga aqui”, afirmou. “Precisamos agora divulgar o Programa, pois muitas pessoas com as mesmas dificuldades ignoram essa possiblidade”, afirmou.
Veja o Plano de Ação do programa Refúgio Acadêmico
1 – Pleitear política de concessão de vistos humanitários e autorização de residência para acadêmicos.
2 – Mobilizar a rede acadêmica de contatos internacionais da Unicamp para realizar levantamento e cadastro dos interessados no programa.
3 – Elencar o perfil dos selecionados segundo os critérios do programa. Levantar dados sobre necessidades específicas do grupo refugiado, como renda, língua de domínio, composição de núcleo familiar.
4 – Buscar convênios com agências de fomento acadêmico para a concessão de bolsas de estudos, mestrado, doutorado, pós-doutorado e de professor visitante.
5 – Orientar os interessados nas vagas sobre procedimentos para a obtenção de vistos, segundo critérios estabelecidos pelo governo federal e Itamaraty.
6 – Buscar apoio para translado aéreo internacional e local, se necessário, e acolhida inicial em alojamento temporário, hotel ou similar e posterior locação de imóveis para uso residencial do refugiado e familiares.
7 – Mapear e articular redes locais de suporte visando facilitar a comunicação e os trâmites para integrar o refugiado e familiares às políticas públicas de acesso à educação, assistência jurídica e de saúde, além dos acessos já disponibilizados na estrutura da Unicamp.
*Com informações da Unicamp