A vereadora campineira Guida Calixto (PT), que registrou boletim de ocorrência e pediu medida protetiva, nesta terça-feira (10) contra ameaças recebidas de homem apontado como defensor do presidente Jair Bolsonaro, ligou os ataques sofridos à sua atuação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) Antifascista, que apura discursos de ódio na cidade.
“No dia 23 de maio foi pedida a criação da CPI Antifascista para investigar os crimes de ódio na cidade. Em 6 de junho, na primeira reunião oficial, eu fui indicada como relatora. No dia seguinte protocolaram um pedido de Comissão Processante (CP) pedindo a cassação do meu mandato por conta da HQ sobre territórios negros. No dia seguinte, o pedido foi negado porque tinha vício de iniciativa. No dia 9, o Rogério Parada, presidente do PRTB, protocolou novo pedido de CP contra meu mandato. No dia 13 de julho o pedido foi votado e arquivado, apenas os três vereadores abertamente bolsonaristas votaram a favor”, explica a vereadora.
Ainda de acordo com a parlamentar, a partir daí, as ameaças começaram.
“No dia 15 de julho, esse homem ligou no gabinete fazendo ameaças. Uma assessora que atendeu. Ele é confuso, mas uma frase a gente entendeu bem: ‘sua vereadora é um lixo e se ela não parar de falar mal do Bolsonaro, ela vai ver o que é bom’. O telefone que ele ligou ficou registrado nos nossos aparelhos”, conta Guida.
No dia 22 de julho, um dia antes de uma audiência pública da CPI Antifascistas, de acordo com Guida, o mesmo homem ligou no gabinete da vereadora Mariana Conti (PSOL), que preside a CPI, fazendo ameaças.
“A situação vai ficar feia e o bicho vai pegar para essas putas’. Ele falou isso se referindo a nós”, conta Guida. “Mas a Mariana me disse que já sabia quem é ele e que ele frequenta a Câmara, em especial, os gabinetes dos vereadores bolsonaristas”, completa.
Na sequência, a Câmara entrou em recesso.
“No dia 8 de agosto, fiz uma reunião com a Mariana Conti e quando saímos do gabinete nos deparamos com ele no corredor. Ela ficou assustada e eu pedi para um assessor acompanhá-la até o estacionamento. Ele ficou parado perto do meu gabinete. Ele veio na minha direção, mas eu corri e me tranquei na minha sala”, relata a petista.
A vereadora disse que na última terça-feira, ele voltou a ligar no gabinete e dizer que não adianta falar dele na tribuna.
“Ele é uma pessoa desequilibrada e isso dá mais medo porque é ainda mais fácil de ser manipulado. A gente fez BO e pediu medida protetiva. Mas a gente pediu para a polícia que a gente quer saber quantas vezes ele já entrou no parlamento e quais gabinetes ele frequenta para saber se ele age sozinho”, concluiu.
A reportagem não conseguiu contato com Mariana Conti, mas a presidente do PSOL, Marcela Moreira confirmou as ameaças.
“São inaceitáveis essas ameaças. Esse discurso de ódio está mobilizando pessoas e pode vir resultar em mais assassinatos. Aliado ao discurso de ódio, tem também a misoginia e machismo”, disse.
A Câmara, via assessoria de imprensa, disse que apoia todos os vereadores e que já tomou as medidas cabíveis.
“A Câmara orientou as vereadoras a registrar ocorrência e pedir a ordem de restrição. A entrada desse homem já está restrita. Se ele tentar entrar, ele vai ter de informar em qual setor ou em qual gabinete vai, e o gabinete vai ter de autorizar a entrada. A Câmara ainda não pode proibir a entrada dele, mas assim que sair a ordem de restrição ele é impedido de entrar”, informou a Casa de Leis.