Um grupo de quatro vereadores de Campinas ingressou com uma representação junto ao Ministério Público, em que pede a instauração de uma ação civil pública contra três colegas seus, pela conduta que adotaram diante da pandemia do coronavírus.
Os autores da representação – as vereadoras Mariana Conti (PSOL), Guida Calixto e Paolla Miguel, ambas do PT, além do vereador Paulo Bufalo (PSOL) – acusam os colegas Marcelo Silva e Nelson Hossri , do PSD, e Major Jaime (PP) – de usarem a estrutura do mandato para dificultar a efetivação em Campinas, de medidas de proteção à vida previstas pelo Plano SP de Combate à Covid, como por exemplo, a restrição na circulação de pessoas e a orientação de não aglomeração. Dizem ainda que os colegas propagaram o negacionismo, reduziram o potencial de letalidade do vírus e colocaram a vida das pessoas em risco.
A representação diz ainda, que os três teriam estimulado a adoção do chamado “tratamento precoce”, que prevê a administração de remédios para o tratamento de pacientes com covid-19, sem comprovação de eficácia. Para os quatro vereadores, a conduta dos colegas “colocou a coletividade em risco”.
O grupo dos quatro relacionou declarações públicas dos vereadores, dadas em entrevistas à imprensa ou em eventos oficiais, em que propagam os benefícios de um tratamento que, segundo eles, entidades internacionais já reconheceram como ineficazes.
Na representação o grupo pede que os três colegas sejam impedidos de veicular novas mensagens de desestímulo às medidas de proteção e a instalação de uma ação civil pública, pelo estímulo ao uso de medicamento sem comprovação.
Outro lado
O vereador Nelson Hossri diz que sempre defendeu “a autononia do médico” e que o tratamento precoce poderia ser uma opção.
“Parece que o objetivo da esquerda é tentar me calar. É único e exclusivo: oferecer o “kit desespero” para a população. Só sabem falar em caixões e mortes. Desrespeitam a opção do tratamento precoce, opcional, respeitando a autonomia médica; a vontade do paciente e que foi sugerido pelo Conselho Federal de Medicina”, disse.
“Lamento muito que a falta de diálogo que eu sempre tive com a bancada do PT e da esquerda tenha chegado a esse nível”, disse o vereador Marcelo Silva. “Além do mais, colocaram inverdades na representação, do meu ponto de vista graves, como a de que desestimulo as medidas de proteção; que propago o negacionismo e que reduzo a potencialidade da letalidade do vírus. São frases contidas na representação extremamente graves e que não condizem com nada do que eu falei, ou divulguei”, disse. “Para mim, é uma atitude infantil e lamentável porque, mais uma vez, não teve diálogo. Ninguém veio pra mim e tentou debater”, finalizou o vereador.
O vereador Major Jaime, por sua vez, disse que nunca estimulou as pessoas a desrespeitarem as medidas de restrição. “Quero que eles provem que eu fiz isso”, disse ele. “Nunca falei para as pessoas não usarem máscaras ou fazerem aglomerações”, acrescentou.
Sobre o tratamento, Jaime diz que vem debatendo esse assunto como uma das pautas de mandado. “Eu nunca preguei a auto medicação. Defendo a liberdade do médico junto com o paciente, e definir o tratamento. Defendo também que a Prefeitura disponibilize os medicamentos nas farmácias públicas”, afirmou.
“Para mim, essa representação é coisa de principiante; tem pouca fundamentação. Até espero que o Ministério Público nos chame, para que a gente possa fazer a nossa argumentação”, finalizou.