Oferecer oportunidades para que jovens, de 15 a 29 anos, construam os seus projetos de vida a partir do ensino profissionalizante, por meio de parcerias que possam ofertar a oportunidade de aprender um ofício, além de opções de estágio, emprego, bolsas de estudos para cursos. Com essa intenção foi criado o projeto Conectando ao Futuro, fruto de cooperação entre o Programa Juventudes da Fundação FEAC e a Casa de Maria de Nazaré, que fica localizada na região do Campo Grande, em Campinas.
Dentre os desafios enfrentados com os jovens estavam barreiras como a defasagem escolar, analfabetismo funcional, autoestima baixa, falta de oportunidade e de falta de condições financeiras para que os jovens pudessem seguir com seus projetos e, muitas vezes, falta de estrutura familiar.
Maittê Godoi Silva, coordenadora da Casa de Maria de Nazaré na Unidade I – Casa dos Anjos conta que aos poucos foram aprendendo, na prática, que trabalhar com os jovens é muito diferente do trabalho com as crianças.
“Muitos jovens crescem recebendo rótulos, e é comum escutar de pessoas próximas que também foram privadas de oportunidades frases como: ‘Você não pode!’ ‘Nem precisa tentar que não vai conseguir!’ ‘Sua condição financeira não permite você fazer isso ou aquilo.’ Com isso, eles vão bloqueando seus sonhos, limitando seus interesses e até desistindo de seus projetos de vida”.
Foi então que os organizadores do projeto resolveram ouvir um grupo de jovens para saber o que eles gostariam de fazer.
“Ter a possibilidade de dialogar e escutar os jovens foi a grande virada para formatar o projeto Conectado ao Futuro. Buscamos no diálogo e na escuta saber quais eram suas dificuldades, seus sonhos e até a falta de esperança que os faziam desistir no meio de outras propostas que havíamos tentado anteriormente. Nessas conversas descobrimos que não poderíamos fazer um projeto que fosse engessado em uma única atividade profissionalizante. Ouvimos deles que os interesses, sonhos e aptidões eram muito diferentes uns dos outros”, diz a coordenadora.
“Foi depois disso que compreendemos que os cursos que eles sonhavam não precisavam ocorrer dentro do nosso espaço, até porque não conseguiríamos montar tantas opções de ofícios diferentes. Foi então que surgiu a ideia de trazer a mobilidade para o projeto, buscando formas que o jovem pudesse fazer o curso que desejava em outro local. Geralmente os cursos ficam nas regiões mais centrais, afastadas do bairro, então ajudamos também com o transporte. As parcerias com escolas, instituições e mentorias nos ajudam a mostrar a realidade da profissão para esse jovem e faz com que eles encontrem caminhos e voltem a sonhar com um futuro melhor, mais bonito e cheio de esperança”, conta Maittê.
E é por meio de mentorias e da construção de projeto de vida que esses jovens são convidados a fazer cursos de ofício e profissionalizantes, de acordo com suas potencialidades e seus desejos.
“A partir da análise do perfil buscamos um mentor ideal, de acordo com as necessidades e desejos profissionais, combinados às habilidades do mentor. A mentoria ajuda o jovem a trilhar o seu caminho e os auxilia principalmente no aspecto psicológico. Com isso temos percebido que os participantes do Conectado ao Futuro estão se tornando protagonistas da sua história e da transformação do contexto social da comunidade como um todo. Para se ter uma ideia do sucesso do projeto estamos com lista de espera”, conta Maittê.
Sem rótulos
Os idealizadores contam que quando o jovem começa a participar do projeto, em muitos casos, o trabalho se concentra em primeiramente retirar da cabeça desses jovens os rótulos de incapacidade de realizar seus projetos por suas condições familiares, sociais e financeiras, para que, assim, eles possam voltar a sonhar e acreditar que são capazes. “Outras vezes, ele chega até nós e não sabe exatamente o que quer e vamos ajudando a construir seu projeto de vida”.
Ao participar do Conectado os Futuro o jovem acaba descobrindo quais são seus sonhos, aptidões, vontades e segue em busca de torná-los realidade. Dentre os cursos técnicos que os jovens já foram inseridos em ofícios estão maquiagem, gastronomia, enfermagem, barbeiro, designer de sobrancelha, designer gráfico, bombeiro, técnico administrativo, montagem e manutenção de computadores, entre outros. “Alguns já se formaram, estão trabalhando e outros estão empreendendo. Nossa meta não é só inserir os jovens nos cursos, mas acompanharmos o desenvolvimento deles até concluir a formação. Ajudamos também nos custos de transporte e material necessário. A ideia é que, por meio de parcerias, eles consigam ser inseridos no mercado de trabalho e se despertem para novos cursos, novos sonhos”, relata Maittê.
Para conhecer novos cursos e tecnologias os jovens já visitaram a Feira das Profissões na USP (SP), Estação Hack (SP) obtendo formações em tecnologias. Também foram ao Museu da Língua Portuguesa e Farol Santander, em São Paulo. “Com isso eles vão ampliando o repertório, conhecendo novas possibilidades de profissões e voltam muito animados”, conta Daniela da Graça, mentora fixa (facilitadora), responsável pela identificação de perfis dos jovens, pelo acompanhamento e evolução dos jovens no projeto.
“Tem jovem que está usando o curso para ter uma renda e ajudar a família. Outros buscam caminhos nos cursos técnicos para facilitar o processo e conseguir uma renda para depois entrar em uma faculdade. Outros descobrem que essa oportunidade traz muita alegria e esperança de dias melhores. Percebemos que quando o jovem faz algo que gosta, que faz os olhos dele brilharem, ele se dedica, não desiste e segue em frente”, finaliza Maittê.
Kátia Camargo conheceu o Conectado ao Futuro logo no início da pandemia e ao escrever lembrou de uma frase de Cora Coralina que conversa muito com esse projeto: “A verdadeira coragem é ir atrás de seu sonho mesmo quando todos dizem que ele é impossível.”