Uns contabilizam mais perdas e mais sofrimentos, outros menos, mas os tempos têm sido difíceis para todos. Este não é convite para alienação, mas para uma pausa no enorme volume de notícias ruins que ouvimos diariamente: relaxe um pouco e aposte todas as fichas no filme Amor, Casamentos & Outros Desastres (Love, Weddings & Other Disasters, EUA, 2020, 96 min.), de Dennis Dugan.
Trata-se de deliciosa comédia-romântica que se passa em Boston. Existe a história central que faz a narrativa seguir adiante mas, no entorno dela, outras situações na mesma temperatura de tensões e descontrações se desenrolam e são tão saborosas quanto às do núcleo principal.
No início, confunde um pouco o espectador porque acontece tanta movimentação e surgem tantos personagens que, parece, o roteiro não vai dar conta de atender a todas as expectativas. Mas aos poucos, tudo começa a se organizar e, mesmo sabendo com antecedência do desfecho, ficamos na torcida para que os personagens se acertem logo.
Maggie Grace vive Jessie, profissional organizadora de casamentos. Na primeira cena, tentando praticar paraquedismo com o namorado, eles perdem o rumo e, literalmente, desmontam uma cerimônia de casamento à beira de um lago.
Veja o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=f5HK8NMa1tw
Além de perder o namorado, o vídeo com o incidente viraliza nas redes sociais e ela ganha o codinome de “demolidora de casamentos”. Ainda assim, alguém a contrata. Os acidentes continuarão acontecendo, mas Jessie confia que vai conseguir se firmar na profissão.
Paralelamente, outro profissional do ramo, o veterano, mal-humorado e superexigente Lawrence (Jeremy Irons) se vê envolvido em um encontro às cegas com a deficiente visual Sara (Diane Keaton). Toda a exigência que ele requer de si e dos empregados irá por água abaixo porque também será envolvido em alguns desastres.
E tem o músico Mack (Diego Boneta) por quem Jessie vai se apaixonar e o divertidíssimo guia turístico Ritchie (Andrew Bachelor), que guardou o sapatinho que uma jovem esqueceu no ônibus no qual trabalha e passa o filme em busca da Cinderela. E há um programa de game de TV que obriga as duplas de competidores a ficarem amarradas por uma corrente, e mafiosos que vão interferir no show, e um candidato a prefeito de Boston e uma garota violonista que passa o filme tocando no parque da cidade.
Todas as histórias misturadas e relacionadas entre elas fazem do filme uma correria sem fim porque inúmeras situações acontecem simultaneamente e, se há amor, sedução e conquistas, também há muito humor, graça e encontros e desencontros.
Comédias-românticas, como todos os filmes de gênero, contém ingredientes idênticos, mas há que se destacar algumas boas tiradas do roteiro escrito pelo próprio diretor e uma equipe de profissionais.
Boston aparece como personagem, tamanha é a exposição que o filme lhe dá. O “mocinho” demora aparecer e a dona da história é Jessie. O casal Jeremy Irons/Diane Keaton serve como espaço pedagógico, ensinando como respeitar idosos e deficientes visuais.
Assim, temos de um lado o esforço politicamente correto na direção da mulher protagonista, idosos, deficiente visual, negro (o guia turístico que se apaixona por uma branca) e de outro, a incorreção com o próprio idoso (um deles foi proibido de participar do programa de TV por ser “velho” e do rapaz com nanismo, aceito porque chama a atenção). O recado do filme: estamos em uma comédia e há espaço para o riso e para tratar de coisas sérias. Isso tudo, sem desrespeito e, ao mesmo tempo, sem ser chato. Convenhamos, ótima sacada.
Por fim, o filme valoriza, e muito, o músico. Há música o tempo todo permeando a narrativa. Se o diretor queria uma festa com seu festival de casamentos e desastres, conseguiu. E se deu bem.
Estreia nesta quinta, 20/5/2021, em Campinas, na Rede Cinépolis do Shopping Galleria.
João Nunes é jornalista e crítico de cinema