Você tem muitos livros guardados em casa? Costuma se desapegar de tempos em tempos? Eu tenho alguns que são especiais e que gosto de guardar, mas particularmente gosto de ver livro circulando. Recentemente me desapeguei de dois títulos que gostei muito de ler: A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver, de Ana Claudia Quintana Arantes, e Tudo é Rio, de Carla Madeira. Mas tenho certeza de que se eu olhar com mais atenção, vou achar outros títulos que precisam circular por aí.
Pensando nesse desapego de livros, descobri que a Casa da Criança Paralítica (CCP) de Campinas vai inaugurar até o final deste ano um sebo de livros em uma área do seu Bazar do Sonho, que desde 2004 comercializa roupas, sapatos, acessórios, móveis, brinquedos, eletrodomésticos e outros itens a preços acessíveis.
Para viabilizar o projeto, a instituição iniciou uma campanha para arrecadação de exemplares em bom estado em suas redes sociais. As doações já começaram a chegar, e eles já receberam aproximadamente 250 exemplares de quatro grandes doadores, todos eles amantes da leitura.
“Estamos priorizando coleções e edições mais antigas e até manuscritos originais para atingir um nicho diferenciado de público para o sebo. Queremos estimular a doação por pessoas que tenham títulos repetidos ou estejam se desfazendo de suas bibliotecas particulares parcial ou integralmente, dando um destino adequado a esse acervo pessoal. O foco não é recebermos materiais didáticos, mas literatura de qualidade. E, dependendo do acervo oferecido, podemos efetuar trocas de títulos”, diz Antonio Pedro Rodrigues, gerente administrativo da Casa da Criança Paralítica.
A previsão é que o Sebo exponha entre 8 mil e 10 mil obras literárias e ocupe uma área de 54 m² do bazar, que tem 300 m² destinados às vendas e 100 m² quadrados para recepção e armazenamento de itens para triagem.
Vale aqui destacar que as vendas realizadas pelo Bazar do Sonho correspondem à segunda fonte de receita própria da CCP, atrás apenas dos valores obtidos por meio do telemarketing. “Nossa expectativa é que, quando o sebo estiver em funcionamento, incremente em 30% a atual receita do bazar, o que representaria cerca de R$ 20 mil por mês a mais, inicialmente”, diz o gerente administrativo.
Segundo ele, no sebo de livros, a ideia é que apenas voluntários trabalhem no local, inclusive aqueles que já estão auxiliando a CCP neste momento do projeto. “Hoje, temos três voluntários envolvidos na plastificação dos títulos, na seleção dos mais indicados para futura exposição no sebo e na precificação de cada exemplar. Dois desses voluntários já atuaram em sebos, então, nos trazem toda essa experiência para ajudar nessa implantação. Estamos estimando que os preços dos exemplares variem entre R$ 10 e R$ 60, dependendo do estado de conservação e da importância da obra.”
Parceiros no projeto são bem-vindos
Rodrigues observa que a Casa da Criança Paralítica projeta implementar o sebo com recursos de terceiros – tanto de pessoas físicas quanto jurídicas interessadas em colaborar com essa ação. “Estimamos um custo inicial aproximado de R$ 50 mil, entre a aquisição de prateleiras, balcões para atendimento, poltronas para leituras, mesas de centro para acomodar um café ou água de cortesia, computador, impressora e mão de obra para pintura e instalação de pisos, por exemplo. Idealizamos uma infraestrutura onde o cliente possa ser bem acolhido para escolher os títulos que desejar comprar, pois um sebo costuma atrair diversos ‘garimpeiros literários’ que permanecem por horas no local até escolherem com calma o que irão levar para casa. Esses curiosos, estudiosos e colecionadores visam a diversidade de autores e o baixo custo dos livros em relação às livrarias tradicionais.”
Em uma segunda etapa, serão incluídos no espaço discos de vinil, CDs e DVDs doados. Rodrigues afirma não ter um número estimado de quantos sebos existem hoje em Campinas, mas pontua que essa opção é importante porque é um espaço de cultura sustentável. “Ao adquirir um livro usado, evita-se o corte de uma árvore. Apesar de ser algo que existe há muitos anos, o sebo é, na nossa avaliação, um mercado ainda pouco explorado no País.”
Após a implantação do sebo, o gerente ressalta que a CCP pretende promover eventos culturais para que o espaço fique conhecido do público-alvo.
“Quando a pandemia permitir, vamos promover saraus de leitura, clubes do livro, parcerias com os teatros de Campinas e outras cidades. Enfim, promover eventos culturais que possam trazer o público até o sebo da instituição. Talvez tão importante quanto gerar receita, acreditamos que esse segmento possa ser um meio de conectar afetuosamente os apaixonados pela literatura à CCP.”
Além das vendas no local, a CCP pretende ter ainda a opção de comercializar os títulos em todo o território nacional por meio de sites de comércio eletrônico, como o Estante Virtual e o Mercado Livre.
Como doar os livros?
Para doar ao projeto da CCP, basta os livros estarem em bom estado de uso. As entregas podem ser feitas diretamente no Bazar do Sonho, localizado na sede da instituição, à Rua Pedro Domingos Vitalli, 160, no Parque Itália, em Campinas, ou o interessado pode encaminhar uma mensagem pelo WhatsApp (19) 971709726 para combinar a retirada dos títulos onde estejam armazenados.
Conhece o trabalho da Casa da Criança Paralítica?
A Casa da Criança Paralítica oferece atendimento gratuito especializado a crianças, adolescentes e jovens com deficiência física e comprometimento neurológico nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, médica, odontologia, psicologia, nutrição, serviço social e pedagogia, além de orientação às famílias. Em sua sede são atendidos mais de 350 pacientes por mês, a maioria de baixa renda. Neste período de pandemia de Covid-19, no entanto, apenas os casos mais urgentes são atendidos presencialmente. Os demais, de forma online.
A instituição é certificada como Organização com Boas Práticas em Transparência e Gestão pela Phomenta, que integra o Comitê Internacional de Monitoramento de ONGs. A certificação segue os princípios de ética do Comitê e tem como objetivo desenvolver boas práticas em transparência e gestão para as organizações e proporcionar confiança aos parceiros e à sociedade civil.
Katia Camargo é jornalista e acredita que deve ser uma delícia viver e trabalhar em meio aos livros que já cheiram história e foram grafados. Quando visita um sebo ela gosta de olhar as dedicatórias dos livros, muitas vêm recheadas de histórias, e quer muito visitar o Sebo da Casa da Criança Paralítica, quando inaugurado.