“A vida foi feita para ser superada e não lamentada”, reforça Mauricio Mendes de Souza Júnior, o Juninho, durante a nossa conversa. Aos 35 anos ele coordena e atua no time de futebol de amputados da Ponte Preta, única equipe da modalidade da região. O projeto, que promove a inclusão social das pessoas com deficiência por meio do esporte, foi idealizado por Juninho e Diego da Silva Barbosa Dias, o Dieguinho. A equipe da Ponte Preta de Futebol de Amputados existe há quatro anos e atualmente conta com 25 jogadores.
Juninho nasceu com uma má-formação congênita em uma das pernas, mas não deixou que isso o impedisse de buscar o seu sonho de criança: ser jogador de futebol. “Na infância eu não conseguia jogar futebol de igual para igual, porque as outras crianças me deixavam com vantagem, não me marcavam. Às vezes eu nem sabia o que era pior, se era não jogar ou me tratarem diferente dos outros meninos”, lembra.
Depois de assistir a um vídeo de um time de Futebol de Amputados da Angola que jogava com muletas, foi atrás de equipes para poder praticar o esporte, ao qual se dedica já há nove anos.
Hoje, Juninho lidera o time da Ponte Preta de Futebol de Amputados e soma participações no Campeonato Paulista, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e Copa do Mundo no México. Logo na primeira competição pelo clube de Campinas, a Copa do Brasil 2017, a equipe conquistou um vice-campeonato e levou ainda os prêmios de Atleta Revelação e o de Melhor Técnico do torneio. Agora ele foi convocado para participar dos treinos para a Copa do Mundo em 2022, na Turquia.
Além do futebol, Juninho ainda pratica Futevôlei de Amputados e Corrida de Rua. “O futevôlei de amputados tem conquistado seu espaço por aqui também”, conta.
Mas durante a semana Juninho, que mora em Cosmópolis, trabalha numa empresa financeira em Campinas. Todos os dias ele pega o ônibus em sua cidade e vem para Campinas. “Às vezes conciliar tudo é desafiador, mas assim como eu realizei o meu sonho no esporte, sei da importância de incentivar para que outras pessoas também realizem. Nunca imaginei que eu iria viajar para outro estado, muito menos para outro país representando o Brasil. Jogar bola para mim é muito mais que superação é algo extraordinário. Quando eu entro em campo não existe limitação”, conta.
Quer saber mais sobre o futebol de amputados?
Trata-se de uma variação do futebol convencional e conta com a participação de jogadores com amputação de membros inferiores e goleiro com amputação de membros superiores. A modalidade chegou ao Brasil em 1986, ano em que também aconteceu a primeira competição brasileira, na cidade de Linhares-ES. Atualmente, o Brasil é o único país tetracampeão de Futebol de Amputados, sendo uma das maiores potências da modalidade no mundo.
Kátia Camargo é jornalista e quando estava escrevendo este texto se lembrou do documentário da Netflix, Crip Camp – Revolução pela Inclusão, da produtora de Barack e Michelle Obama, que narra o ponto zero de todas as lutas pela inclusão da diferença. Crip Camp não trata apenas de tolerância e inclusão, ele muito vai além, pois consegue dar voz até a quem, literalmente, não a possui. As imagens são potentes e os registros impactantes. Vale a pena assistir!