Essa semana uma aluna me contou que ganhou um presente de uma pessoa do trabalho dela; presente esse que veio de uma das donas da empresa em que ela trabalha. Minha aluna ainda completou dizendo que tal pessoa não enxerga, porém vive perguntando como ela está sempre que a encontra pelos corredores do trabalho. O início dessa nossa reflexão parece não ser tão atrativo eu sei, mas e se eu lhe convidasse a refletir junto a mim sobre o seguinte cenário, que inclusive foi exposto pela minha própria aluna: como é ser visto por uma pessoa cega e que hierarquicamente falando está muito acima de você no trabalho?
Vamos avançar mais um pouco? Pois bem, como é perceber isso e constatar que outras pessoas que com você trabalham passam ao seu lado, enxergam fisicamente possuindo olhos saudáveis, mas nem olham na sua cara? Tendo tais dados como base, posso contar com sua presença para juntos refletirmos sobre esse tema? Obrigado por estar comigo, mesmo sem estar me vendo fisicamente.
Ao ouvir isso de minha aluna fiquei boquiaberto com vários pontos do fato. Primeiro pela tal mulher não enxergar, mas sempre que nota minha aluna em algum setor da empresa faz questão de cumprimentá-la. Aqui logo de cara me faz pensar que para ser notado não precisa ser ‘visto com os olhos da carne’, é como se as pessoas pudessem perceber ou sentir as outras pessoas somado a algum tipo de energia que elas emanam, algum tipo de vibração, algo que seja mensurável.
Segundo ponto é pela hierarquia na empresa; a mulher em questão que não enxerga é uma das donas e trata minha aluna (uma estagiária) com todo carinho possível, enquanto os demais funcionários acabam por menosprezá-la, subestimá-la e/ ou nem enxergá-la! Esses dois pontos me marcaram muito no relato dessa aluna!
Agora se você se sentir confortável em mudar o ambiente dos fatos dessa nossa reflexão, fique a vontade, não precisa ser sobre uma aluna, numa empresa, com uma mulher deficiente visual, você pode muito bem adaptar aí, na sua realidade. Como lhe tratam os que contigo convivem? Como você percebe que lhe percebem (se é que lhe percebem)? É útil em algum momento, serve para alguma coisa? Ou será que dentro de casa nem faz diferença, muito menos falta? Já parou para pensar nisso, seja lá qual for seu contexto social ou familiar: seja lá você pai, mãe, filho, filha, irmão, avô, avó, aluno, professor, empregado, patrão… ?!
Convido você a perceber no relato da minha aluna sobre a humildade dessa mulher que não enxerga, por ser uma das donas da empresa e notá-la! Perceba que não se trata de olhos de carne, não é ser visto pelas retinas que temos, mas é ser notado, isso me soa sinônimo de simplicidade, de empatia, de conexão, de liderança, de humildade dentre tantos outros adjetivos que seguem nessa mesma linha de sentimentos.
Em contrapartida há aqueles que nem sabem que você existe, mesmo estando ali, ao seu lado, não sabem que você existe até que precisam de algo que você possa vir a lhes oferecer. Como é para você refletir sobre isso?
E o inverso, ao invés de você ser a vítima, será que você não é, em vários momentos do seu cotidiano, aquela pessoa que passa por muitas pessoas que contigo colaboram e nem as olha nos olhos em sinal de agradecimento, em sinal de conexão?! Já parou para pensar nisso?
Pense nisso, nos dois lados da moeda. Como você percebe isso tudo que expus aqui? Há algum aprendizado que você possa extrair disso para suas práticas profissionais e pessoais? Espero que sim, pois eu fui o primeiro a extrair essa lição de humildade e de conexão que transcende a carne. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL)