Você sabia que muita gente descarta fotografias antigas e que não fazem mais sentido para sua história no lixo reciclável? As fotos ajudam a contar histórias, eternizar momentos, trazem referências de uma época, dos costumes e muito mais. Mas, em algum momento, podem perder o sentido para a família ou para a pessoa que é guardiã dessas imagens.
Foi por acaso que a fotógrafa e artista Estefânia Gavina começou a guardar essas imagens da história de outras pessoas, o que depois se transformou no ACHO Arquivo – Coleções de Histórias Ordinárias.
“Em 2014, eu estava fotografando casas demolidas em Campinas. Eu entrava dentro do processo de demolição da casa e fotografava os pedreiros e parte da demolição. Depois voltava e entregava uma foto para eles. Nesse processo conheci o catador J.B., ele contou que sempre encontrava álbuns e fotos antigas no material que recolhia, o que para ele não tinha muito valor. Foi então que pedi para ele separar essas imagens para mim. Assim começou esse processo de troca e venda com J.B. e depois fui conhecendo outros catadores que colaboram até hoje com a construção desse acervo”, conta.
Sem nos darmos conta vamos mergulhando na história do outro por meio da fotografia e, em muitos casos, nos conectando com a nossa história.
Parte do arquivo de fotos pode ser acessada no Instagram @acho_imagens, as histórias começam a pipocar, como, por exemplo, os casamentos, os aniversários, paisagens, animais, os retratos antigos e amarelados pelo tempo na parede, viagens pelo Brasil e pelo mundo, concursos de beleza, formaturas de colégio e faculdade, bebês, crianças com seus brinquedos antigos, flores, um varal cheio de roupas, retratos rasgados, algumas risadas e outros sorrisos mais tímidos.
Estefânia conta que hoje as fotos não chegam só do lixo. “Recebemos doações de muitas pessoas. Recentemente um jovem estudante da Unicamp doou 10 álbuns que traziam fotos das viagens que sua avó fez pelo mundo. Ele doou e disse que saberia que a história da família estava em boas mãos”, diz.
Esse processo de assumir o arquivo de pessoas comuns como algo importante para ser protegido é feito em parceria com a pesquisadora Fabiana Bruno, que é pesquisadora de imagens da Unicamp e assim foi criado o arquivo de histórias ordinárias.
“Ela começou a oferecer esse material para fazer residência de arte. Já fizemos quatro residências, e já passaram uns 50 artistas para pesquisar esse rico material”, lembra. Elas também recebem pesquisadores de imagens da Colômbia.
As visitas presenciais ao ACHO são realizadas mediante agendamento direto com Estefania Gavina pelo WhatsApp [19] 99107 3002 ou e-mail: [email protected]
Kátia Camargo é jornalista e gosta bastante de conhecer as histórias que as fotos contam. Ainda tem o hábito de montar um álbum impresso por ano.