É necessário levar-se em consideração o “todo” no qual está inserido um aluno, seja em uma escola, seja em uma universidade, seja aprendendo novas práticas em um novo cargo no emprego? Infelizmente a maioria dos profissionais da educação não faz isso, e aqui também estão expostos os profissionais que deveriam ensinar subordinados em seus respectivos empregos.
Seria necessário, logo na infância, a criança aprender a Ser um personagem no Teatro da Vida, deixando de lado a verdade que ele já carrega consigo? É com base nessa pauta que trago a proposta do grande Piaget, com sua enorme contribuição para a filosofia educacional e a psicanálise. Você aceita vir comigo nessa reflexão? Ótimo, que bom poder contar com você, então vamos lá!
Piaget foi um grande profissional da área da filosofia, da educação e da psicanálise que se dedicou a estudar as estruturas da mente das crianças e sua respectiva relação com o desenvolvimento cognitivo da infância.
Observando seus filhos e outras crianças, Piaget propôs uma teoria dos estágios do desenvolvimento cognitivo da criança, que influenciou no modo com que a criança viesse a aprender algo, seja no ambiente escolar, seja fora dele. De acordo com Piaget, em sua teoria dos estágios do desenvolvimento intelectual, os conteúdos ensinados devem estar de acordo com o desenvolvimento cognitivo da criança, não podendo excluí-la de seu contexto, preocupando-se com o que ela vivencia; com suas experiências nesse determinado contexto e período.
As quatro fases do desenvolvimento cognitivo logo na infância e que se estendem na adolescência e fase adulta perpassam pelo físico-motor que descreve a maturação do corpo e da mente, pelo intelectual que se refere à capacidade cognitiva do ser humano, pelo afetivo-emocional que demonstra a capacidade de integrar experiências e emoções, construindo seus sentimentos e o aspecto social que são reações e posturas relacionadas às vivências em sociedade.
Segundo Piaget, o conhecimento não está no sujeito-organismo, tampouco no objeto-meio, mas é decorrente das contínuas interações entre os dois. Para ele, a inteligência é relacionada à aquisição de conhecimento na medida em que sua função é estruturar as interações sujeito-objeto.
Partindo desses dados teóricos de Piaget que expus acima, vamos então para a convivência, uma vez que não vivemos em uma ilha deserta, mas sim em uma sociedade política. Conviver é “viver com…”, respeitando princípios e valores diferentes dos nossos, tendo direitos e deveres morais. Sendo assim é natural que ninguém seja igual a ninguém, cada um possui sua realidade, sua singularidade, suas dificuldades, motivado por algum prazer, impactado por algum sentimento e/ou realidade num contexto em que nasceu; que já passou; que está armazenado em seu inconsciente lhe impedindo de progredir e prosperar na vida e/ou que esteja passando agora e acaba não verbalizando isso para não machucar os demais que com ele vivem, passando por tal dificuldade e sofrimento sozinho.
Partindo dessa constatação racional, piagetiana, porém empática, não podemos apenas sair apontando o dedo dentro de sala de aula dizendo que determinado aluno é burro porque vai mal em determinada disciplina, nem fora da escola, no trabalho, na vida pessoal, pois sequer sabemos das “feridas emocionais, das máculas” que essa pessoa carrega consigo em seu inconsciente obtidas em seu contexto social, familiar e ambientes nos quais fez-se um ser humano maduro.
Essa temática me soou muito pertinente a partir do material que recebi para ensinar em sala de aula, e o retorno que recebi de meus alunos é que eles tinham em sala de aula professores que não possuíam tal virtude empática de curiosidade, de buscar entender o que há por detrás daquele aluno com notas baixas.
Talvez um aluno sem pais, com familiares internados, sem alimentação, que vão ou vem direto do trabalho, acordando de madrugada e chegando meia noite em casa… Isso, segundo Piaget, deve ser levado em consideração, pois estamos em um sistema que engloba diversas áreas de nossa vida e exige de nós diversos papéis sociais.
Agora, tal teoria não é válida apenas na área da educação escolar, mas sim na educação social, na vida adulta, mesmo dentre pessoas sem estudo, faz-se necessário princípios éticos visando o bom convívio social e suas respectivas interações. Porém o fato é que vivemos em uma era digital, na qual faz-se necessário personagens, tal como um ator, uma atriz, necessitando de habilidades para interpretar papéis para ser aceito, ter seguidores, não ser cancelado, receber elogios.
É como se houvesse uma cobrança para grandes resultados, mas não se leva em conta o contexto no qual a pessoa, o ator, a atriz vive ou cresceu, é como se isso pouco importasse e se tal pessoa não desempenhar um bom papel no Teatro da Vida ela perde o posto, recebe críticas, é cancelada e perde seu espaço.
Faz concluir que quem se dá bem na era digital é quem consegue manter o melhor personagem, sorrindo, mesmo que guardando as lágrimas de uma pessoa real, sem maquiagem, sem fantasias, que sofreu e ainda sofre por algo ali, nos “camarim do teatro”.
Parece-me que a maioria das pessoas não se interessa pelos bastidores, na verdade o que realmente é comum de ser exercido é o julgamento, a crítica fria: bom ou ruim, aprovado ou reprovado, digno de like ou passível de ser cancelado.
Tendo refletido sobre essa filosofia do psicanalista Piaget voltada à educação infantil, refletida na vida adulta, vida na qual necessitamos sustentar personagens, qual a sua percepção acerca disso? Reflita aí, sem precisar usar uma máscara para tal leitura.
Thiago Pontes é filósofo, professor e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial