Quantas vocês você respondeu a algum questionamento que lhe fizeram com a frase: “- Não sei”? É a partir desse questionamento que pretendo, junto a você minha querida leitora, meu caro leitor, a refletir sobre a famosa ‘humildade socrática’. Você poderia me acompanhar nessa jornada? Ótimo, obrigado por não me abandonar aqui, vamos lá então.
Para embasar essa nossa reflexão eu primeiro gostaria de lhe apresentar o maior nome da filosofia, (área que atuo como professor): Sócrates. Ficou famoso por questionar o povo do seu tempo, os cidadãos, os chamados ‘sábios’, políticos, os princípios e valores…
Ele questionava as verdades daquela época, naquele contexto, era uma pessoa importuna, vivia azucrinando as pessoas com perguntas e mais perguntas sempre insatisfeito com as respostas a ele dado e quando essas pessoas ficavam sem paciência lhe devolviam a pergunta que a eles foram feias para que o filósofo Sócrates desse então a tão esperada resposta, e ele dizia:
“Eu não sei”, foi ele o pensador que disse a famosa frase “Sei que nada sei”.
A partir dessa introdução gostaria de trazer você para os dias atuais, dias em que o que mais encontramos por aí, principalmente em redes sociais são pessoas cheias de certezas, gurus da autoajuda, mestres daqui, profetas dali, gente que diz saber mesmo sem de fato saberem.
É como se fosse vergonhoso expressar que não se sabe sobre determinado assunto. Vivenciamos isso na época que recém passamos no tocante a política, não encontrei uma pessoa sequer que disse não saber em quem votar, uma pessoa sequer que disse não saber de verdade sobre o histórico ou principalmente sobre as propostas dos candidatos.
Na filosofia há duas palavras em grego que diferenciam opinião do conhecimento de fato, explorado a fundo: ‘doxa’ para o primeiro e ‘episteme’ para o segundo.
A maioria das pessoas externaliza o primeiro: a doxa, ou seja, opiniões sem base, sem dados palpáveis, estudados, é o famoso: “Eu acho…”.
Recordo-me que no último ano da faculdade eu precisava escrever a famosa monografia, conhecido também como TCC, um trabalho final sobre algum filósofo, estava confuso sobre alguns detalhes do autor francês chamado Jean-Paul Sartre, perguntei para quatro professores diferentes, com mestrado, doutorado, pós-doutorado e todos; repito, todos me olharam nos olhos e me responderam: “Olha Thiago, sobre esse autor eu não sei nada!” Todos os quatro eram de grande prestígio na universidade, e de grande renome fora dela no meio acadêmico, davam palestras fora do país, mas tiveram a famosa ‘humildade socrática’ de dizer que não sabiam.
Hoje o que mais vejo nas redes sociais, e até mesmo em sala de aula são pessoas impondo e se vangloriando sobre saberem de tudo um pouco, sempre com respostas prontas, ‘achismos’ na ponta da língua, e que curiosamente não estão abertos a ouvir outras opiniões, muito menos buscar por outras interpretações de um determinado fato.
Como escrevi acima, ’pega mal’ dizer que não sabe sobre o assunto em questão, é mais fácil dizer que possui a fórmula mágica para determinado problema, é extremamente benéfico e lucrativo, no tocante a imagem pessoal e midiática, ter uma resposta na ponta da língua, tal como um guru, sobre o que é a vida e qual o sentido dela.
Após essa nossa reflexão convido você a parar e perceber em seu cotidiano a quantidade de vezes que você utiliza seus dois ouvidos para prestar atenção no que lhe é dito sem se apressar a julgar, convido você a prestar mais atenção na quantidade de ‘achismos’ que você expressa e na quantidade de vezes que você tem as supostas respostas prontas e perfeitas na ponta da língua para problemas de verdade, por vezes inéditos do cotidiano social! Um grande abraço.