Em 21 de janeiro de 1924, morria o corpo físico do personagem que viria a ser considerado, pelo historiador Eric Hobsbawn, o de maior impacto individual da história do século. Seu nome: Vladímir Ilitch Ulianov, ou Lênin.
Para prestar a devida, mas não suficiente homenagem, melhor que minhas palavras são os relatos do escritor russo Máksim Górki, contemporâneo de Lênin, em seu livro “Meus dias com Lênin”:
“Ele não é apenas um homem cuja vontade foi escolhida pela História para desempenhar tarefa de reorganizar, desde as camadas mais baixas, aquele formigueiro humano diverso, desajeitado e indolente conhecido como Rússia. Sua força de vontade é um aríete incansável, cujos golpes abalam as próprias fundações dos monumentais estados capitalistas do Ocidente e os horríveis e escravistas amontoados de despotismos milenares do Oriente.”
“As palavras que ele usa são extremamente simples; sua fala é como ferro forjado; sua lógica é como o golpe de um machado. No entanto, mesmo com sua dicção severa, nunca ouvi uma palavra grosseira ou demagogia, nem o dandismo nojento das frases bonitas. Ele sempre discursa sobre a mesma coisa: a necessidade de destruir, pela raiz, a desigualdade social entre os homens e sobre como isso pode ser feito.”
“Lênin é maior do que qualquer outro de meus contemporâneos.”
“O primeiro objetivo de toda a vida de Lênin é o bem de toda a humanidade, e é inevitável que ele vislumbre, nas distâncias obscuras das eras, o fim e o término desse poderoso processo, que ele tão corajosa e asceticamente, com toda a força de sua vontade, se dedica a iniciar. Ele é um idealista, se por essa palavra se entende a unificação de todas as ideias em uma ideia de bem universal.”
“Um realista severo, um político inteligente. Lênin gradualmente torna-se uma figura lendária.”
“A simplicidade e franqueza de tudo o que ele dizia eram uma parte essencial de sua natureza. Os feitos heroicos que ele realizou não estão cercados por nenhuma auréola reluzente. Ele personificou aquele heroísmo que a Rússia conhece bem: a vida modesta e austera de autossacrifício do verdadeiro intelectual revolucionário russo que, em sua crença inabalável na possibilidade de justiça social na terra, renuncia a todos os prazeres da vida para lutar pela felicidade da humanidade.”
“Ele fez um discurso mais curto do que os oradores que falaram antes dele, mas ele causou uma impressão muito maior. Eu não senti isso sozinho. Atrás de mim, escutava um sussurro entusiasmado: “Ora, esse aí sim tem algo a dizer”. Tinha, de fato. Suas conclusões não eram alcançadas artificialmente, mas desenvolvida por si mesmas, inevitavelmente.”
“Simplicidade. Ele [Lênin] é tão simples quanto a verdade em si.”
”Lênin era excepcionalmente incrível, na minha opinião, precisamente por causa desse sentimento nele, de hostilidade irreconciliável e inextinguível para com os sofrimentos da humanidade, sua fé ardente de que o sofrimento não é uma parte essencial e inevitável da vida, mas uma abominação que a pessoas deveriam e seriam capazes de varrer para longe.”
“Eu amava a ansiedade juvenil que ele aplicava a tudo o que fazia. Seus movimentos eram leves e ágeis, e seus gestos raros, porém poderosos, estavam em plena harmonia com sua fala, por mais moderados que fossem nas palavras, mas abundantes em pensamento.
“O brilho de seus olhos tornava suas palavras mais brilhantes.”
“Suas palavras sempre davam a impressão da pressão física de uma verdade irresistível.”
“Não há força que possa apagar a tocha que Lênin ergueu na escuridão sufocante de um mundo louco. E nenhum outro homem mereceu tão bem a lembrança eterna do mundo. Vladímir Lênin está morto. Mas os herdeiros de seu pensamento e sua vontade estão vivos.”
É, caro Lênin, as forças destruidoras venceram.
O egoísmo se sobressaiu à solidariedade. O mal aniquilou o bem.
Acreditamos nos seus ideais, mas é impossível construir um novo futuro comunitário, como você queria.
Gustavo Gumiero é sociólogo e escritor – @gustavogumiero – gustavogumiero.com.br