O Dia Mundial do Meio Ambiente será mais uma vez lembrado neste 5 de junho. Neste ano da graça de 2022 a data será marcada por condições mais do que especiais, em plena conjunção de crises planetárias que acendem um grave sinal de alerta quanto ao futuro da própria civilização.
Há mais de dois anos a humanidade convive com um dos maiores desafios de sua história, a pandemia de Covid-19. Se outras catástrofes sanitárias, como a chamada Peste Negra na Idade Média e a Gripe Espanhola no início do século 20, provocaram um número muito maior de mortes, nenhum fenômeno semelhante atingiu os quatro cantos do mundo em tão pouco tempo.
Claro, a rápida disseminação do novo coronavírus se deveu ao próprio estilo de vida contemporâneo, à forma como os sistemas de transportes e as cidades foram edificados. Nesse ponto já é possível levantar um sério questionamento que estilo de vida é esse, de concentração populacional cada vez maior em reduzidos espaços.
Além disso, não são poucas as vozes sérias para quem a pandemia de Covid-19 é o resultado esperado de duas outras profundas crises planetárias, a das mudanças climáticas e a da progressiva erosão da biodiversidade. As mudanças climáticas derivam do agravamento do efeito-estufa, resultante da queima de combustíveis fósseis que, mais uma vez, está na base do estilo de vida dominante na Terra.
Já a perda rápida da biodiversidade é um efeito do desmatamento cada vez maior e do uso inadequado da terra, por exemplo por modelos agrícolas insustentáveis a longo prazo. Vários cientistas entendem que estamos passando pela sexta grande extinção de espécies, o que obviamente impacta no equilíbrio dos recursos terrestres.
Com a eliminação crescente da cobertura vegetal natural (e o Brasil está no topo das preocupações mundiais nesse momento, pela escalada da destruição da Amazônia), é esperado o fluxo de microorganismos de seu meio ambiente original para outros ecossistemas. Este fenômeno já foi verificado por exemplo na origem da AIDS e provavelmente está na gênese da atual pandemia que, pelo jeito, está longe do fim.
Enfim, é preciso pensar rapidamente, e agir de forma ainda mais acelerada, para evitar novas catástrofes. As centenas de mortes por inundações em Petrópolis, no início do ano, e na Grande Recife, nos últimos dias, mostram que os efeitos das mudanças climáticas são claros e cada vez mais presentes.
Neste ano, duas datas são lembradas em especial por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente. Há exatos 50 anos acontecia em Estocolmo, na Suécia, a primeira grande conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente. E há 30 anos era realizado, no Rio de Janeiro, o maior evento ambiental da história, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Esses dois grandes eventos colocaram em definitivo a questão ambiental na agenda global. Meio século depois de Estocolmo e três décadas após Rio de Janeiro, o planeta está em situação socioambiental muito pior, próximo de um ponto sem volta. Algo está muito errado na governança socioambiental global sob liderança das Nações Unidas. Sâo urgentes os ajustes nesse modelo de governança, mas é mais imperativo ainda que a cidadania planetária, aqui incluídos os mais poderosos (governos e grandes corporações) e os mais vulneráveis (nós, os seres humanos comuns, trabalhadores de todo dia), encontre saídas rápidas, rumo a novos estilos e formas de vida, antes que seja tarde, embora muitos já achem que não dá mais tempo.
Eu ainda cultivo a esperança. As vacinas em tempo recorde contra o Sars-Cov-2 são, para mim, um claro exemplo de que ainda é possível ter fé no ser humano, na sua inteligência quando utilizada para o bem, embora o negacionismo e a ignorância reinantes em muitos círculos, como no Brasil, estejam dizendo o contrário.
José Pedro Soares Martins, jornalista e escritor, é uma das referências em jornalismo ambiental no Brasil, além de ganhador de inúmeros prêmios sobre meio embiente e direitos humanos. Ele foi um dos profissionais que cobriram a Eco-92, no Rio, representando, à época, o jornal Correio Popular.