Vivemos tempos em que a ocupação virou símbolo de valor, de status. Ser produtivo, estar correndo (alguns até simulam estarem sempre ocupados – risos), acumulando compromissos — tudo isso, aos olhos do mundo, nos dá importância, relevo, alimenta o nosso ego.
Mas será que essa correria tem direção? Será que essa neurose nos torna melhores como pessoas? Ou, pelo contrário, nos torna autômatos, insensíveis às mazelas sociais, à realidade que nos cerca diuturnamente?
Tenho visto, com alguma tristeza, pessoas boas — familiares, amigos, até jovens — afundadas em calendários lotados, mentes exaustas e corações de pedra. Parece que não temos mais tempo nem para pensar, orar, respirar e, o principal: amarmos-nos e amarmos aos nossos semelhantes. Nossas agendas estão cheias, contudo, e nossas almas? Alma vazia não para em pé!
A sociedade da velocidade nos ensinou que parar é fraqueza, que é até mesmo deformidade de caráter, que descansar é desperdício, e que ficar em silêncio é perda de tempo. No entanto, é justamente no silêncio que ouvimos o essencial: nossos sentimentos, nossa consciência, e — por que não? — a voz de Deus.
Jesus de Nazaré retirava-se para o deserto. Francisco de Assis falava com passarinhos. Paulo de Tarso (ou Saulo) precisava do cárcere para escrever suas cartas. E nós? Precisamos de quê para voltarmos a nós mesmos? Talvez seja por isso que consultas e tratamentos com psicólogos e psiquiatras sejam tão concorridos hodiernamente?
Quem sabe seja o momento de marcar um compromisso consigo mesmo. Desligar o celular, a televisão, o rádio, cancelar o que for possível, e simplesmente estar com quem você ama — ou, pelo menos, com sua própria alma, se é que você se lembre de que ainda a possui (risos).
Ser ocupado não é o mesmo que ser relevante e importante. Ser corrido não é o mesmo que ser necessário e imprescindível. Ser presente, sim. Isso transforma. Ame-se. Ame ao seu próximo que está mais próximo de você. Afaste-se do ódio destilado em redes sociais. Tomar veneno diariamente e querer ter saúde mental e física? Impossível.
Que aprendamos, com urgência e humildade, a cuidar do tempo que nos resta — e do coração que o carrega.
Lembremo-nos: o tempo não para; ontem, éramos crianças e adolescentes; hoje, adultos e idosos. Num dia a gente chega e no outro vamos embora. E outra: poderemos ir embora antes do combinado (risos). Daqui, só levaremos o bem que praticarmos. Como diz o outro: “caixão não tem gaveta”.
Essas são as reflexões. Tomara que tenham um tempinho para introjetá-las.
Armando Bergo Neto é advogado e Ex-Procurador Geral da Câmara Municipal de Campinas