“Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas”, eis aí uma célebre frase da grande obra do escritor Machado de Assis chamada “Memórias póstumas de Brás Cubas”. Começo esse artigo com tal citação por ter tido um aprendizado essa semana, em forma de diálogo, um momento inusitado, dentro do veículo de um motorista de aplicativo, este que além de motorista nas horas vagas, tem como seu primeiro emprego o de funcionário de uma empresa funerária. Feita tal introdução, você aí, aceita refletir sobre esse tema comigo? Posso contar com sua companhia? Ótimo, então vamos à ela.
“Daqui você não leva nada de material meu caro, as coisas que realmente têm valor não são coisas… No final, o mendigo e o milionário estarão no mesmo patamar, ali, deitado, com ou sem velório, com ou sem as melhores roupas, mas isso pouco importa…”, dizia o motorista enquanto me levava à escola para eu dar aulas de Filosofia. Ali, eu não era professor, eu era um aluno, e com ele pude aprender com quem de fato tem autoridade para falar sobre o assunto: morte.
“A pessoa nem bem morreu e os familiares já estão brigando pela herança…”, acrescentou ele enquanto dirigia sem pressa… “Se eu puder lhe propor uma postura de vida Thiago: valorize os momentos simples junto as pessoas que você ama e cultive a humildade!”, eis aí a grande lição que aprendi naquela trajetória de minha casa até a escola… Esse diálogo me tocou muito, era meio dia, e pude estender tal pauta que me impactou para meus alunos na aula de Filosofia.
Feita tal exposição do que aprendi ali com o motorista de aplicativo, passo a bola para você minha querida leitora, meu caro leitor: como anda sua relação de apego aos bens matérias? Você está vendendo de modo extremo seu tempo por pura ganância e ambição para ter mais, mais e mais conforto? Há um excesso de autocobrança para obter o chamado sucesso? Como você o definiria? Vale a pena passar a vida obtendo coisas, por vezes com o objetivo de se aparecer, de se mostrar um vencedor, uma campeã dos bens matérias?
Qual sua motivação para almejar tudo isso? Qual sua motivação para ir malhar em uma academia: por que filmar seu treino? É para mostrar o corpo “sarado” para os outros, recebendo likes ou para ter saúde? Para que o carro importado, seria exibição? Talvez um pouco de Psicanálise aqui venha a calhar, uma vez que busca-se preencher um vazio existencial com coisas fúteis que passam, que no fundo, nada preenchem…
Por vezes tenho a tentação de encarar por outro ângulo o tema aniversário: seria mais um ano de vida, ou menos um? Na Filosofia há um pensador do século 500 a.C , seu nome era Heráclito, que dizia que a cada instante não somos mais os mesmos, e tal mudança se dá de modo progressiva seja tornando-se uma pessoa madura mentalmente, seja tendo o corpo comprometido para com o envelhecimento rumo ao findar da vida.
“O que realmente importa quando você vem a óbito não são coisas, não são bens materiais, são experiências, sentimentos, momentos, uma postura de vida digna de ser respeitada e quiçá espelhada por aqueles que ficaram!”, essas foram as últimas palavras que o motorista me disse ao estacionar em frente ao meu destino final: a portaria da escola. Espero que você tenha gostado do tema do artigo de hoje e, lhe convido a refletir sobre essa temática sem pressa, certamente ela irá mexer com você e suas prioridades. Um grande abraço.
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial