Campinas, Silvia Regina Brandalise e Centro Infantil Boldrini. Uma combinação de palavras que remete a desafios, inovação, conquistas e cura. A médica que ajudou a alicerçar os protocolos de tratamento do câncer infantil no Brasil, também colocou Campinas no mapa do tratamento oncológico do mundo. O Centro Infantil Boldrini é referência não só pela expertise do cuidado oferecido, mas pela proposta de ser um lugar único. Iluminado, acolhedor, artístico, que cuida das crianças, de suas famílias e enxerga a saúde física e mental, conjuntamente.
A relação da médica, pesquisadora e filantropa – só para citar alguns adjetivos – com Campinas é baseada em ações, pioneirismo e empenho. A energia para seguir inovando, conta, nasce da motivação. É preciso propósito para tudo que se faz na vida, ensina ela. Ao mesmo tempo em que Campinas traz para a ela a sensação de conforto, também simboliza a realização profissional, que não para nunca de evoluir.
Dentre as muitas qualidades que Silvia Brandalise atribui a Campinas está a solidariedade. Sem ela, lembra, o Centro Infantil Boldrini não teria passado de um sonho sem referências no Brasil. O projeto de sua vida começou em 1978 e continua a ganhar braços e abraços da comunidade. É uma obra inacabada. No campo na medicina, Silvia Brandalise vislumbra mais, como uma unidade de Protonterapia, uma moderna terapia que usa feixes de prótons para radiar tumores, principalmente os neuro-oncológicos. É a forma mais avançada de radioterapia.
É o próximo desafio para quem já abriu as portas da instituição a 30 mil crianças, a maioria delas tratada pelo Sistema Único de Saúde. Esteve à frente de estudos revolucionários, como o lançamento do protocolo de tratamento da leucemia linfoide aguda – o tipo de câncer que mais acomete crianças –, que elevou a taxa de cura da doença de 5% no final da década de 1970, quando foi lançado, para os atuais 70%.
Confira, a seguir, a entrevista com Silvia Brandalise
O que é Campinas para a senhora?
Silvia Brandalise: A cidade de Campinas me traz os sentimentos de conforto, tranquilidade, realização profissional e social, com profunda sensação de bem-estar.
Como a senhora posiciona Campinas dentro do cenário da saúde brasileira?
No cenário nacional da Saúde, posiciono Campinas entre os mais elevados níveis de Atenção Médica.
Quando foi que surgiu a resolução de vida que a levou a focar seus esforços ao tratamento do câncer infantil?
Minha decisão de especializar em câncer pediátrico ocorreu cerca de oito anos após minha Residência Médica na Escola Paulista de Medicina. Naquele período, era contratada como professora de Pediatria na Unicamp.
Antes da história do Boldrini começar, a senhora se envolveu em outros desafios, como o de criar Ambulatório de Pediatria embaixo de uma das escadas da Santa Casa, ainda na década de 1960. E depois o inédito laboratório de coagulação sanguínea. Como consegui tantas conquistas em tempos tão difíceis como aqueles?
As conquistas mencionadas representaram uma resposta a uma demanda pessoal. Sempre desejei trabalhar com dignidade e respeito ao próximo, fazendo a assistência médica de melhor qualidade. Buscando continuamente novos conhecimentos, novas tecnologias, oferecendo aos pacientes a segurança do melhor diagnóstico e tratamento.
Por que Campinas foi escolhida para receber o Centro Infantil Boldrini?
O Clube das Ladies de Campinas criou o Centro Infantil Boldrini, como fruto da solidariedade da sociedade de Campinas, em parceria com a Universidade Estadual de Campinas.
Ciência/Conhecimento de mãos dadas com o Amor, Carinho e Compaixão frente aos pequenos e jovens pacientes com câncer.
Conseguir apoio às causas do tratamento do câncer é complicado no Brasil?
Nós temos exemplos bem-sucedidos desta solidariedade em outros estados que implantaram centros de oncologia pediátrica, como por exemplo, Rio Grande do Sul, Brasília, São Paulo e outros.
A senhora lançou, ainda na década de 1980, o primeiro protocolo de tratamento da Leucemia Linfoide Aguda (LLA) para crianças. E muitas outras inovações se seguiram na oncologia pediátrica com sua colaboração. Qual a maior dificuldade de empregar inovações na Saúde brasileira?
Não encontrei dificuldades em inovar ou conduzir estudos clínicos. O essencial, todavia, é a sua motivação.
O Centro Boldrini é uma rede de cuidados que engloba todos os processos envolvidos no tratamento do paciente. O objetivo original era criar esse modelo completo de atenção, ou os serviços foram se ampliando conforme as necessidades dos pacientes iam surgindo?
O Boldrini foi criado inspirado no Hospital St Jude em Memphis, Tennessee (USA). Todavia, o desenvolvimento da Medicina e das novas tecnologias demandaram por ampliações significativas, como, por exemplo, a área para a reabilitação e a área para pesquisas.
Temos ainda a necessidade de implantar a Protonterapia no Boldrini. Trata-se de uma nova modalidade de radioterapia, que acarreta menos efeitos tardios nos pacientes.
De quando ajudou a plantar a semente do Boldrini, até os dias de hoje, quais foram os maiores desafios da criação de um centro de referência?
O maior desafio é você manter sempre a Fé e a Esperança, decantando as dores, lágrimas, medos e tristezas.
O maior Centro de Pesquisa em Oncologia Pediátrica da América Latina é o Centro de Pesquisa Boldrini. Seria possível listar os principais avanços obtidos a partir das pesquisas do Centro?
Do ponto de vista da Medicina, aprendemos muito convivendo com outros profissionais de distintas áreas da Saúde, que trouxeram inquestionáveis benefícios na Medicina Personalizada, ajustando o tratamento de acordo com a resposta terapêutica de cada paciente.
Muitas foram as causas que a senhora assumiu fora do campo do tratamento, como a de fornecer medicamentos de eficácia comprovada às crianças e não os adquiridos pelo Ministério da Saúde. Há ainda muitos entraves burocráticos no tratamento do câncer infantil?
Por princípio, não penso nos entraves. Me norteio pelas soluções.
SAIBA MAIS
Uma história de vida dedica ao câncer infantil e ao acesso aos tratamentos é contada no livro “Silvia Brandalise e sua luta no combate ao câncer da criança e do adolescente”. A biografia da médica foi escrita por Rita Ribeiro.
A obra conta a trajetória de Silvia Brandalise na luta pela ciência, pelos direitos básicos e, sobretudo, pela vida e saúde das crianças e adolescentes, em busca de um tratamento adequado a eles, de forma justa, eficaz e gratuita.
Segundo a autora, “algumas raras pessoas nasceram para revolucionar, mudar a realidade e fazer a humanidade dar um salto, e Silvia Brandalise é uma delas”.
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