O Carnaval já começou e o consumo de bebidas alcoólicas aumenta nesse período. Além disso, a mistura da bebida com outras substâncias e atividades é uma opção usual entre muitos foliões. O CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool –, referência nacional no tema, alerta para o perigo dessas combinações à saúde.
“As consequências podem ser severas, mas muitas pessoas acreditam que essas misturas são inofensivas”, explica Arthur Guerra, psiquiatra e presidente do CISA. “Inclusive, a ressaca deve ser encarada com seriedade, pois afeta funções cognitivas até o dia seguinte a um episódio de consumo excessivo.”
com a intenção de alertar as pessoas para o perigo dessas combinações, o CISA aponta as cinco misturas que podem expor os foliões a riscos imediatos de saúde:
- ÁLCOOL E ENERGÉTICO: essa combinação pode levar à percepção equivocada de embriaguez, com risco de a pessoa beber além do limite, aumentando assim o consumo de álcool e os prejuízos à saúde, como comportamento sexual de risco. “Os efeitos estimulantes dos energéticos mascaram os efeitos depressores do álcool. Além disso, a cafeína aumenta a euforia e reduz a sensação subjetiva de embriaguez, fazendo a pessoa sentir e pensar que está ‘menos alcoolizada’ do que verdadeiramente está. No entanto, essa mistura não reduz o comprometimento real do álcool e expõe a pessoa a maiores riscos”, explica a psiquiatra pesquisadora do CISA, Olivia Pozzolo. Também é preciso considerar outros efeitos, como complicações cardiovasculares.
- ÁLCOOL E REMÉDIOS: essa interação pode produzir diversos efeitos no organismo, dificultando o efeito da medicação, causando possível descontrole de doenças pré-existentes; acentuando os efeitos da bebida alcoólica, provocando intoxicação com uma quantidade menor de álcool; ou ainda desencadeando uma reação inesperada como o efeito antabuse, no qual ocorrem vômitos, palpitação, cefaleia, hipotensão e dificuldade respiratória, podendo até levar à morte. O cuidado deve ser ainda maior com a mistura entre álcool e remédios antidepressivos e ansiolíticos. “Pergunte ao seu médico se o medicamento que está tomando pode interagir com o álcool, leia a bula do fabricante e nunca abandone o tratamento medicamentoso para beber”, orienta Olivia.
- ÁLCOOL E DIREÇÃO: muitas pessoas ainda acreditam que “só” um pouco de bebida alcoólica não faz diferença, ou há aqueles que se consideram imunes aos efeitos do álcool. Mas não é bem assim. “As alterações cognitivas e motoras ocorrem mesmo que não sejam percebidas pelo condutor. Por isso, quando se trata de beber e dirigir, qualquer dose de álcool é perigosa, pois afeta o reflexo, a percepção de risco e a capacidade de reação, mesmo que a pessoa não se dê conta”, alerta Guerra.
- ÁLCOOL E AMBIENTE AQUÁTICO: à medida que a concentração de álcool se eleva no sangue, com o aumento da ingestão de bebida, há um excesso de autoconfiança e uma diminuição na capacidade de discernimento. “Sob efeito do álcool, a pessoa superestima sua competência aquática e tem dificuldade em avaliar adequadamente os riscos do local”, explica Olivia. Os casos de afogamento têm aumentado no Brasil e 12% desses casos têm como causa o consumo de álcool. Outro alerta importante está relacionado à supervisão de crianças – maiores vítimas fatais de afogamento. Escolha um adulto responsável que não irá ingerir bebida alcoólica, pois a capacidade de atenção é reduzida quando há consumo de álcool.
- ÁLCOOL E SUBSTÂNCIAS ILÍCITAS: o uso simultâneo de álcool e maconha pode sobrepor e potencializar os efeitos de ambas substâncias. O álcool aumenta a absorção do principal componente psicoativo da maconha (THC) que, por sua vez, aumenta a intoxicação subjetiva e eleva os níveis de álcool no sangue. Outra substância ilícita comumente associada ao álcool e que apresenta riscos significativos à saúde é a cocaína. Essa combinação aumenta a probabilidade de comportamento de risco, devido à euforia e diminuição da inibição causadas por ambas as substâncias. A mistura pode levar a um aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, potencializando o risco de eventos cardiovasculares como ataques cardíacos e derrames. Para não estragar a folia, além de evitar essas misturas, sempre que decidir beber, não exagere no consumo e fique atento para: 1) intercalar o consumo de álcool com bebidas não alcoólicas para evitar a desidratação, 2) alimentar-se antes de beber e enquanto estiver bebendo, pois a ingestão de alimentos proporciona uma absorção mais lenta do álcool pelo organismo, e 3) beber devagar. Gestantes, menores de idade e pessoas com problemas com o álcool, assim como motoristas, devem abster-se totalmente do consumo de bebidas alcoólicas.