Brasileiros de várias idades e origens fazem ecoar suas demandas pela ação climática em Sharm el-Sheik, no Egito. Eles integram a sociedade civil presente na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27. Mais de 3,3 mil pessoas participaram na reunião que destaca a implementação das metas acordadas para a solução da crise do clima.
Os participantes buscam que as regras do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas, assinado em 2015, sejam implementadas. Outro alvo é garantir os meios de colocar esse caminho em prática.
A indígena Txai Suruí brilhou ao discursar para o mundo em 2021 na abertura da COP26 em Glasgow, Escócia. No Egito, ela diz preferir fixar o olhar no rumo das atuais negociações e chama a atenção dos 193 países sobre questões-chave que, se não forem resolvidas, podem afetar vários povos.
“O que eu vejo é que muito pouca coisa mudou desde o último COP. A gente está com uma dificuldade muito grande em avançar nos nossos acordos. A gente ainda não vem colocando como prioridade aquilo que deve ser. A gente vem tentando ainda excluir os povos indígenas das perdas e danos, e isso é um absurdo. Quando é que a gente vai ter um compromisso com o nosso futuro? Quando não tiver mais tempo e mais ar para respirar? Quando a gente não tiver mais comida para comer? Nem água para beber? É nesse momento que a gente vai se preocupar?”.
A representante do movimento brasileiro Engaja Mundo, Ana Rosa, pede resultados concretos nas negociações agora na etapa final. Ela descreve a ação de jovens e o compromisso com o ativismo climático, quando se aguardam as decisões que orientem o mundo inteiro.
Novas possibilidades de mundo
“A nossa maior expectativa, enquanto delegação, é fazer com a juventude esteja no centro do debate dentro da COP27. Isso significa que nossas histórias, trajetórias, agendas e todas as reivindicações também são necessárias para a gente constituir e pensar novas possibilidades de mundo.”
A sociedade civil tem grandes expectativas em relação a consensos em temas como fundo climático, financiamento de adaptação, perdas e danos, mercados de carbono, linguagem sobre a redução gradual dos combustíveis fósseis e muito mais.
Entre os que fazem a observação direta e mobilizam os eventos, debates e protestos está o jovem Anderson. Em sua primeira COP, ele diz que a missão é transmitir uma mensagem clara aos líderes mundiais presentes na cúpula.
“Esta é a minha primeira COP. É também um espaço em que a juventude tem que estar. A gente que vem do Brasil, de um país que tem uma realidade desigual, precisa colocar nossas vozes nesses espaços. É muito importante que a gente esteja aqui. Dessa vez e nas próximas, que o Brasil tenha mais juventude ainda. Que o Brasil ocupe esse espaço. Que desde 1992 já vem ocupando, mas a ente tem retrocessos. Mas a gente retoma como voz, como juventude e cada vez maior.”
No Egito, representantes indígenas dizem querer levar aos “olhos do mundo” que seus povos estão observando a exclusão em diferentes questões de impacto em comunidades brasileiras.
O cacique Rony Walter Azoinayce Pareci pediu mais espaço para o que chama de “ideologia nativa” da qual se aspira maior consideração e autonomia.
“Se discute a questão do meio ambiente, a questão climática e a preservação. E a nossa vida lá no território? Tem que pensar em nós. Que temos que preservar o meio ambiente, temos. Temos que preservar a questão econômica. A geração de renda e o empreendimento dentro do território. Isso é o que nós queremos. E pensar na vida social e dignidade dos povos que moram lá. Hoje, no mundo inteiro, se discute uma política só de preservação, de floresta em pé e água potável. Mas ninguém discute uma política de dignidade dos povos indígenas.”
Durante as duas semanas de negociações, o movimento da sociedade civil aconteceu de forma ativa no espaço Brazil Climate Action Hub. Temas como ambiente, energia e florestas foram discutidos nos pavilhões.
A ativista Taily Terena pediu que seja escutada a voz dos povos no Brasil e destacou o potencial de começar mudanças que estas comunidades podem promover em nível global.
“Infelizmente, dentro de nossa perspectiva, essa conferência já parte do ponto errado: que está negociando o nosso futuro. O nosso futuro não deve ser negociado. Deve ser discutido com ações concretas. Nós viemos aqui com vários movimentos, organizações de base, coletivos de povos e comunidades tradicionais, para trazer a nossa sabedoria e ciência para esses negociadores. Mostrar que nosso conhecimento tem a solução real para evitar a mudança climática.”
Conferências de Desenvolvimento Sustentável
O protagonismo da sociedade civil do Brasil nas COPs é observado desde a origem destes eventos com a adoção da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, Unfccc, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio 92.
O país acolheu ainda a participação significativa de ativistas na Rio+20. O evento ficou conhecido como um marco para a definição das metas ambientais do Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.
Nesta reta final da COP27, a ONU faz repetidos apelos aos negociadores para que consigam um avanço considerável nas discussões. Além do secretário-geral António Guterres, chefes de escritórios regionais, de agências especializadas da organização e outros especialistas participam no evento.
A sessão do Egito deve confirmar os Emirados Árabes Unidos como a sede da COP28, em dezembro do próximo ano.
(Agência ONU News)