A vida de Thayná Cândido da Silva, 25 anos, moradora do Jardim Rosália 4, região do Padre Anchieta, em Campinas, está mudando para melhor. Retratada na primeira reportagem da série “Fome e Solidariedade”, do Hora Campinas, na semana passada, a jovem está vendo sua realidade de extrema carência se transformar. Desde que seu drama foi revelado, voluntários e organizações não-governamentais passaram a se mobilizar para ajudar a família.
Ela morava num barraco paupérrimo, feito com madeirite, telhas velhas, lonas e plásticos. Sua missão primordial diária era a sobrevivência. Dividia o espaço com o filho Enzo Henrique, 3 anos, sua mãe, Eliana, e o padrasto. Essa estrutura foi demolida e dará lugar a uma casa de alvenaria. A fundação já está sendo feita e os cômodos estão demarcados. Os canos da rede de água também estão visíveis. A reportagem do Hora Campinas visitou Thayná nesta terça-feira e a encontrou diferente.
O semblante cabisbaixo e preocupado deu lugar a um rosto de esperança e agradecimento.
Quando o Hora esteve pela primeira vez com Thayná (clique neste link para ler a primeira matéria), o cenário era desolador: despensa vazia, retalhos de carne na geladeira e uma sensação de impotência diante daquele cotidiano. Panelas com sobras de comida, alguns maços de verdura, catchup e molho de salada compunham a sua cozinha. O cenário se completava com a vulnerabilidade do barraco em razão da chuva, do vento e do frio. A prioridade era o filho: leite e fraldas para ele.
A família da jovem, que afirma não ser atendida por programas oficiais, como o extinto Bolsa Família (agora será Auxílio Brasil), é exemplo dos núcleos em situação de extrema pobreza em Campinas. Esse estrato teve um crescimento expressivo na pandemia, como mostrou o Hora Campinas na série de reportagens. Dados da Prefeitura apontam avanço de 16,9%. Esse estrato social inclui grupos familiares que vivem com inimaginável renda mensal de até R$ 89,01 por pessoa. Em dezembro de 2020, eram 38.279 grupos. Em junho último, alcançaram 44.774 núcleos.
O aumento, de acordo com números da Prefeitura de Campinas, ocorre também na chamada faixa da pobreza, que constitui núcleos com renda mensal de R$ 89,01 a até R$ 178,00 por pessoa. Nesse estrato, o crescimento na pandemia foi de 0,98%. Eram 8.587 grupos em 2020; agora são 8.672. Na segunda reportagem da série, o Hora Campinas abordou outros exemplos de famílias que vivem no limite entre a miséria e a pobreza (veja aqui) e as redes de apoio que se formaram ou que ampliaram o seu alcance para mitigar os efeitos econômicos da pandemia, como foram os casos da Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (Feac), da Central Única das Favelas (Cufa), da área de Assistência Social da Prefeitura de Campinas e de inúmeras ações voluntárias de entidades ou de pessoas físicas.
A última reportagem da série, publicada em 29 de outubro, contou a bem-sucedida história (clique aqui) do Instituto de Solidariedade para Programas de Alimentação (ISA), que funciona em parceria com os permissionários da Ceasa Campinas.
Cesta básica
A outra boa surpresa para Thayná foi a doação de uma cesta básica, com alimentos essenciais como arroz, feijão, margarina, açúcar e café. Dentro da caixa de papelão pesada que ela recebeu, além dos mantimentos que lhe serão primordiais no sustento da família, o afeto e o carinho do doador anônimo, que procurou o Hora Campinas. Thayná fez questão de agradecer. “Quero agradecer a quem doou a cesta básica e a você também”, disse ao editor de Fotografia, Leandro Ferreira. “Obrigado, Deus abençoe!”.
Na casa da irmã
Enquanto a obra estiver sendo feita no Jardim Rosália 4, Thayná ficará morando com a família na casa da irmã, no Jardim Padre Anchieta, bem próximo. Ela não tem ideia do tempo exato da construção, mas isso não importa. “Agora vou poder ter o meu canto, com mais limpeza e segurança”, afirma, lembrando que sempre ficava aflita com os temporais em razão de alagamento e da chuva que entrava pelas frestas.
“Vocês viram como estava o meu barraquinho na reportagem, caindo aos pedaços”, lembrou.
Thayná é grata à organização que está se responsabilizando pela obra. “Quero agradecer bastante”.
A irmã de Thayná precisa de muletas porque tem a perna esquerda amputada. Segundo ela, a prótese que deveria se encaixar não fica certa porque não tem recursos para compra do silicone. Mais um drama em família.