É com esse título que dou início ao artigo de hoje, convidando você minha querida leitora, meu caro leitor, a refletir sobre a nossa percepção temporal. Você tem tempo disponível para parar o seus afazeres aí e me acompanhar nessa jornada reflexiva? Que bom, fico muito feliz, pois então venha comigo.
Cá estamos nós, eu aqui sentado na cadeira, no meu escritório, em frente ao computador nesse domingo a noite, digitando e pensando no que irei escrever para que você aí leia esse artigo agora, isso mesmo: exatamente agora! Para que eu decidisse o tema desse artigo eu refleti muito sobre o mesmo, isso levou horas, basicamente o meu final de semana.
Eis aqui um dos segredos do escritor: ele não senta em frente ao computador e começa a digitar qualquer coisa, ele em geral, no mínimo tem em mente um tema e possivelmente uma linha de raciocínio, e as palavras vão surgindo linha por linha, parágrafo por parágrafo, e por vezes o processo tem ali uma pausa justamente para pensar em como expressar da maneira mais didática possível o que se pensa. Realmente tentar passar um saber, ou mesmo tentar estimular o outro a refletir sobre algum tema, é um desafio enorme, desafio árduo de uma boa comunicação.
Pois bem, “feita a cama” do tema, o que quis exemplificar acima é que por vezes ficamos “presos” em um instante que foge ao tempo, que está além dele. É aquela sensação de dois extremos: “passou tão rápido que não desejaria que tivesse acabado” ou “esse tempo não irá terminar nunca?”.
Meu foco aqui é no segundo polo, esse em que paira a sensação do mal-estar e que em um dia parece que estão intrínsecos cem anos. Você já se deparou com situações similares a essa que exemplifiquei? Vejo-me assim: cinco anos investigando e tentando controlar uma epilepsia que sei lá de onde emergiu e que parecem 20 anos.
Pergunto-me se ainda me lembro de como é dirigir um carro… Sinto saudades da sensação de liberdade de dirigir em uma rodovia na devida velocidade, vidro abaixado, música dos anos 90, apreciando o momento, o instante de vida. Ahhhh, esse sim eu gostaria que não terminasse, mas terminaram vários desses momentos.
A epilepsia chegou e me privou de dirigir, e agora é justamente o tempo que parece ter estagnado, parece que o relógio quebrou, cinco anos que estão me consumindo, me engolindo vivo. Partilho aqui com você minha experiência de vida atual para que você possa perceber que não sou de ferro, sou humano, passível de falhas, dor e sofrimento como qualquer um.
Convido você a refletir sobre essa percepção que nós temos da vida, que não necessariamente converge com o tempo cronológico universal, quer um exemplo concreto e atual? A guerra entre Israel e Hamas! Imagine as pessoas inocentes que se encontram lá, sem amparo, mulheres, crianças, pessoas indefesas que gritam para que o relógio volte a funcionar, para que o tempo corra, para que tudo aquilo termine o quanto antes…
E você aí, consegue identificar se, em sua rotina, está inserido em algum fardo pesado que extrapole os segundos do relógio? Aquele fardo que você não vê a hora que tenha um final (feliz, de preferência)? Já passou ou conhece quem vivenciou tempos de internação hospitalar? A cada segundo a angústia, a ansiedade (se não for bem controlada pela razão) aumenta e sufoca os envolvidos naquela situação. O filósofo alemão Nietzsche já teorizava sobre esse tempo da alma chamado por ele de Eterno Retorno, como sendo a sensação que escapa, que escorre entre os dedos das mãos…
Você tem aí em sua memória momentos que lhe marcaram muito? Aqueles que se você fechar os olhos você gostaria de estar lá de novo, no mesmo contexto?
Tem aqueles que você inconscientemente arquivou em sua memória e que lhe faz se sentir mal só de mencionar uma palavra-chave que aciona um gatilho emocional e como consequência acaba com seu dia, lhe trazendo à tona, memórias e sentimentos de angústia, medo, desespero, dor, sofrimento? O que você faz quando o relógio para? Principalmente quando ele para (metaforicamente) em uma situação desfavorável, de emoções densas, pesadas, tristes? Reflita sobre, sem pressa, respeitando suas prioridades, seu tempo!
Thiago Pontes é filósofo e neurolinguista (PNL) – Instagram @institutopontes_oficial