A longa espera enfim acabou! Sediada pela primeira vez no Oriente Médio e realizada de forma inédita nos meses finais do ano em função de questões climáticas, a Copa do Mundo de 2022 começa oficialmente na tarde deste domingo (20).
Dentro das quatro linhas, o jogo de abertura reúne as seleções do anfitrião Catar e do Equador, às 13h (horário de Brasília), no Estádio Al Bayt, na cidade de Al Khor. À beira do gramado, entre dezenas de profissionais de imprensa do mundo inteiro, haverá uma ilustre figura campineira. Trata-se do consagrado fotojornalista Rodrigo Villalba, de 45 anos, que participará pela terceira vez da cobertura do evento de futebol mais importante do planeta, que chega hoje a sua 22ª edição.
A história de Villalba com a Copa do Mundo começou justamente em solo brasileiro, em 2014, quando ele registrou a caminhada completa da Seleção Brasileira na competição, desde a estreia com vitória por 3 a 1 sobre a Croácia, no dia 12 de junho, na Arena Corinthians, em Itaquera, em São Paulo, até a fatídica e histórica goleada por 7 a 1 para a Alemanha na semifinal, no dia 8 de julho, no Mineirão, em Belo Horizonte, dias antes de cobrir mais uma derrota vexatória da Amarelinha: 3 a 0 para a Holanda, no Mané Garrincha, em Brasília, pela disputa do terceiro lugar.
O fotógrafo campineiro também cobriu outras partidas daquele Mundial, entre elas a mais importante de todas, a grande decisão entre Alemanha e Argentina, vencida pelos alemães por 1 a 0 na prorrogação, no dia 13 de julho, no Maracanã, mesmo estádio onde um ano antes ele havia testemunhado, através das lentes, a final da Copa das Confederações de 2013, sua primeira competição oficial da FIFA, que terminou com uma expressiva e inesquecível vitória do Brasil por 3 a 0 sobre a então campeã do mundo Espanha.
A história da foto mais importante da carreira
Há quatro anos e meio, durante a Copa do Mundo de 2018, na Rússia, Rodrigo Villalba tornou-se mundialmente conhecido – e reconhecido – como o profissional responsável pela fotografia mais icônica daquela edição do torneio. Foi unanimidade, com chancela da FIFA.
O mais inspirado clique da carreira do campineiro aconteceu no segundo tempo da partida entre Polônia e Senegal, disputada no dia 19 de junho de 2018, no Spartak Stadium, em Moscou, pela primeira rodada do Grupo H. Os senegales venceram por 2 a 1, mas ambas as equipes acabaram morrendo abraçadas juntas ainda na primeira fase, num grupo onde Colômbia e Japão se classificaram.
Na ocasião, Rodrigo Villalba congelou o exato instante em que o zagueiro brasileiro naturalizado polonês Thiago Cionek, autor de um gol contra na etapa inicial, ajudava o atacante senegalês Sadio Mané a se levantar do gramado. O grande detalhe da imagem é o contraste entre a cor de pele dos dois atletas com os braços estendidos e mãos dadas.
“Eu precisava registrar aquele momento, só que eram dois times opostos e dificilmente eles iriam se abraçar. Foi aí que lembrei do ritual dos boxeadores, que tocam as luvas antes de começar a luta, então fiquei esperando algum jogador dar a mão para cumprimentar ou puxar outro”, explicou Rodrigo Villalba, em contato com a reportagem do Hora Campinas.
“Tive a ideia da foto quando vi os dois times perfilados no gramado e notei que os poloneses eram muito brancos e os senegaleses bem negros. Fiquei pensando na enorme diversidade do nosso planeta e como a Copa do Mundo proporciona que dois povos tão diferentes sejam ao mesmo tempo tão iguais, jogando bola”, refletiu Villalba.
“Eu estava tranquilo, com a cabeça livre, então tive bastante oportunidade de criar e consegui fazer várias fotos diferentes sem disputa de bola. Mesmo trabalhando, eu não estava com aquela responsabilidade grande de fazer material em tempo recorde para editar e enviar correndo. Eu consegui ter um pouco mais de tempo para trabalhar porque era um jogo que eu não estava pautado por ninguém, eu mesmo tinha escolhido”, conta Rodrigo Villalba.
“O jogo já estava acabando e a foto não saía de jeito nenhum. Eu tinha tentado fazer uma vez, mas o jogador senegalês estava com segunda pele, então não deu certo. Na hora que eu vi o Mané sofrer uma falta e cair no chão, gritei em português para o Cionek estender a mão. Ele ficou olhando para mim e entendeu a mensagem. O Mané não queria levantar, mas fiquei torcendo até que ele esticou a mão e felizmente deu certo a foto”, reconstitui o momento que ficaria eternizado na história das Copas.
“Quando o jogo acabou, selecionei a foto na máquina, recortei, ajustei o tamanho e publiquei na minha conta pessoal do Instagram. Tinha ficado linda, maravilhosa, do jeito que eu realmente queria. Todo mundo gostou, meus amigos curtiram”, comemorou Villalba, mas sem nenhuma pretensão.
“No dia seguinte, quando cheguei para fazer outro jogo no Estádio Luzhniki, meu colega Marcelo Machado avisou que a foto estava no perfil oficial da FIFA, já com milhões de curtidas, mas sem crédito. A FIFA tinha repostado de um perfil não oficial de Senegal, que de alguma forma tinha entrado no meu Instagram, copiado e postado. Precisei falar com a Renata Pereira, uma brasileira que trabalha na FIFA, que perguntou se a foto era minha mesmo. Eu tive que mostrar que a data batia no meu computador, daí ela colocou o meu nome e, assim, ganhei o mundo. A partir disso, foram várias entrevistas para veículos do mundo inteiro”, relembra Villalba.
“O jogo em si entre Senegal e Polônia não foi tão bacana, até meio chato, mas o que aconteceu lá foi imprescindível para a minha vida e minha carreira”, descreve Rodrigo Villalba, em referência à fotografia de sua autoria que ganhou o mundo durante a Copa de 2018, na Rússia, virando um verdadeiro símbolo da luta contra o racismo.
Marca do combate ao racismo e da solidariedade no esporte, a espetacular foto de Rodrigo Villalba é uma das atrações da exposição “Campineiros nas Copas do Mundo”, aberta ao público, que começou na Prefeitura de Campinas e seguiu na última quarta-feira (16) para a Estação Cultura, onde permanecerá até o final da Copa do Mundo. A mostra ocorre simultaneamente na Sanasa, onde também ficará até o dia 20 de dezembro.
Ao fundo da emblemática foto de Rodrigo Villalba, a palavra “Qatar” na placa de publicidade indicava o próximo destino da Copa do Mundo. Ao todo, foram mais de 1.500 dias de espera desde o término do Mundial da Rússia, o maior intervalo entre duas edições desde 1950, quando a competição ocorreu pela primeira vez no Brasil, voltando a ser realizada após 12 anos de interrupção devido à Segunda Guerra Mundial, que durou entre 1939 e 1945.
Personagem da eterna foto de Villalba, o craque senegalês Sadio Mané é uma das principais baixas da Copa do Mundo do Catar. Atualmente jogador do Bayern de Munique, ele chegou a ser convocado pelo técnico Aliou Cissé, mas precisou ser cortado devido à necessidade de uma cirurgia realizada nos últimos dias, em decorrência de uma lesão de fíbula na perna direita, sofrida no jogo contra o Werder Bremen, no dia 8 de novembro, pelo Campeonato Alemão.
Uma perda gigantesca para o Mundial, visto que o jogador foi o segundo colocado da Bola de Ouro e o vencedor do Troféu Sócrates, criado para premiar jogadores envolvidos em causas sociais e entregue pela primeira vez no último mês de outubro.
Expectativas para mais um Mundial
Rumo à terceira cobertura de Copa do Mundo, Rodrigo Villalba deixou o Brasil no dia 8 de novembro e iniciou uma verdadeira jornada que começou em Paris, na França, prosseguiu por Berlim, passando também por Munique, na Alemanha, além de Istambul, na Turquia, até chegar em Doha, capital do Catar, na última quinta-feira (17).
“Toda Copa do Mundo traz uma atmosfera de alegria, felicidade e união, mas dessa vez o que estamos percebendo, principalmente na Europa, é um clima geopolítico pesado. Na Alemanha, vi várias bandeiras da Ucrânia em edifícios públicos, mas nenhuma alusão à Copa do Mundo, nenhum adesivo, bola pendurada ou ação de marketing, mesmo já estando na semana do evento”, detectou Villalba.
“Dessa vez, estou indo para a Copa com grande peso e responsabilidade. A foto que eu quero fazer está na minha cabeça e guardada em segredo, pouquíssimas pessoas sabem, mas o que eu quero mesmo é fotografar o Brasil erguendo a taça, esse é o meu sonho, pois a melhor foto do mundo eu já fiz. Se eu fizer de novo, vai ser muita sorte. Mesmo assim, vou buscar”, garante Villalba.
“É uma Copa da curiosidade, quero ver exatamente como vai ser. A esperança é que o mundo árabe consiga realizar uma festa da grandeza que o futebol pede, mesmo sem ter essa tradição. Dinheiro, capacidade e inteligência, eles têm”, aponta Villalba. No entanto, uma coisa é certa que faltará: cerveja. Isso porque autoridades do Catar decidiram suspender a venda de bebida alcoólica dentro e nos arredores dos estádios. A decisão ocorreu na última sexta-feira (18), juntamente com a Fifa e o Comitê Organizador da Copa.
“Sempre faço a abertura e a final da Copa, que são os dois jogos mais concorridos, além de acompanhar todas as partidas da Seleção Brasileira. Também cubro as duas semifinais e duas das quatro quartas de final, mas desta vez provavelmente vai dar para fazer todos os jogos das quartas”, celebra Villalba, em alusão à proximidade entre os oito estádios da Copa do Catar, que ficam dentro de um raio de 70 km.
“O que limita fazer muitos jogos é justamente o deslocamento. O Brasil é muito grande e a Rússia também, já o Catar é muito pequeno, praticamente uma cidade, então vai ser bem menos cansativo. Estar sempre viajando, carregando mala e equipamento fotográfico é muito desgastante, apesar de prazeroso”, pondera Villalba.
“Eu estou aprovado na abertura e estarei lá. Ainda não sei exatamente como será a minha programação depois disso, mas tem alguns outros jogos que eu faço questão de cobrir, como de grandes seleções como Argentina, Alemanha e Inglaterra”, elenca.
No entanto, Villalba aponta o desejo de cobrir um jogo em especial, que carrega uma longa história de rivalidade fora das quatro linhas. Trata-se do duelo entre Estados Unidos e Irã, que se enfrentam no dia 29 de novembro, no Estádio Al Thumama, pela última rodada do Grupo B. A chave também conta com Inglaterra e País de Gales.
“Eu estou louco para assistir e fotografar esse jogo [Estados Unidos x Irã] por causa de todo o contexto extra-campo. Já fiz o pedido e deve ser aprovado. Quero ver o semblante dos jogadores e da torcida, ainda mais por ser na casa dos iranianos. Nunca tive a oportunidade de fotografar a seleção dos Estados Unidos, então seria inédito”, revela Villalba.
Por fim, Rodrigo Villalba dedica a cobertura dessa Copa do Mundo à parceira Lanna Miranda, com um agradecimento especial à amiga Raquel Garutti. “Passei por uma fase complicada na minha vida neste ano e, se não fossem essas duas pessoas, eu não estaria animado e concentrado como estou. A Lanna Miranda está cuidando das minhas redes sociais e a Raquel Garutti na retaguarda total”, agradece.