Luis Norberto Pascoal é um “incomodado”. Sua inquietude transborda pelos dezenas de negócios, projetos e ações que vêm liderando, apoiando ou incentivando ao longo das últimas décadas. Essa personalidade apoquentada é o combustível que o move diariamente, seja por seus textos provocativos, seja por suas interações assertivas com seus pares. Sua cabeça não para.
Desde muito cedo foi obrigado a tomar decisões. Entre intuição e objetividade, pavimentou uma estrada empreendedora, multitarefa e visionária. A âncora que apoita o seu barco é a educação. É ela que o inspira e o impulsiona.
Uma de suas realizações, para a qual destinou e segue destinando energia, é a Fundação Educar Dpaschoal, hoje denonimada apenas Fundação Educar. Trata-se do investimento social da Companhia DPaschoal. São mais de três décadas de valorização da educação para a cidadania, uma ferramenta de transformação social.
Vários são os braços da Fundação – “Educar Para o Protagonismo”, “Educar Para Ler” e “Cooperando com o Social”. A base é fazer com que as pessoas – e principalmente os jovens – se reconheçam como protagonistas de suas vidas e de suas comunidades. Que eles possam desenvolver habilidades e que sejam, efetivamente, agentes de mudança para um futuro melhor.
É por isso que Luis Norberto pode ser definido como um “incomodado”.
Esse mantra, inclusive, inspira o slogan que mobiliza os vários líderes, coordenadores, gestores e voluntários da Fundação Educar. A história do empresário e empreendedor foi, inclusive, retratada no livro “Os Incomodados Que Mudem o Mundo”, da jornalista Cláudia de Castro Lima.
A obra marcou os 30 anos da Fundação e segue como um norte na vida de Luis. A propósito, ele é o jovem que, aos 23 anos, assumiu o legado do pai Donato Paschoal, que morreu em 1970, e que conduzia a empresa DPaschoal, referência no mercado automotivo até hoje.
Multitarefa, Luis aplicou os conceitos de inovação que já se faziam presentes no início da operação da empresa.
Hoje, septuagenário, mantém-se bastante conectado com as operações e, sobretudo, extremamente preocupado com as boas práticas na governança não só do conglomerado que representa, mas da própria sociedade como um todo.
É por isso que, como Gente da Hora, ele foi convidado a oferecer uma contribuição ao debate sobre Campinas.
Hora Campinas – Qual a sua relação com Campinas? Quando começou?
Luis Norberto Pascoal: Eu nasci em Campinas, no bairro Bonfim e minha família sempre viveu aqui. A minha relação com a cidade é total e é aqui onde eu gosto de viver. E vale lembrar que Campinas se conecta com o mundo todo por pesquisas, por tecnologia e pelo aeroporto. Gosto de brincar que sou um vira-lata, que gosta de vida simples e aprendi a me virar, cuidar e amar a todos. Tenho uma relação bonita e forte com a cidade e com as pessoas com quem muito aprendi.
Que balanço faz da história recente da cidade? Quais desafios que considera essenciais para Campinas encarar?
Eu sempre acreditei e continuo acreditando em Campinas. Mas, a cidade está se tornando grande demais. Sei que está cada dia mais difícil administrar o município. Hoje, Campinas já é uma metrópole e vivencia também todos os riscos e as dificuldades de uma metrópole. Não é fácil conseguir organizar uma cidade complexa como esta. Como toda metrópole, a cidade tende a ser muito poderosa na questão de atrair riquezas e construtoras, mas se torna grande demais para conseguir administrar a pobreza e também administrar o uso correto de solo. Acredito que um caminho será ter novo plano diretor desenhado para, pelo menos, os próximos 20 anos, para que não corra o risco de se perder no processo.
O senhor é otimista com o futuro da cidade?
Quando olho para todo potencial da nossa cidade, sou otimista. Temos por aqui muita gente boa e dedicada, temos as universidades, que podem ajudar, temos pessoas muito talentosas e competentes. Eu acredito na cidade! Entretanto, sei que não é fácil reunir pessoas em prol do futuro sem colocar o interesse econômico como uma das causas.
O grande desafio para o futuro é somar o interesse econômico com o interesse social.
Mas quero destacar que temos em nosso município o privilégio de ter a Federação das Entidades Assistenciais de Campinas (Feac) como um grande ator e parceiro que trabalha com mais de 100 projetos em mais de 200 entidades sociais. A área social está bem representada, mas o momento exige ainda mais.
Enxerga uma nova geração atenta para tornar Campinas melhor e atrativa?
A nova geração sozinha não vai deixar Campinas melhor, mas as lideranças que Campinas tem ou pode vir a ter poderão fazer isso. E isso não depende da idade. Podemos ter exemplos fortes e inspiradores em uma liderança de 99 anos, como é o caso de Darcy Paes de Pádua, um dos idealizadores da Feac, e também em uma liderança de 18 ou 19 anos, como os jovens que conhecemos na Fundação Educar. Mas, independente da idade, essa liderança tem que ser formada no ambiente econômico e social. Digo social no sentido de olhar para os desafios da educação, para sua comunidade, para o meio ambiente, para uma habitação mais respeitosa.
Campinas sempre foi uma cidade de vanguarda. Ela mantém essa vocação?
Sim, ela mantém essa vocação, principalmente se olharmos para suas grandiosidades científicas e todo aparato hospitalar e econômico. Mas Campinas precisa resgatar e resguardar seus valores. A cidade precisa valorizar sua própria história.
A Fundação Educar é um dos principais instrumentos de formulação de projetos de educação e protagonismo jovem. Esse trabalho é reconhecido há décadas. Faltam mais exemplos como esse?
Acredito que Campinas tem ótimos exemplos, ótimas entidades que fazem trabalhos belíssimos. Precisamos resgatar tudo o que já foi feito de bom e o que precisa de mais apoio, para valorizar de uma maneira construtiva e propositiva os ótimos exemplos.
Acredito que precisaríamos ter uma associação que reúna instituições, fundações empresariais, empresas, para pensar Campinas no futuro e apoiar projetos que possam valer a pena.
Que lembranças você carrega de Campinas em seu coração?
Eu carrego o mundo em meu coração e Campinas sempre esteve conectada ao mundo. E hoje, muito mais. A cidade pode ser um exemplo para o Brasil, e é assim que eu gostaria que fosse.
Que lugares você mais se identifica na cidade?
Eu me identifico em todas as partes da cidade. Esse sentimento de pertencimento de todos os locais me conecta com todo o município. Tenho o privilégio de conhecer muitos bairros, seja por conta da Feac ou pelo projeto Oásis, que realizamos nas comunidades mais vulneráveis. Nesse caso, por exemplo, depois de reunirmos a comunidade para fazer um plantio de árvore ou para melhorar uma escola, quando voltamos para ver como está funcionando, percebemos que todo o bairro melhorou. Ao participar de tais ações, a identificação cresce ainda mais, afinal há uma parte nossa naquele bairro, naquela melhoria.
Do que sente saudade em Campinas?
Eu nunca tive saudade na vida. O passado para mim é um instrumento para reconhecer as coisas boas. O passado me ensina onde eu errei, onde eu acertei e onde eu poderia ter acertado.
Gosto de olhar para o que foi feito de bom, o que valeu a pena e ver quanta gente se esforçou para essa melhora.
O meu maior desafio é conseguir equacionar como eu vejo o futuro e fazê-lo o melhor possível no presente mais complexo. O meu sonho é ajudar a concretizar um futuro melhor para todos.
Quais qualidades vêm à mente quando se fala de Campinas?
Campinas tem lugares lindos em todo canto, um clima maravilhoso, tem áreas verdes em seu entorno que poucas cidades do mundo têm. Precisamos preservar esses espaços com a ajuda de toda a comunidade. Olho para Campinas como uma cidade privilegiada e que cabe a nós todos entendermos e respeitarmos esse privilégio.
Todos somos os cuidadores mais importantes deste privilégio.
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