O líder do Hezbollah disse neste sábado (29) que, se os governos de nações de maioria muçulmana não agirem contra países que permitem a profanação do Alcorão, os muçulmanos devem “punir” aqueles que facilitam ataques ao livro sagrado do Islão.
As declarações de Hassan Nasrallah, líder do grupo armado xiita considerado terrorista por União Europeia e Estados Unidos, foram recolhidas num vídeo e dirigidas a dezenas de milhares de pessoas reunidas nos subúrbios ao sul de Beirute para marcar o dia da Ashura, sagrado para os xiitas e que assinala o martírio do neto do profeta Maomé, Hussein, no século VII.
Nasrallah costuma utilizar ocasiões religiosas para enviar mensagens políticas aos seus seguidores e, hoje, criticou os incidentes recentes relacionados com a queima ou profanação do Alcorão em manifestações autorizadas na Suécia e na Dinamarca.
O discurso do líder abre caminho para uma eventual escalada de violência.
O líder do Hezbollah disse que os muçulmanos devem observar o resultado de uma reunião extraordinária da Organização de Cooperação Islâmica (COI), marcada para segunda-feira em Bagdá, no Iraque, para discutir a resposta da organização à profanação e queima do Alcorão em países ocidentais.
A organização e os seus Estados membros devem “enviar uma mensagem firme, decisiva e inequívoca a estes governos de que qualquer repetição dos ataques terá como resposta um boicote”, disse Nasrallah.
Se não o fizerem, disse, a juventude muçulmana deveria “punir os profanadores”. O líder xiita não detalhou como seriam o boicote e a punição a serem aplicados.
Na semana passada, ativistas ultranacionalistas queimaram ou profanaram cópias do Alcorão em frente as embaixadas do Iraque na Suécia e na Dinamarca, provocando protestos em muitos países muçulmanos.
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou na terça-feira uma resolução que condena todos os atos de violência contra os livros sagrados, alegando que são violações do direito internacional.
Anteriormente, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas havia aprovado uma resolução condenando a profanação e outros atos de ódio religioso, apesar de vários países terem alertado que o texto poderia atentar contra a liberdade de expressão.
Em Beirute, uma multidão de pessoas carregava faixas com frases religiosas ao lado das bandeiras do Hezbollah, do Líbano e da Palestina, entoando louvores ao Alcorão e a Hussein.
Os xiitas representam mais de 10% dos muçulmanos de todo o mundo e veem Hussein como o legítimo sucessor do profeta Maomé.
A morte de Hussein em batalha nas mãos dos sunitas em Karbala, ao sul de Bagdá, criou uma profunda divisão no Islão e que até hoje continua a desempenhar um papel fundamental na formação da identidade xiita.
Milhões de muçulmanos xiitas no Irã, Afeganistão, Paquistão e em todo o mundo assinalaram o Ashura na sexta-feira, enquanto neste sábado foi observado em países como Líbano, Iraque e Síria.
Centenas de milhares de peregrinos reuniram-se na cidade iraquiana de Karbala, onde o neto de Maomé está sepultado num santuário com uma cúpula dourada.
Nas ruas da cidade de Sadr, um subúrbio de Bagdá, os fiéis reuniram-se para assistir às encenações da Batalha de Karbala e da morte de Hussein.
Na capital da Síria, Damasco, a população assinalou não apenas a morte de Hussein, mas um ataque mortal no subúrbio de Sayida Zeinab, local de um santuário de Zeinab, filha do primeiro imã xiita, Ali, e neta do profeta Maomé.
Uma bomba escondida numa moto explodiu naquele local na quinta-feira, matando pelo menos seis pessoas e ferindo dezenas de outros fiéis. Na terça-feira, outra bomba numa moto deixou duas pessoas feridas.
Na sexta-feira, o grupo Estado Islâmico (EI) – um grupo extremista sunita que frequentemente tem como alvo os xiitas – reivindicou a responsabilidade pelos ataques de quinta-feira.
A interpretação extrema do Islã pelo EI considera os muçulmanos xiitas apóstatas.
(Agência Lusa News)