Conheci Jane Lutti quando escrevia matérias de gastronomia, confesso que eram pautas bem apetitosas. Ela e o marido, Thiago, cozinhavam e recebiam pessoas desconhecidas, ao redor de uma grande mesa, em sua casa para que elas provassem cardápios que vinham acompanhados de muito afeto. Desde o primeiro encontro fiquei encantada com a ideia do casal e tenho certeza de que desses jantares saíram grandes amizades e boas histórias.
Desde o meu jantar na casa de Jane, percebi que nela moravam muitas histórias e uma parte delas está agora eternizada no recém-lançado livro Comida é Memória: 23 histórias de cozinha para aquecer o coração, da editora Labrador. Jane costuma destacar que muitas reflexões pessoais surgem a partir da comida e, neste livro, o modo como a cozinha e os sabores afetam as pessoas pode ser vivenciado – e saboreado – através das crônicas carregadas de reflexões da autora.
Jane provoca: Será que uma queijadinha pode ser o sabor de uma história de amor? O arroz com frango da cantina do colégio estadual faz refletir sobre a amizade e a impermanência da vida? A fé pode ser fortalecida ao dividir o prato? Um sanduíche de pão amanhecido com linguiça pode dissolver o sabor amargo de um luto? Esses e muitos modos de preparo e de olhar a vida fazem parte das 23 histórias de cozinha para aquecer o coração.
Embora o sabor e o paladar sejam a base dos textos, a narrativa central gira em torno das pessoas e das situações metaforizadas pela cozinha. “Se você concorda que memória e construção pessoal podem ter gosto, cheiro e textura, é sinal de que aí dentro tem um sabor que nutre as melhores lembranças de um período ou momento da sua vida”, diz a autora, que viu neste livro pessoal a oportunidade de provocar o leitor a percorrer suas próprias memórias em busca de sabores e vivências que teve ao longo da vida.
Além das histórias – que podem ser lidas isoladas, já que não se trata de uma narrativa literária linear – todas as receitas também são compartilhadas em uma segunda parte do livro, separada e dedicada somente à estrutura culinária: Ingredientes; Dicas e Modo de Preparo. É como folhear o caderno de receitas da própria autora e aproximar-se um pouco mais das histórias contadas anteriormente.
“Escrever um livro de memórias e receitas foi muito fluido, pois, ao folhear meus cadernos e anotações de receitas, ia me lembrando de pessoas e situações que se uniam a esses sabores. Todo gosto ali tinha memória, gente e história”, relembra Jane. A autora, que também escreveu o livro Ensaio Sobre a Cozinha Afetiva, diz que novamente traz um livro para ficar na cozinha, para ser manuseado, rabiscado, anotado, vivido e compartilhado.
O livro foi todo ilustrado em aquarela pela artista Camilla Mazzonni, amiga de Jane, ilustradora e influenciadora literária e com quem a autora divide algumas das histórias relatadas no livro.
“A cozinha é o lugar onde eu filosofo. É meu jeito de ver a vida, minha lente que põe setores como cultura, sociedade, crises, psicologia, economia, clima, relacionamento, saúde, vida e ética em perspectiva. Espero que as crônicas inspirem cada leitor a fazer suas reflexões a partir da mesma ótica. A intenção é abrir uma boa conversa na mesa da cozinha e… aquecer o coração com a prosa”, enfatiza Jane.
O livro Comida é Memória: 23 histórias de cozinha para aquecer o coração está disponível nas versões física e digital na loja virtual da Editora Labrador.
Sobre a autora
Jane Lutti escritora, publicitária, jornalista, pós-graduada em Cozinha Brasileira, especialista em Cultura e História do Chá. Editora do GastrôLité e gestora de projetos de escrita e culinária — como o Escribas Cozinhantes. Desde 2016 dedica-se à “culinária de papel”, a fim de resgatar a cozinha de casa e incentivar a volta das pessoas ao fogão para preservar receitas de família.
No dia a dia, Jane compartilha seu amor pela literatura, cozinha e afeto no blog/Instagram GastrôLité, marca que nasceu em 2016 com o objetivo de juntar Gastronomia e Literatura, e acabou virando um espaço para ela e seus seguidores trocarem informações sobre o temperado universo da cozinha afetiva, receitas, indicações de lugares e um grande grupo de pesquisa sobre alimentação e cultura.
Kátia Camargo é jornalista e pretende testar algumas das receitas que estão no livro. Já provou o caramelo salgado da Jane, e aprovou. Pretende agora tentar reproduzir a receita e ter mais boas histórias e encontros em sua cozinha.