Fundadora de uma biblioteca comunitária e escritora, Majori Nascimento da Silva é expressão de uma liderança jovem de Campinas, formada a partir da vivência e do ativismo na periferia. Com pai pernambucano e mãe vinda do Paraná, Majori é nascida e criada na cidade e sempre morou no mesmo local, a Vila Chico Amaral.
Focada em ajudar a transformar para melhor a realidade da sua comunidade, ao olhar a dificuldade cotidiana dos pais que não tiveram acesso a uma boa educação e as crianças, como foi o caso dela, que frequentam a escola pública com poucos incentivos, surgiu o sonho de criar uma biblioteca a que todos pudessem ter acesso.
Da conversa com amigos veio a decisão de construírem eles mesmos o espaço, do zero. “Já entendíamos que as bibliotecas comunitárias ajudam a democratizar o acesso à leitura, cultura e informação e são mantidas pelas comunidades para as comunidades”, conta a jovem de 23 anos. Além disso, relata, a biblioteca pública mais próxima ficava a 40 minutos de caminhada de seu bairro.
As doações para a construção foram chegando de todos os lados, dos próprios moradores, da forma como podiam ajudar com seus parcos recursos.
Desde o início do ano passado a Biblioteca Comunitária Lugar de Fala já está em funcionamento. E a iniciativa ganhou repercussão. Após ter sua história contada pelo Hora Campinas, Majori participou de entrevistas em programas de televisão para falar da inspiradora iniciativa. Djamila Ribeiro, conhecida filósofa, escritora e ativista, veio a Campinas em janeiro para conhecer o local e doar mais de mil títulos.
Em dezembro do ano passado, Majori lançou na Bienal do Livro do Rio de Janeiro a obra O Jardim de Marielle. No livro, da editora campineira Mostarda, ela usa de uma linguagem lúdica e afetiva para contar a crianças a história da vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em 2018.
Instada a falar sobre Campinas, no aniversário de 248 anos da cidade, a jovem acredita que sob a perspectiva do desenvolvimento social, a cidade tem um longo caminho pela frente. “Sendo moradora de comunidade vejo que o município por muitas vezes esquece da gente, isso pensando em recursos básicos mesmo. O Chico Amaral, comunidade onde moro, existe há mais de 20 anos e ainda não temos saneamento básico, por exemplo”, aponta Majori que passou a fazer parte do time de colunistas do Hora no fnal do ano passado.
Essa realidade da comunidade onde vive, ela observa, não é muito diferente de outras localidades que também estão mais distantes dos bairros centrais. “O que está surgindo com muita potência são ações das próprias comunidades como forma de resistência”, avalia.
Para Majori, Campinas é o seu lugar e vê a cidade com muitas oportunidades, mas também com muito pra evoluir. “Ainda somos muito conservadores como cidade, não temos um braço cultural muito forte e essas coisas me incomodam, mas gosto de pensar que ‘os incomodados devem mudar o mundo’” , diz a jovem, que cursa o primeiro ano de Engenharia de Transportes na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e desde abril trabalha como estagiária. “A gente ainda tem um longo caminho pela frente”, finaliza.
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