Primeira instituição filantrópica do setor da saúde, do estado de São Paulo, a ingressar com pedido de recuperação judicial devido aos graves problemas financeiros provocados pelo alto custo hospitalar e remuneração não compatível pela prestação de serviços ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Hospital Maternidade de Campinas tem buscado formas de manter a assistência para a população de Campinas e região.
Neste 12 de outubro, ao completar 110 anos de portas abertas, 24 horas ininterruptas por dia, atendendo a gestantes, mães e bebês de Campinas e da região, a maior maternidade do interior do Brasil alerta precisar do poder público e da ajuda de empresas e da comunidade para não fechar as portas.
A instituição filantrópica, fundada com a missão de atender às mães carentes muito antes da existência do Sistema Único de Saúde (SUS), vem carregando, ao longo de muitos anos, um déficit mensal de R$ 1 milhão, apenas em relação à assistência pública, que representa 60% do seu atendimento total.
Nos mais de 100 anos de história, a Maternidade de Campinas foi responsável por trazer ao mundo mais de meio milhão de bebês. Para fazer frente às suas despesas, a Maternidade de Campinas vem realizando uma série de ações e campanhas de arrecadação financeira, como por meio das Notas Fiscais Paulistas, doações e eventos envolvendo a sociedade.
Complexidade do hospital
O presidente do Hospital Maternidade de Campinas, Marcos Miele, explica que a estrutura hospitalar é complexa e cara por envolver vários setores e classes de profissionais para propiciar atendimento ao paciente com toda segurança – serviços de lavanderia especializada; de rouparia; de higiene qualificada; de serviço de nutrição e dietética etc.) e equipe multiprofissional, além de médicos de diversas especialidades.
“Acrescente a esses custos as necessidades de modernização do parque tecnológico e as necessidades de adequações às legislações que foram aprovadas posterior à construção do prédio, que ocorreu na década de 1970. A maioria das tecnologias em saúde é norteada por moedas estrangeiras, o que encarece ainda mais a operação hospitalar e as manutenções e substituições necessárias. O hospital precisa se adequar às novas legislações com reformas, mas sem deixar de prestar atendimento. É um grande desafio, maior ainda para as instituições, como a Maternidade, que atendem o SUS e convivem com o subfinanciamento do sistema, ou seja, o montante financeiro repassado é inferior às despesas necessárias”, diz o médico.
Os médicos que atuam na diretoria do hospital são voluntários, não recebem complementação salarial. Mais de 200 médicos são associados e contribuem mensalmente com a instituição. Os convênios e os atendimentos particulares compõem as receitas, assim como a transformação da Maternidade em Hospital permitiu a inclusão de outras cirurgias. Mas tudo isso ainda é insuficiente para cobrir os custos.
Ao longo de muitos anos, a receita da Maternidade de Campinas foi complementada pela gestão da antiga Estação Rodoviária, que ficava na esquina das avenidas Andrade Neves e Barão de Itapura. Após o encerramento do contrato, o Hospital vem acumulando déficits anuais.
A instituição possui contrato com o município de Campinas para atender pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo que o município faz uma complementação em cima do valor da tabela federal. Mesmo assim, há uma importante defasagem no repasse dos custos.
Na UTI – Unidade de Terapia Intensiva Neonatal -, o déficit mensal é de cerca de R$ 600 mil. O custo da diária é de, aproximadamente, R$ 3 mil, mas a Maternidade recebe somente o valor de R$ 1,6 mil.
Atualmente, a Maternidade dispõe de 30 leitos de UTI, dos quais 18 para atendimento de pacientes oriundos do SUS. Há que mencionar que o Governo Federal tem um valor de repasse ainda menor em relação aos leitos de UTI Neonatal, que chega a apenas R$ 600,00.
Em razão do subfinanciamento, a dívida da Maternidade atinge hoje cerca de R$ 100 milhões.
Na história da cidade
A Maternidade de Campinas nasceu em 12 de outubro de 1913 pela necessidade de se ter um hospital que atendesse às mães carentes. Foi o primeiro hospital de Campinas com condições de oferecer às mulheres o apoio e o cuidado necessários no momento do parto. Quando da sua criação, era definida como “instituição inteiramente de beneficência, destinada a prestar gratuitamente socorro, tratamento e assistência a gestantes e parturientes reconhecidamente pobres”. Era composta por um número ilimitado de sócios.
Os primeiros prédios, que funcionam desde 1916 e 1965, respectivamente, foram construídos com a ajuda da população, motivada pela vontade de ter uma maternidade de referência na cidade.
O primeiro prédio funcionou na Avenida Andrade Neves.
A decisão de construir uma nova edificação aconteceu em 1950, mas a nova Maternidade, na Avenida Orosimbo Maia, somente foi inaugurada 15 anos depois (em 19 de dezembro de 1965). Desde então, já sofreu várias reformas e ampliações.
A Maternidade é a maior do interior do Brasil em número de partos: 9 mil por ano (750 por mês, cerca de 25 por dia) e, aproximadamente, 1.900 internações por mês (22.800 por ano), dos quais 60% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A quantidade de partos representa, praticamente, a metade de todos os nascimentos ocorridos na RMC – Região Metropolitana de Campinas. A instituição consagra-se por apresentar as menores taxas de infecção hospitalar.