É importante iniciarmos este artigo enfatizando a importância de vacinarmos, a todos (sem exceção) contra o novo coronavírus, que causa a temível doença, a Covid-19. Importante ainda dizermos que utilizem as vacinas disponíveis e façam os seus reforços, independentemente da plataforma de produção das mesmas.
Hoje temos informações científicas suficientes para afirmar a importância salvadora destas vacinas. O que vamos trazer neste artigo é uma informação científica muito relevante publicada recentemente na prestigiosa revista médica o “Lancet Respiratory Diseases” a respeito de três variáveis importantes associadas às vacinas: infecções, hospitalizações e mortalidade.
Como sabemos e que tem sido amplamente divulgado, o vírus causador da Covid-19, e isto é bastante característico dos vírus e, particularmente, deste vírus, têm altas taxas de mutações produzindo novas cepas com características clínicas e biológicas diferentes da cepa original de Wuhan na China.
Assim, é fundamental acompanharmos as evoluções e fazermos as adaptações preventivas e terapêuticas a tempo e a hora. Em 2022, convivemos todo o ano com a variante Ômicron e suas subvariantes. Sempre fica a dúvida se o que estamos fazendo continua a ser adequado. A ciência é assim. Nas ciências da vida, convivemos com as “verdades temporárias” e as novas informações e avanços vão moldando o estado-da-arte e as práticas de saúde a serem seguidas.
Os resultados de meta-análise (análise que engloba vários estudos, com características semelhantes, em geral prospectivos e controlados mas também podem ser retrospectivas, e que objetivam aumentar a força estatística de seus resultados) publicada em fevereiro deste ano, trouxe informações científicas de algo que os médicos e os cientistas já vinham observando, mas onde as evidências científicas ainda não eram definitivas: as vacinas reduzem de maneira significativa as internações e a mortalidade causada pela variante Ômicron e suas subvariantes, mas reduzem menos as infecções.
Estas informações são fundamentais para as recomendações que devem ser dadas a população, isto é, a importância de continuarmos a nos vacinar a seu tempo e hora e a manutenção dos cuidados não farmacológicos para evitarmos a transmissão e proliferação das infecções.
Vejam que estas são características destas vacinas e deste vírus. Todos sabemos que muitas vacinas têm a capacidade de impedir o adoecimento e também a infecção. Por exemplo, se você tomar a vacina contra a febre amarela, você não terá a febre amarela. Isto não acontece com o coronavírus. Se você fizer o esquema vacinal adequado, você poderá ter a infecção, mas com grande probabilidade de redução dos agravos e da morte.
Entretanto, você será transmissor do vírus e outras pessoas poderão se infectar e também transmitir. E esta cadeia de transmissão é o caminho que o vírus usa para se modificar e mudar suas características clínicas e biológicas como explicado anteriormente. Estas características ocorrem tanto para a vacinação inicial (duas doses) como para os reforços.
Estudos mostraram a eficácia das vacinas até 112 dias (em média) após uma série da vacina primária e 84 dias após o reforço. No geral, nesta meta-análise, 68 estudos foram incluídos com dados de 23 países, 39 (57%) estudos de caso-controle (retrospectivos, muito usados em epidemiologia), 26 (38%) estudos de coorte e 3(4%) estudos prospectivos, controlados e randomizados. 84% dos estudos apresentavam dados de vacinação primária e 25% de reforços vacinais. Níveis adequados de eficácia da vacina basal foram encontrados para hospitalizações (92%) e para mortalidade (91%). Em contrapartida, as estimativas de proteção das infecções da variante Ômicron foram de apenas 61% para a vacinação inicial e de 70% para os reforços, abaixo do recomendado pela OMS.
Colocando todos os dados em conjunto, os mesmos indicam que as vacinas estão fornecendo proteção razoavelmente estável com as hospitalizações e mortalidade o que, convenhamos, não é pouco. Entretanto, em longo prazo, a proteção contra as infecções pelo SarsCov2 é mais modesta.
Estes dados nos orientam a continuar insistindo nas medidas não farmacológicas de uso adequado das máscaras, das medidas higiênicas de lavarmos constante as mãos com água e sabão e/ou uso de álcool em gel e de evitarmos as aglomerações (distanciamento físico).
São importantes para a orientação dos profissionais de saúde e dos formuladores de políticas públicas neste campo. É claro que tudo é dinâmico e que seguir a ciência e seus novos dados é sempre fundamental.
Carmino Antonio De Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020. Secretário-executivo da secretaria extraordinária de ciência, pesquisa e desenvolvimento em saúde do governo do estado de São Paulo em 2022. Atual Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Butantan.