Morreu nesta sexta-feira (30) em Campinas, aos 85 anos, vítima de infarto, o fotógrafo Neldo Cantanti. Considerado um dos mais importantes fotógrafos da imprensa campineira, Neldo fez carreira nos jornais Diário do Povo e Correio Popular, mas também atuou no serviço público. Foi fotógrafo na Prefeitura de Campinas, nas gestões de Magalhães Teixeira/Edivaldo Orsi e Chico Amaral – entre as décadas de 1980 e 1990 e também na Unicamp. Se notabilizou pelo esmero na imagem com que retratava o cotidiano da cidade.
“Fotógrafo incrível, Neldinho era uma espécie de pai para mim. Inclusive eu o chamava de pai quando o encontrava. O adotei de cara”, escreveu o jornalista Ronaldo Faria, em sua conta no Facebook.
No relato, Faria lembra que Neldo era pontepretano e são-paulino de carteirinha, apaixonado por corridas de cavalo. Morou muito tempo no “Joga a Chave”, o famoso número 40 da Rua Conceição, no centro da cidade. Nos últimos anos se mudou para um prédio na Ferreira Penteado, também no Centro.
Conhecido entre os amigos por ser um gourmet incrível, reclamava de ter perdido o olfato num acidente automobilístico. Mas sempre apreciava uma boa comida e era figura presente no Éden Bar e no Café Regina.
“As ruas, as praças, os velhos prédios e as calçadas estão em silêncio. A cidade perdeu um grande amigo. E eu perdi um exemplo de vida”, disse o jornalista, músico, compositor e cronista do Hora Campinas, Zeza Amaral.
“Neldo Cantanti era a memória viva da cidade e da sociedade de Campinas. Também era um debochado, rindo por dentro quando me fez crer em uma cobra que se apoiava no rabo e corria atrás da gente cuspindo veneno”, relembrou o jornalista e amigo, Luiz Sugimoto.
As ligações
Neldo era separado da mulher, Cleonice, já há várias décadas e morava sozinho num apartamento no edifício Flórida, na Ferreira Penteado, quase na esquina com Luzitana. Mas mantinha contato diário com o filho, Neldinho, que mora no distrito de Joaquim Egídio.
“Com essa história de pandemia, a gente não se via muito, mas ele fazia questão que a gente conversasse todo dia”, conta o filho. “Ele queria que eu ligasse às sete e meia da noite pra gente assistir juntos, o programa do Datena e comentar as notícias”, ria Neldinho. “E eu fazia isso. Todo dia, no mesmo horário, eu ligava. Quando por algum motivo eu não conseguia, ele reclamava. Ficava bravo”, conta.
E foi por conta dessas ligações telefônicas que ele descobriu a morte do pai. Ontem Neldinho ligou, Neldo não atendeu. Ligou num segundo telefone e nada. Tentou então um contato com o porteiro do prédio e constatou que ele também não atendia ao interfone.
Neldinho saiu de Joaquim Egídeo e foi até o apartamento do pai e constatou que ele estava morto. “Mas ele não teve uma morte sofrida. Fica pelo menos esse consolo”, diz Neldinho.
Neldo nasceu em Guariroba, então distrito de Itápolis, mas se sentia muito mais campineiro. “O meu pai amava Campinas. Ele respirava Campinas”, avalia o filho.
Neldo Cantanti tinha três netos – Matheus, Isabela e Gabriel. O corpo de Neldo foi cremado.
A história pelas lentes de Neldo Cantanti