Sobrevivente de uma experiência dramática depois de uma infecção por Covid-19 quando entrava no 7º mês de gravidez, a dona de casa e agricultora Flaviana Maria De Jesus Favaro, de 38 anos, celebrou no sábado passado o aniversário de um ano do filho Vitor Leonardo. O menino nasceu prematuro enquanto ela ainda estava inconsciente, intubada.
Frágil, com 44 centímetros e 2 kg de peso, Vitor também precisou de ajuda de aparelhos para respirar. Ele não foi infectado pelo vírus, mas teve o primeiro contato com a mãe somente 22 dias depois do nascimento.
A comemoração pelo primeiro ano de vida de Vitor foi reduzida apenas à família, já que as restrições da pandemia permanecem. Ainda assim, fez uma festa temática – que batizou de “Meus heróis da vida real” – em que lembrou o trabalho da equipe médica do Vera Cruz Hospital, onde foi atendida, e dos profissionais da saúde da linha de frente do combate à Covid.
Mas Flaviana sonha alto pro ano que vem. “Quero trazer todo mundo do hospital: médicos, enfermeiros, pessoal de apoio, gente a quem eu vou set empre agradecida por terem cuidado de mim e de meu filho”, disse ela.
Flaviana e o marido são produtores de hortaliças num sítio na região do Ouro Verde, em Campinas. Eles fornecem verduras e legumes para mercados, supermercados e varejões da região. Ele trabalha no cultivo e ela cuida da distribuição
A noite turbulenta
Nesta terça-feira (28) Flaviana comemora exatamente 1 ano do momento em que acordou, depois de 13 dias em coma e quando foi informada de que já havia parido. “Foi como se eu tivesse dormido uma noite turbulenta. Com vários sonhos estranhos”, descreveu ela, um pouco da sensação ao acordar e quando passou a tentar recuperar a memória do período em que chegou ao hospital; do medo de perder a criança.
Ela conta que começou a se sentir mal na segunda semana de junho. A doença, no entanto, se agravou nos dias seguintes. Passou a sentir falta de ar e teve de ser levada às pressas ao hospital. Primeiro à Casa de Saúde, depois no Vera Cruz. A partir daí, se deu o distanciamento da família. “Eles não podiam me visitar. Tinham notícias só às 11h e às 19h”, conformou-se.
Diante do agravamento do quadro clínico, os médicos decidiram fazer uma cesariana de emergência. Flaviana foi intubada e, inconsciente, teve o filho.
“O Dr. Arruda (André) me disse depois que eu fiquei com o sangue preto. Estava com o pulmão todo preto”, conta ela. “Me disseram que tiveram de fazer o parto num mar de lodo”, descreveu. “O médico me disse que tinham 10 minutos pra tirar meu filho, senão ele poderia morrer. Mas graças a Deus, tudo foi feito em oito minutos”, conta.
“Meu marido me disse depois: Olha. Eu fui com vc (para o hospital), mas achava que não voltaria com você”, contou a mulher. A criança também passou por momentos difíceis Além da respiração artificial, ainda foi submetida a duas doses de adrenalina e massagem cardíaca. “É só por Deus que estamos aqui”, acredita.
Segundo o médico André Arruda, coordenador do setor de Ginecologia e Obstetricia do Vera Cruz, casos de cesáreas em gestante com Covid são mais complicados. “Em pacientes infectados pelo coronavírus existem maiores riscos de trombose venosa e trombose pulmonar, infecção devido a imunossupressão, doença hipertensiva específica da gravidez, atonia uterina, além da prematuridade para o feto”, diz ele.
“A cirurgia foi realizada com todos os aparatos de proteção que dificultam a técnica cirúrgica, parecíamos astronautas, óculos, duas máscaras, face shields, duas luvas. Por fim, tudo terminou bem,” conta ele. A dona de casa agradece muito à mãe, dona Nair. “Ela dava mamadeira pra ele de três em três horas, porque eu não tinha forças nem para segurar ele”, conta depois que deixou o hospital.
O menino hoje
Flaviana diz que Vitor Leonardo está ótimo. “Já está andando pela casa toda. Ainda segurando pelas cadeiras, mas já fica em pé sozinho”, conta a mãe, entusiasmada com o progresso do menino.
“Os médicos disseram que o desenvolvimento dele está equivalente a de uma criança dessa idade. Apesar de ter nascido prematuro, ele já retomou o crescimento normal”, afirma. “Nem precisou tomar hormônio”, orgulha-se