Vocês sabiam que o biólogo, naturalista e geólogo Charles Darwin era apaixonado por besouros? Eu não sabia, só descobri isso quando visitei recentemente a exposição Darwin, o Original, em cartaz gratuitamente no galpão do Sesc Campinas. Aliás, recomendo muito quem tem crianças e adolescentes visitar esse espaço tão encantador e educativo.
Descobri que quando jovem, Darwin era aficionado por colecionar esses bichinhos que eu nem acho tão amigáveis. A paixão era a tal ponto que, em uma de suas expedições, avistou dois besouros raros e os segurou, um em cada mão, no mesmo instante, viu mais um e, sem mão sobrando, decidiu colocar um deles dentro da boca para capturar o terceiro. Mas o que estava em sua boca expeliu um fluido ácido que queimou sua língua e, depois de muito tossir, Darwin cuspiu o inseto e percebeu que havia perdido todos.
Para completar essa exposição, que veio da França e fica em cartaz até agosto, em Campinas, e mostrar a ligação do biólogo com o Brasil, parte do acervo do Museu de História Natural de Campinas foi cedida para a mostra.
A curadoria da exposição ficou por conta da dupla Leda Cartum e Sofia Nestrovski, que, além de pesquisadoras, são apresentadoras do podcast “Vinte Mil Léguas”, programa em que debruçam sobre temas relativos à ciência e aos livros. O espaço também tem consultoria de Flávia Natércia, pesquisadora com pós-doutorado em Divulgação Científica pela Unicamp.
Ilustres seres têm destaque na cidade
O Museu de História Natural de Campinas detém um acervo grande de besouros de inúmeros países e mantém diversas vitrines com exemplares para apreciação do público. Para a mostra, foram emprestados 49 besouros da sua coleção das mais variadas formas, cores e tamanhos.
“Os besouros são insetos presentes em quase todas as regiões do planeta Terra. É o maior grupo de seres vivos do mundo em número de espécies identificadas pela ciência. Estima-se que há entre 350 mil e 400 mil catalogadas”, revela Felipe Gonçalves Brocanelli, especialista em Meio Ambiente – Biologia, do Museu de História Natural de Campinas.
Na exposição, o visitante encontrará algumas espécies, como Besouro Golias – Goliathus goliatus e Goliathus regius (duas espécies do mesmo grupo); Vaga-Lume – Cratomorphus Giganteus; Serra-Pau – Macrodontia Cervicornis; Besouro Hércules – Dynastes Hércules, entre outras.
Este grupo de animais apresenta, de maneira geral, uma alimentação fitófaga (baseada em partes de plantas) e saprófaga (baseada em matéria orgânica em decomposição), por conta disso, são muito importantes na polinização de algumas plantas e na ciclagem de nutrientes do solo.
Muitas pessoas têm medo desses animais em geral, e um dos objetivos da coleção é desmistificar algumas informações e apresentar curiosidades sobre eles, incluindo os próprios besouros, para que o visitante conheça mais da sua importância e ajude a conservá-los na natureza. “As atividades de educação ambiental pautam-se muito nesse contexto, e são realizadas no Museu por meio do atendimento de escolas, grupos, instituições e do público espontâneo”, esclarece o especialista.
Exposição Darwin, o Original
A caixa com os insetos encerra o módulo Brasil. A curadora Leda Cartum conta que os insetos ganharam destaque por ser uma espécie de real importância na linha do tempo. “O traçado percorre milhões de anos até os dias de hoje, trazendo o processo evolutivo e sua ampla diversidade. Assim, a gente convida o visitante a olhar ao redor e perceber os detalhes, as diferenças, as semelhanças entre as espécies e também entre os indivíduos. Por isso, os besouros são a última peça da sala”, detalha.
Além da história e importância desses ilustres serezinhos, Darwin, o Original é um convite para conhecer a teoria da evolução de forma descomplicada e lúdica, com uma série de atividades interativas que ampliam a compreensão do assunto.
Criada e produzida pela Universcience – Cité des Sciences et de l’Industrie em colaboração com o Museu Nacional de História Natural da França, a exposição tem curadoria de Éric Lapie e curadoria científica de Guillaume Lecointre, com o apoio de um comitê científico multidisciplinar.
A exposição Darwin, o Original fica na cidade até 13 de agosto de 2023 no Sesc Campinas e é gratuita.
Kátia Camargo é jornalista e após conhecer a coleção de besouros e a história do Darwin nunca mais vai olhar para um besouro da mesma maneira. Para se aprofundar nesta história, vale a pena acompanhar o episódio do podcast ‘Vinte Mil Léguas’ que fala da ligação de Darwin com os besouros, e você pode acessar o link aqui.