Chegamos ao mês de novembro de 2021. Apesar do enorme sofrimento e apreensão que a pandemia do SarsCov2 trouxe a nossa sociedade nestes últimos quase dois anos, com cerca de 10% de toda a nossa população acometida pelo vírus e mais de 600 mil mortes pela Covid-19, não podemos nos esquecer dos cuidados fundamentais à saúde e, dentre elas, está o rastreamento e diagnóstico de tumores malignos.
Assim, neste Novembro Azul, apesar da pandemia e de todas as crises pelas quais estamos tentando ultrapassar e vencer, devemos lembrar aos homens da prevenção do câncer de próstata.
Dados do Ministério da Saúde publicados pelo INCA em 2020 mostram que a taxa ajustada de incidência do câncer de próstata no Brasil não é homogênea, segundo as diversas unidades da federação. As análises realizadas por unidade federada mostram que os estados do Sul, do Sudeste e do Norte têm taxas menores quando comparadas às do Nordeste e do Centro-Oeste.
No primeiro grupo, estas taxas estão entre 33-62 casos por 100 mil habitantes do sexo masculino enquanto no segundo grupo esta taxa se eleva para 62-122, portanto, praticamente o dobro em relação ao grupo anterior. É difícil entender todas as razões, mas, provavelmente, os mecanismos de rastreamento e diagnóstico precoce devem ser mais eficientes no primeiro grupo. É claro que estes dados se refletem em maior mortalidade nos estados mais vulneráveis.
Em Campinas, tanto o câncer de próstata como o de mama, os mais prevalentes, acometem, cada um deles, cerca de 600 pacientes ao ano e cada um deles são responsáveis por cerca de 15% de todos os tumores aqui diagnosticados.
Estes tumores são seguidos em suas frequências pelos tumores de colo e reto (intestino grosso), pulmão/brônquios e traqueia, estômago, linfomas, cavidade oral, bexiga e melanoma. Estes são, portanto, os dez tumores mais prevalentes em nossa sociedade.
No homem, a incidência do câncer de próstata é três vezes maior do que o tumor de colo e reto, o segundo mais prevalente. Com estes números alarmantes, temos a obrigação de alertar e buscar reduzir e controlar estes casos cada vez mais frequentes.
Todos os homens, a partir de 40 anos, devem fazer o rastreamento para o câncer de próstata. Isto é crítico para pessoas que possuam história familiar.
A prevenção do câncer de próstata é habitualmente simples e inclui visitas médicas ao clínico ou, se possível, ao urologista, que farão a anamnese e exame clínico bem como solicitarão a dosagem do PSA (antígeno prostático sérico), exame muito sensível e específico de anormalidades prostáticas.
O PSA elevado não é obrigatoriamente indicativo de câncer. Doenças inflamatórias da próstata estão entre os diagnósticos diferenciais mais relevantes quando da elevação dos níveis de PSA. Infelizmente, muitos homens por medo ou preconceito (muitos não aceitam o toque retal, por exemplo) não vão ao médico ou à unidade básica de saúde ou às policlínicas especializadas e, portanto, não fazem as avaliações periódicas que podem evitar grandes problemas no futuro, inclusive a necessidade de tratamentos mais invasivos e/ou mutilantes.
O número de casos de câncer no homem cresce de maneira exponencial a partir dos 40 anos até os 80 anos. Daí a necessidade do rastreamento a partir desta idade. Certamente, o câncer de próstata é responsável por expressivo número de casos nestas faixas etárias.
Dados epidemiológicos mostram que o crescimento de casos de câncer nas mulheres, em nossa sociedade, é mais precoce e mais atenuado quando comparado aos tumores masculinos. O mês de novembro foi escolhido para lembrar os homens de seu compromisso consigo mesmo, com a sua família e com a sociedade.
Tradicionalmente e habitualmente, os homens são muito menos atentos com a sua saúde do que as mulheres. Creio que, pelo fato das mulheres terem o cuidado com os filhos e a família como fatos corriqueiros da vida, elas também são mais cuidadosas consigo mesmo e são protagonistas de ações de prevenção com maior frequência e naturalidade. O “cuidado” parece ser mais natural às mulheres. Os homens precisam aceitar esta oportunidade de vida que a medicina oferece. Medidas simples e baratas podem possibilitar a cura.
É claro que não conseguiremos “zerar” as mortes pelo câncer de próstata. Mas prevenção e diagnóstico precoce podem reduzir de maneira significativa estes números. O câncer de próstata é um tumor potencialmente curável na maioria dos pacientes. O rastreamento no SUS deste câncer é dos mais eficientes tendo em vista a simplicidade e baixos custos destes procedimentos.
Precisamos aproveitar este momento e falar com nossos amigos, conhecidos e parentes que busquem os meios para a prevenção e diagnóstico precoce.
O Novembro Azul, em todo o Brasil, vai tentar lembrar os homens deste compromisso. Sabemos que a pandemia afastou os pacientes das medidas de prevenção. Muita coisa ficou para traz, infelizmente. Mas, temos que recuperar o tempo perdido e tentar minimizar os eventuais prejuízos já existentes.
♦ Ministério da Saúde do Brasil: Estimativa 2018 – Incidência de Câncer no Brasil. 1o. ed. Rio de Janeiro: INCA, 2017.
Carmino Antonio de Souza é professor titular da Unicamp. Foi secretário de saúde do estado de São Paulo na década de 1990 (1993-1994) e da cidade de Campinas entre 2013 e 2020